
Sendo São Pedro o padroeiro de Alverca do Ribatejo, com a sua antiga e lindíssima igreja dedicada ao orago da terra, as festividades em sua honra sempre se efectuaram, em parâmetros modestos, é certo, mas simbólicos na homenagem prestada ao santo apóstolo.
No final dos anos cinquenta, isso, sim, a festa foi de arromba. Espectacular, como se diz hoje. Alverca da «parte nova» enfeitou-se condignamente. Ruas iluminadas, barraquinhas de comes e bebes, carrosséis, quermesses, «salão de chá», bandas filarmónicas a tocarem em pequenos coretos, bailaricos, fogo de artifício, folclore, procissão e tudo o mais que as festas deste tipo costumam comportar.
Durante mais de uma semana a afluência de pessoas enchia as ruas, principalmente à noite, e o entusiasmo dos alverquenses juntava-se ao das gentes vindas de Vila Franca de Xira, Alhandra, Sobralinho, Póvoa de Santa Iria e outras localidades mais perto ou mais afastadas da vila, hoje cidade. No decorrer dos anos não se repetiram festejos como esses.
Há dia, falando com o presidente da Junta de Freguesia, soube da novidade: é intenção da Junta voltar a realizar, anualmente, idênticos festejos. Propósitos turísticos em Alverca do Ribatejo? Porque não?! Contamos já com o «Museu do Ar», o «Museu do Queijo» e o «Corso Carnavalesco Infantil do CEBI», a desfilar pelas ruas, subordinado a um tema diferente em cada ano (este ano lembrando Charles Darwin). Composto por centenas de crianças, professores, educadoras e pessoal auxiliar, todos participam na festa, que vai sendo conhecida e leva até Alverca do Ribatejo um mar de gente para assistir à passagem do corso – ao que parece, o único nestes moldes que se realiza no nosso país.
Com o apoio da paróquia, São Pedro foi festejado até há poucos anos atrás no adro da sua igreja: quermesse, leilão de bolos, música, bailarico, um artista convidado e muitos, muitos foguetes e morteiros. Actualmente, esses festejos deram lugar às celebrações das «Festas da Cidade», a decorrerem agora com maior relevância durante todo o mês de Junho no chamado recinto da feira.
Em 1965 saiu pela primeira vez a «Marcha de Alverca», a percorrer as ruas da vila, com um local escolhido para exibirem a respectiva coreografia. O grande impulsionador desta marcha, de seu nome Manuel Carola (já falecido) era ao mesmo tempo o coreógrafo, o ensaiador e o autor da música e da letra que os marchantes entoavam, sempre diferente em cada ano. Era ele ainda que acompanhava a marcha de modo a orientá-la. Graças a si, Alverca do Ribatejo conta hoje com várias marchas cuja actuação decorre nas noites de Santo António, de São João e de São Pedro, a encerrar as «Festas da Cidade».
Seguindo, talvez, as pisadas do avô, um dos netos de Manuel Carola é o conhecido João Tiago, elemento dos «Milénio».
Tudo isto serve para contar um pequeno episódio passado, exactamente, com uma das crianças que frequentava o CEBI. Foi o seu fundador e director, José Álvaro Vidal (que também já não se encontra entre nós), meu pessoal amigo e grande amigo das crianças, para elas construindo, «pedra a pedra», à custa da sua própria saúde, uma pequena/grande cidade dentro da cidade de Alverca do Ribatejo (o CECI), quem me contou a história, a mostrar como as crianças são mestres a aliar a ingenuidade e a graça para nos fazerem sorrir.
Um menino de cinco anos diz à mãe:
- Mãe, quero pedir-te uma coisa.
- Uma coisa? E o que é?
- Quero pedir-te uma nota grande.
- E para que queres tu uma nota grande?
- É para eu comprar uma marcha.
- Mas as marchas não estão à venda, filho. Não se podem comprar.
Resposta da criança:
- Ai, isso é que podem. Podem, porque o Carola tem uma!
Este diálogo conta já com alguns anitos. O que nunca imaginei é que o Manuel Carola tinha comprado a marcha que passava na minha rua!
Soledade Martinho Costa
São Pedro