Hoje que a tempestade
Parece ter passado
E deixado o firmamento
Com o azul de outrora
Que as nuvens de um cinzento
Mais carregado
Abandonaram o céu desta incerteza
Talvez o tempo me permita agora
Respirar outros aromas
Colher uma flor na aridez dos montes
Deixar que ao meu encontro venha a paz
Que faz sonhar caminhos, metas, horizontes.
Dizer que se é feliz
É utopia
Pior. Dizer que se é feliz
É um pecado.
Não o direi jamais
Jamais repetirei essa loucura.
Em silêncio de monja
Em clausura
Impõe-se guardar recato
Do que de bom o destino nos traçou.
A vida não aceita
Que se confesse
De forma aberta e pura
O que nos vai na alma
O que alcançámos e veio ao nosso encontro
Para nos dar um pouco de ventura.
Soledade Martinho Costa
De garatujando a 18 de Junho de 2009 às 11:29
Começarei por referir a imagem, muito bela, que nos instila na alma um sentimento de tranquilidade e de paz tão de harmonia com a intenção do poema.
Poema que revela sentida amargura, mas também descompressão baseada na esperança num melhor porvir:
-"Talvez o tempo me permita agora
Respirar outros aromas".
Frustração e arrependimento, levam a um firme propósito de recolhimento e de não repetir o erro de, num abrir de alma, exteriorizar sentimentos, o que acabou por conduzir a uma situação de confessada infelicidade
"A vida não aceita
Que se confesse
De forma aberta e pura
O que nos vai na alma"
Contudo, no íntimo, uma dúvida - talvez ainda angustiada - persiste, expressa no próprio título deste belo poema: "TALVEZ"
Poema intimista, revelador duma delicada sensibilidade que só uma Poeta de eleição como a SOLEDADE, poderia escrever.
Parabéns
Abraço amigo de
Carlos Ferreira
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