Ao longo dos séculos, Alverca do Ribatejo foi ampliando e enriquecendo o seu património histórico e religioso com a construção de imóveis de grande interesse e importância para a comunidade. Deles se salienta a Igreja da Misericórdia e Hospital, o pelourinho, a Casa da Câmara – logo depois da reconstrução da Igreja Matriz de São Pedro, após o terramoto. Já no século XVIII, existiam, entre outros (e alguns ainda existem) o Convento das Carmelitas de São Romão, a capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso, a ermida de Nossa Senhora da Piedade do Adarse, a ermida de São Clemente, em Arcena, a capela de São Marcos na Calhandriz e a capela de Nossa Senhora da Graça, na Quinta da Proverba (perto de À-dos-Potes). Nesta capela, mandada edificar em 1644 pelos seus proprietário, celebrava-se missa diária. Por essa época era usual as quintas com capela, pertencentes a pessoas abastadas, possuírem capelão privativo. A capela ainda hoje existe, conquanto à mercê de outro uso, que não aquele para que foi destinado.
Alverca do Ribatejo, contava também com algumas fontes de água potável, a darem a beber da sua água à população, visto, por esses anos, estar ainda longe o sonho da água canalizada. A mais importante era a Fonte do Choupal, onde os habitantes da vila se abasteciam. A população a residir um pouco mais acima, utilizava a Fonte Velha de São Romão (Bom Sucesso), enquanto a Fonte Santa servia os locatários de À-dos-Potes.
Em 1855 o concelho de Alverca é extinto, passando a integrar o de Vila Franca de Xira. No ano seguinte (1856), Alverca faz parte das povoações pioneiras a ser servida pelos caminhos-de-ferro. Inaugurada por D. Pedro V, a primeira linha ferroviária de Santa Apolónia ao Carregado, passava por Xabregas, Olivais, Póvoa, Alverca, Vila Franca de Xira e Castanheira. Em 1892, é inaugurada na Quinta da Figueira (Sobralinho), a primeira fábrica têxtil (empregando 74 operários), tornando-se a nossa localidade, igualmente pioneira na industrialização concelhia. Com esta implementação, verificou-se um significativo aumento da população e um maior progresso da região.
Com grande regularidade, Alverca do Ribatejo vai crescendo, quer em termos industriais, comerciais e populacionais. Em 1918 é criado o Parque de Material Aeronáutico, que passou, em 1928 a denominar-se Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, a ocupar o espaço entre a via-férrea e o Tejo. Dos 150 trabalhadores iniciais, em 1918, contavam-se 1025 em 1958. Outra mais-valia para Alverca do Ribatejo foi a instalação, em 1957, à saída da vila para Lisboa, da empresa de Construções Metalomecânicas MAGUE. Especializada, sobretudo, no projecto e fabrico de centrais termoeléctricas e aparelhos de elevação (guindastes, pontes e pórticos rolantes), com a particularidade de parte da sua produção ser destinada ao estrangeiro. Empresa de referência nacional e internacional, com grande impacto na vida social e económica da região, no local onde existiu a antiga MAGUE, encerrada em 1994, encontra-se hoje a urbanização que dá pelo nome de «Malva Rosa». Alverca do Ribatejo é elevada à categoria de cidade em 1990.
Soledade Martinho Costa
(Agosto/2019)
Caracterizada pela existência de herdades, quintas e casais, a produtividade económica de Alverca do Ribatejo, nos seus primórdios, dividia-se pela agricultura, a criação de gado, a pesca, o sal, os lagares de azeite e os fornos de cal.
Terra essencialmente agrária, fértil em água, as suas produtivas terras e grandes quintas resultavam na riqueza de múltiplos produtos agrícolas. Nas diferentes épocas do ano, produzia-se toda a espécie de frutos, com destaque para a laranja e a cereja, embora as árvores de maior predominância fossem o pinheiro e a oliveira, de onde se extraía azeite de óptima qualidade. O mesmo acontecia com a cultura da vinha.
Por esses anos (século XVIII e século XIX), a povoação contava com mais de 20 lagares de azeite e 30 lagares de vinho. Os lagares de azeite, alguns deles eram edificados junto às ribeiras e aos rios, casos da Verdelha e do rio Crós-Cós. De acordo com fontes históricas, dos últimos lagares de azeite a funcionar em Alverca, citam-se um lagar no Castelo (que serviu até há poucos anos de oficina de reparação de automóveis) e outro na Quinta do Galvão (hoje uma urbanização). Existe ainda uma fotografia, datada dos anos 60, que mostra um lagar de azeite situado na Formigueira. O último lagar de vinho, que funcionou até ao século XX, ficava no local conhecido por «casa do ferrador» (ao lado do Museu Municipal Núcleo de Alverca), prédio rústico, com lagar e adega, construído em 1775 (sobre o qual fiz referência num outro texto).
