Inundam-se os olhos
não de rios
não de águas límpidas
serenas
a lavar o vulto morno das manhãs
mas desta terra seca
atormentada
mourejada a lâminas e punhos
e a sonhos desmentidos
mutilados
à luz de esperas
e de esperanças vãs.
Inundam-se os olhos
não de ritos
não de cânticos dolentes
ancestrais
mas deste peso antigo
destes ais
destas paredes caiadas de silêncio
destes passos acros
gastos
lentos
desta calma fingida
coagida
adormecida no torpor dos tempos
ao colo soalheiro dos mendigos.
Inundam-se os olhos
não de risos
não de sombras que bailam pelo chão
mas desta terra ardente
constrangida
anavalhada de choro e de suor
deste espaço
deste reino
desta lida
sofrida
aparada
infligida
rendida ante a imagem
de uma dor maior
e a palavra que tarda e se detém
mais longe
mais calada
mais perdida.
Inundam-se os olhos
desta gente
à espera de um milagre que não vem.
Soledade Martinho Costa
Do livro Poemas do Sol e da Cal
Editorial Presença
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