A chegada da Primavera lembra aos homens e às mulheres que as tarefas esperam, para serem cumpridas. Que a terra não cessa de pedir o seu amanho e os animais a atenção de que necessitam. É preciso prosseguir o trabalho nos campos. Porque os homens e as mulheres amam e respeitam a terra que cultivam. Conhecem-lhe os segredos. Satisfazem-lhe os pedidos. Deslumbram-se a cada nova sementeira.
Assim, lá os temos, a fazer a monda dos cereais de Inverno. A recolher as favas e as ervilhas. E as batatas e as cebolas temporãs. A semear nas hortas os rábanos, os pimentos, as cenouras e o feijão. E a salsa, os coentros e o tomilho.
A plantar nos canteiros os gladíolos, as begónias, os malmequeres, os goivos e os girassóis. E a enxertar o azevinho, os lilases e as roseiras.
Num trabalho constante, homens e mulheres retiram os abrigos às cerejeiras, já sem receio das geadas. Engarrafam os vinhos nas adegas. Fazem cavas junto ao tronco das árvores para lhes dar a frescura apetecida.
Quanto aos animais, também estes aguardam os seus cuidados. Por isso, vigiam a postura das galinhas na capoeira. Dão alimento verde às vacas nos currais. Engordam os bois e os leitões. Tratam dos coelhos, dos perus, dos patos e dos pombos. Levam ao pasto as cabras e as ovelhas. Começam a tosquia do gado, porque o calor já se faz anunciar.
Numa tarefa infinda, que começa com os alvores da madrugada e só termina à tardinha, quando o Sol se põe e o céu anuncia que a noite não tarda a chegar.
Soledade Martinho Costa
Do livro “Histórias que a Primavera me Contou”
Ed. Publicações Europa-América