Mais uma vez vou falar da Teresinha. Das “coisas” da Teresinha.
Já referi aqui dois dos termos por ela usados frequentemente: «vou mostrar-me ao espelho» em vez de «vou ver-me ao espelho», e a palavra «atchingar», a substituir o vocábulo «espirrar».
A Teresinha possui uma certa propensão para inventar palavras. Só ainda não sabe que se trata de neologismos, porque ninguém lhe disse e eu não tive ainda a oportunidade de lhe explicar.
Desde que começou a falar com mais desenvoltura, começaram também a surgir no seu vocabulário palavras novas, que foram motivo de surpresa e graça para toda a família. Por brincadeira, até costumamos imitar essas palavras: «Já atchinguei!», é uma delas.
Mas, há mais. Quando todos dizemos «lamber» – são pouquíssimos os sinónimos para esta palavra e nem todos condizentes – a Teresinha, desde muito cedo, optou por dizer «linguar». Ora, «linguar», quanto a mim, tem muito mais sentido, porque deriva da palavra «língua», enquanto o vocábulo «lamber», embora nos indique que a nossa língua percorre alguma coisa passando sobre ela, não me parece tão conseguida no aspecto linguístico. Temos que dar razão e mérito à «inovação» da Teresinha.
- Teresa, olha… – Chama o irmão.
- Agora não posso. Estou a «linguar» a colher do mel!
- Mãe, posso «linguar» o chocolate do bolo?
- Gosto tanto de «linguar» este “nogat”!
Isto, para não falar nos crepes. «Linguar» o prato depois de ter comido o crepe, não sendo uma coisa elegante nem bonita de se fazer, é o remate para dar por terminada uma “operação” a todos os níveis capaz de absorver a Teresinha por largos minutos. O prato fica limpo como se tivesse saído da máquina de lavar loiça!
Mas a Teresinha não é uma menina gulosa. Raramente pede um bolo. Rebuçados também não, «fazem mal aos dentes, e o açúcar não é nada bom para a saúde», e não gosta de arroz-doce. – Ao contrário do irmão, que não aprecia doces, mas não dispensa a tacinha de arroz-doce, em casa ou no restaurante.
A Teresinha gosta, isso sim, de toda a espécie de frutos: «Esta saladinha de fruta está uma delícia!». E gosta de nozes e amêndoas, mas, principalmente, de pinhões.
Voltando aos doces, há uma coisa que a Teresinha «lingua» primorosamente bem: são os gelados. Quando está a «linguar» um gelado não há nada nem ninguém que a faça distrair dessa função gustativa, tão fresca e tão do seu agrado.
Como o acordo ortográfico parece ter ido mesmo por diante – o que, sinceramente, lamento –, vou propor a introdução dos neologismos da Teresinha nos novos dicionários de Língua Portuguesa. Os “inovadores” são bem capazes de aceitar. Não tenho qualquer dúvida quanto a isso!
Soledade Martinho Costa
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