Associado à doçaria tradicional da Páscoa, o ovo – símbolo da fecundidade e da abundância – representará a eventual homenagem à nidificação, verificada nesta época do ano, sem deixar de personificar o começo da vida: a casca – a Terra; a parte interior – o ar; a clara – a água e a gema – o fogo. Num sentido mais religioso, poderá estar relacionado com «Cristo que venceu a Morte saindo do túmulo».
Proibidos no século IV pela Igreja Católica durante a Quaresma – proibição que se manteve ao longo da Idade Média –, eram benzidos pelos papas na Sexta-Feira de Paixão e vendidos no Sábado Santo. Segundo a tradição, esta proibição terá levado as pessoas, sem saber o que fazer com eles, a utilizá-los na confecção de bolos destinados a serem oferecidos às crianças na quadra pascal. Assim terá nascido o folar.
Folar de Páscoa.
Em várias localidades do nosso país, durante o «compasso» ou «visita pascal», costumavam ser oferecidos ao padre meia dúzia ou mais de ovos, de acordo com as possibilidades do ofertante, a que se dava o nome de «ofertas brancas». O padre oferecia, por sua vez, alguns desses ovos aos acompanhantes ou às crianças que o seguiam, constituindo os restantes a sua parte.
Em documentos escritos, referentes aos arredores de Coimbra, faz-se menção a «ser o próprio prior, no Domingo de Páscoa, acompanhado dos seus raçoeiros (aqueles que recebem), a pedir ovos aos paroquianos, levando uma cruz e água benta». Nos arredores de Braga, após o «compasso», organizava-se uma procissão conhecida por Procissão dos Ovos.
A primeira referência aos ovos pintados, lê-se na obra que relata a vida de São Luís, rei de França, quando o rei e os seus cavaleiros, cativos em 1250 na Cruzada do Egipto, foram libertos pelos seus inimigos, que ofereceram ao rei, além de carne e queijo, ovos cozidos, com a casca pintada de diversas cores, para testemunhar a sua honra em oferecê-los, uma vez que o monarca ganhara um prestígio incomparável entre os muçulmanos, que lhe chamavam «o Sultão Justo».
No século XVIII surgiu a moda de os colorir e decorar com palavras ou desenhos, costume que terá tido origem em França, Alemanha e Suiça.
Para isso, cozem-se os ovos, adoptando, para lhes tingir a casca, o processo tradicional da infusão feita com casca de cebola ou um pouco de vinagre para lhes dar um tom mais escuro.
A beterraba utiliza-se para a cor vermelha.
Erva-Moleirinha
O sumo de espinafre e certas plantas como o trevo, a hera e a erva-moleirinha para o verde.
As flores como o lírio roxo para o anil
Açafrão
A flor do tojo, o açafrão, a cenoura ou as cascas de laranja ou de limão para o amarelo.
Olmo
As cascas de olmo, de nozes verdes ou o café para o castanho.
Processos de tinturaria artesanal que, aos poucos, se foram perdendo, para dar lugar às tintas e anilinas próprias para esse efeito.
Em casos especiais, em que a imaginação pessoal e o gosto de cada um se sobrepõem à tradição, os ovos podem apresentar-se na sua cor natural, mas pintados com motivos diversos ou ainda decorados com colagens e certos enfeites.
Os ovos pintados de vermelho – cor do fogo e do sangue e símbolo do amor e do martírio, que incita o amor a Deus – representam, conforme a tradição, «Cristo Ressuscitado, vestido de branco, com um manto vermelho sobre os ombros».
Igreja de São Miguel de Travassô, Águeda
Outrora, os ovos da Páscoa pintados eram dependurados, acreditando-se que «tinham a virtude de livrar as pessoas da mordidela das cobras». Sob a influência de hábitos vindos de outros países, começa a ser habitual entre nós o costume de se esconderem os ovos pintados ou de chocolate – os «coelhinhos da Páscoa» – em casa ou no jardim, para que as crianças os possam procurar.
Soledade Martinho Costa
In “Festas e Tradições Portuguesas”,Vol.III
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