«Adoração dos Reis Magos», Andrea Mantegna, J. Paul Getty Museum, Los Angeles.
Segundo São Mateus – o único entre São Marcos, São Lucas e São João que narra o episódio dos Magos no Evangelho –, os três Reis Magos terão tido uma conversa com Heródes, que não se repetiu, visto, em sonhos, terem sido avisados para o não tornarem a fazer.
Conforme a tradição, ao chegarem a Jerusalém, os três Reis Magos não hesitaram em perguntar na corte de Heródes pelo recém-nascido Rei dos Judeus. Pergunta que a todos surpreendeu e sobressaltou. Informados pelo próprio Heródes de que o Menino se encontrava em Belém, para lá se dirigiram, levados, de novo, pela estrela que os havia conduzido até à capital de Israel. Estrela que tinha desaparecido e voltado a surgir, para levá-los, agora, até à humilde casa onde, perante um modesto berço, depositaram os seus presentes.
Essa terá sido a conversa a que se refere São Mateus. Quanto ao aviso dos sonhos, apontava para que os Magos «regressassem às suas terras do Oriente, pelo vale e campo dos Pastores, atravessando o rio Jordão, perto da foz, no Mar Morto, de modo a evitar o caminho da capital, pois Heródes tencionava matá-los».
Como se sabe, foi Heródes Antipas, tetrarca da Galileia, quem julgou e condenou Jesus Cristo – que lhe fora mandado para esse fim por Pôncio Pilatos –, embora sabendo que Jesus Cristo não era culpado de crime algum.
Para fazer compreender aos judeus que lhes deixava a responsabilidade pela morte de Jesus, Pilatos mandou vir água, nela lavou as mãos e disse: «Estou inocente da morte desse homem.» Resultando dessa frase a expressão «lavo daí as minhas mãos», sempre que alguém declina responsabilidades face a determinado acto.
E foi por caminho inverso àquele que os levou até Jerusalém, que os três Reis Magos regressaram aos seus países de origem, para depois mais honrarem e glorificarem a Cristo, pregando e transmitindo a sua fé aos respectivos povos.
A LENDA
Quando o imperador do Sacro Império Romano-Germânico Frederico Barbaruiva destruiu Milão em 1154, os seus habitantes encontraram entre as ruínas da Igreja de Santo Eustórgio «três urnas rodeadas por um círculo de oiro, contendo três corpos perfeitamente conservados».
Logo o arcebispo de Colónia os reconheceu como sendo os dos três Reis Magos, cujos restos mortais haviam sido reunidos na Catedral de Santa Sofia, em Constantinopla, por empenho de Santa Helena, mãe de Constantino, o Grande, imperador que ajudou a consolidar o Cristianismo como religião do Império Romano, tendo mandado publicar, em 313, o Edicto de Milão, a favor dos seguidores da religião nova.
Os corpos terão sido, posteriormente, retirados da Catedral e concedidos, como dádiva, a Eustórgio, bispo de Milão, em cuja igreja, no meio de destroços foram, então, encontrados.
Transferidos de Milão para Colónia, diz-se que uma das vacas que puxava o carro que transportava as preciosas urnas, foi atacada e morta por um lobo durante o trajecto. Evocado Santo Eustórgio, logo a fera, docilmente, tomou o lugar do animal morto, permitindo, assim, a continuação da viagem. Afirma-se ainda que «por onde o cortejo passava, logo ali aconteciam milagres».
Soledade Martinho Costa
Relíquias dos Três Reis Magos, Catedral de Colónia.