De regresso da escola, os meninos que vivem no povoado, param a meio do caminho, olhinhos extasiados.
Olha, olha, o arco-íris! Que lindo, que lindo!
Quem o pintará no céu? – pergunta um deles.
Talvez um pássaro. – responde um companheiro.
Talvez um anjo. – arrisca outro.
Talvez a Natureza. – murmura outro ainda.
Sim, lá estão, no céu, as sete cores do arco-íris. Num semicírculo, deslumbram o olhar. É difícil saber onde começa uma e acaba a outra, de tal modo se encontram abraçadas. Trata-se de um segredo que o Sol e a chuva guardam bem guardado…
O VERMELHO: cor das papoilas que salpicam as searas pelo mês de Maio. Das cerejas e dos morangos aninhados nas suas camas de folhas. Do sangue e dos rubis. Mas a quem chamam rubro no crepitar das chamas, púrpura nas vestes dos cardeais e encarnado nas talhadas das melancias.
O LARANJA: cor do pijama que o Sol veste, por vezes, quando vai dormir. Das cenouras, a esconderem o rosto na fresquidão da terra. Das tangerinas e das laranjas de gomos a fazerem roda debaixo da casca. Mas também do coral e dos caranguejos que se arriscam nas redes dos pescadores.
O AMARELO: cor do milho nas maçarocas, ansioso por se transformar em pão. Das ameixas, que gostam que lhes chamem rainhas-cláudias. Da giesta, a enfeitar os dias dos pastores. Dos narcisos, nos alegretes dos quintais. Mas também dos topázios e dos girassóis, altos, de cara redonda.
O VERDE: cor do mar quando está zangado. Do trevo dos prados. Dos lagartos, dos sapos e das rãs. Das avencas, que crescem nos sítios húmidos e discretos. Das palmeiras, das peras e das pinhas novas. Mas também das esmeraldas e da esperança, que nasce todos os dias no coração dos homens.
O AZUL: cor do céu, onde passeiam nuvens que lembram cavalos em galopes sem fim, ou navios que transportam tesoiros. Das miosótis. Dos mirtilos, a oferecerem-se nas árvores quando chega o Verão. Mas também das safiras e dos olhos dos meninos com cabelos de oiro.
O ANIL: cor das alcachofras que despontam nos campos. Das campânulas a treparem pelas paredes das casas. Entre o azul e o lilás, lá o temos nas opalas e nas pinceladas das pétalas das violetas brancas. Mas também nos cambiantes da madrepérola e nas hortênsias, que aguardam a Primavera para florir.
O ROXO: cor das vestes do Senhor nas procissões da Páscoa. Dos jacintos, que emprestam o seu nome às pedras preciosas. Das beringelas, dos gerânios, e dos amores-perfeitos. Mas também das ametistas e da capa dos figos a escorrerem lágrimas de mel por entre as folhas das figueiras.
São as cores do arco-íris, a ligar o céu e a terra, suspensas sobre a folha de papel onde escrevo.
Soledade Martinho Costa
Do livro "Histórias que o Outono me Contou"
(Ed. Publicações Europa-América)
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