Palmito
A missa de domingo de Ramos – durante a qual se faz referência à Paixão e Morte de Jesus – foi chamada, em tempos, Missa Seca. Segundo uns, missa sem música (órgão e cânticos), na versão de outros, celebração em que não há comunhão (consagração do pão e do vinho).
Benção dos ramos, igreja de São Francisco, Armação de Pêra, Algarve
Uma das tradições deste dia, das mais populares entre nós, consiste na «bênção dos ramos» ou dos «palmitos», prática comum a todos os povos católicos, relacionada com os vários aspectos das comemorações da quadra pascal.
Entrada de Jesus Cristo em Jerusalém
Ao dar início à Semana Santa, neste domingo se recorda e reconstitui um dos episódios mais marcantes da vida de Jesus Cristo: a sua entrada messiânica em Jerusalém para celebrar a Páscoa Judaica, tendo sido recebido, conforme se lê no Evangelho, «com gritos de alegria e o maior entusiasmo da multidão», que buscou folhas de palmeira para com elas O aclamarem.
Procissão das Palmas, Astorga, León, Espanha
Atados, por vezes, com fitas de cores e compostos por folhas de palmeira, alecrim, oliveira, loureiro, rosmaninho e mimosas, os ramos, benzidos antes da missa (ou de véspera, na missa da tarde), guardam-se depois em casa durante todo o ano. Nas vilas e aldeias continuam a ser pendurados na cozinha ou à cabeceira da cama para «proteger dos maus ares». É também costume colocar-se o ramo na sala, na altura da visita pascal (o «compasso»), ao lado de uma imagem religiosa ou pendente de um crucifixo.
Procissão dos Ramos, Sardoal, Santarém
Na Beira Baixa leva-se à Igreja, juntamente com o ramo, um pão para ser benzido antes da missa, conferindo-lhe a crença popular «poderes divinos e profilácticos». Em diversas localidades eram os «mordomos» que ofereciam ao padre um «palmito», sempre maior e mais enfeitado do que os outros, que o pároco, por sua vez, oferecia, simbolicamente, depositando-o sobre o altar.
Outras vezes é colocado à porta ou no meio da igreja um enorme ramo de oliveira, enfeitado com fitas, flores e alecrim, que o padre benze na ocasião em que procede à bênção dos «palmitos».
Procissão dos Ramos, Póvoa de Varzim
Havia ainda o preceito de utilizar-se um ramo de oliveira, ornamentado apenas com um laço de seda, entregue ao pároco pelo sacristão ou pelas «mordomas». Após benzido o ramo era dividido em pequenos ramos e distribuído aos fiéis pelo padre, prosseguindo o ritual com os devotos a desfolharem, ao redor da igreja, um galho do ramo oferecido, rezando um pai-nosso e uma ave-maria por cada uma das suas folhinhas. Prática caída em desuso, continua, mesmo assim, a verificar-se em determinadas localidades.
Procissão dos Ramos, Zaragosa
O que sobrava deste ramo, o grande ramo de oliveira, o próprio ramo do padre e as palmas que enfeitavam a igreja eram guardadas nas sacristias até à quarta-feira de Cinzas do ano seguinte. Ainda hoje as palmas e os ramos que ficam nas igrejas são queimados neste dia, servindo as suas cinzas para impor o Sinal-da-Cruz na fronte dos fiéis que comparecem à Missa das Cinzas.
Procissão dos Ramos, Monchique, Algarve
Em Nisa, além das palmas, leva-se à igreja um ramo de alecrim e oliveira (antigamente enfeitado com pequeninas flores roxas), a que se dá o nome de «vassouras», por apresentarem essa configuração. Depois de benzidas, as «vassouras» – que se vendem neste dia pelas ruas – são penduradas na sala de entrada das casas, sempre «em lugar bem à vista».
Papa Bento XVI, procissão de Domingo de Ramos, Praça de São Pedro, Vaticano
Em diversas aldeias da Beira Alta, o ramo é feito de loureiro e oliveira e enfeitado com alecrim, camélias, laranjas, figos secos, doces, bolos, etc., chegando a atingir a altura da pessoa que o transporta. Do Minho ao Algarve continua também a manter-se o uso de queimar algumas das folhas do ramo bento «para afastar as grandes trovoadas». Com igual propósito, colocam-se raminhos de oliveira sobre as portas e janelas ou dá-se a comer ao gado um pedacinho do pão bento.
Imposição das Cinzas, Arquidiocese de São Paulo, Brasil
Supostamente a representar resquícios dos sacrifícios humanos praticados no antigo Egipto, a «cerimónia das cinzas» remonta aos primeiros séculos da era cristã, inicialmente para admitir os crentes na comunidade, enquanto no século X d. C. toda a congregação católica romana, pessoas fora dela e os próprios sacerdotes passaram a tomar parte no ritual religioso da imposição das cinzas.
Soledade Martinho Costa
In “Festas e Tradições Portuguesas”, Vol. III,
Ed. Círculo de Leitores