
Nesta época do ano, além das andorinhas, outras aves andam na mesma agitação. No mesmo cansaço, na mesma alegria. A construirem os ninhos, a chocarem os ovos, a alimentarem os filhos. São as carriças, os chapins, as lavandiscas, os estorninhos, os pintarroxos, as alvéolas, os verdilhões, os melros, os bicos-de-lacre, as toutinegras, as milheirinhas, os pintasilgos, e muitas, muitas mais. Como as rolas, os noitibós, e as cotovias, que regressaram de países distantes — para onde tornam mal pressentem que o Outono está de volta para se instalar.
Na empena da casa, enquanto a tarde avança, a roseira-rubra abre o veludo de um botão numa rosa encarnada.— A quem ofereces tu essa rosa acabada de abrir? - pergunta-lhe uma borboleta-do-brejo, a bailar nas suas quatro asas.— Ao teu olhar, que reteve a beleza de a descobrir! - responde a roseira-mãe, no perfume que lhe veste a folhagem.
Sim, aqui e além, repousam as casas na paisagem verde. Que verde é a paisagem e o aroma. Umas, meninas traquinas empoleiradas nos montes. Menos destemidas, outras, aconchegadas nas várzeas que as viram nascer. Velhas de pedras de muitos anos. Tantos, que se perdem na memória dos olhos. Na lembrança daqueles que as habitam e que por elas sentem um amor que vem da lonjura do tempo. Casas baixas, caiadas de branco. Gratas por terem vivido tanto e por tantas coisas terem visto. É por isso que as casas sabem sempre muitas histórias. Que guardam dentro de si, como os livros. Alegres umas, tristes outras. Histórias que fazem com que as casas possuam vida própria. E mágica! Construida de muitas vidas e de muitas histórias. Mas a vida das casas também é feita de esperança. Assente no desejo de se manterem intactas e amadas. Em troca, oferecem a dedicação de serem o abrigo, o tecto daqueles que por si são amados. Nada mais pedem. A não ser, ainda, que a saudade, um dia, venha morar no coração dos homens.
Soledade Martinho Costa
Do livro «Histórias que a Primavera me Contou»
Ed. Publicações Europa-América
Foto: Fernando DC Ribeiro
(Contim, Barroso)
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