Na criação de gado, prevalecia o porco, as vacas leiteiras, as cabras e as ovelhas, revertendo grande parte do leite para o fabrico de queijos. Nos últimos anos do século XIX, o seu fabrico era quase exclusivo do lugar de Arcena, onde abundavam os grandes rebanhos, aproveitando os pastores dos seus riquíssimos pastos. Muito conhecidos e apreciados por quase todo o país, os queijos de Alverca do Ribatejo, em tempos mais recentes, chegavam a ser distribuídos, diariamente, pelos estabelecimentos da especialidade, em toda a cidade de Lisboa.
Também a extracção do sal, nas salinas, junto ao Tejo, constituía relevante importância, contribuindo, em grande parte, para a economia da terra. No Verão, chegavam a trabalhar nas salinas dezenas de salineiros, com a extracção do sal a atingir muitas toneladas por época. De excelente qualidade, era utilizado na alimentação e na indústria. A extracção efectuava-se em duas marinhas: na Marinha da Quintela (Forte da Casa) e na Marinha da Quinta das Drogas (Alverca do Ribatejo). Ao longo do tempo, com o desenvolvimento do Campo de Aviação e a fixação de novas indústrias, as salinas foram deixando de ter o valor e a importância de outros tempos.
Os fornos de cal (obtida pela calcinação de pedras a elevadas temperaturas), tinham também grande importância por essa época, quer para servir na construção (caiação), quer na agricultura (calda bordalesa: mistura de cal com sulfato de cobre, processo de curar a vinha contra o míldio e o oídio). Fornos que, para funcionar, necessitavam de considerável quantidade de mato. Foi quando um despacho real proíbe a limpeza das matas para protecção das caçadas. Devido à contestação, por motivos de carência, a proibição real é levantada, tendo em conta o prejuízo da cessação da produção necessária a todo o país e mesmo a Lisboa. Na vida social e económica, os «caeiros», na prestação da sua profissão, ombreavam com os carpinteiros, serradores e pedreiros, entre outros trabalhadores da construção civil. Segundo parece, os fornos de cal eram abundantes na nossa região, chegando a contar-se mais de 30. Em 1929, embora se desconheça hoje a sua localização, encontravam-se ainda em funcionamento 3 fornos de cal em Alverca do Ribatejo. Refira-se a existência, há uns anos, das ruínas de um forno situado em Arcena (zona do Castelo Picão).
Soledade Martinho Costa
«Nos tempos primitivos de Alverca do Ribatejo, os vestígios a que se tem acesso, e que acusam a presença humana na região, foram encontrados nas formações geográficas fluviais, cujo ponto mais elevado se situa na antiga Quinta do Pinheiro. Constituem-se por elementos de pedra lascada, a confirmar a ocupação dos terrenos junto do Tejo por grupos humanos, que deambulavam por esta zona, em busca de caça e de pesca, recolhendo, também, tudo o que a Natureza lhes punha à disposição.» Nas terras da Quinta do Pinheiro, localizada perto do Adarce (onde se situa agora uma zona industrial), ainda hoje pode ver-se o seu edifício solarengo, setecentista, com uma pequena capela,
Na época romana, Alverca, junto ao Tejo, foi local de concentração dos seus habitantes, por usufruir de um ponto de convergência de duas vias, uma que seguia o vale de Vialonga, pelo caminho mais favorecido de acesso a Lisboa (Olisipo), a outra, a contornar o rio na direcção da actual Póvoa de Santa Iria. Segundo os escritos, diversos achados arqueológicos constituem a prova de ter havido aqui, por essa época, «um povoado rico, com habitações revestidas a mármore e chão de mosaicos».
Ainda de acordo com os historiadores, é na Idade Média, após passar à ocupação Islâmica, que surge o nome de Alverca, a resultar do topónimo «Albirca» ou «Alborca» (que significa terra de muita água, alagadiça). Alverca, terá sido, pois, fundada pelos árabes e por eles desenvolvida, no final do século IX ou inícios do século X. O Tejo foi importante para esse progressivo desenvolvimento, sobretudo pela localização dos seus três portos, na confluência de igual número de esteiros (braços estreitos do rio que se estendiam pela terra dentro), pelos quais se fazia a ligação de pessoas e mercadorias. Certa também é a ocupação cristã durante a Reconquista.
A parte antiga de Alverca do Ribatejo, (nesses anos vila condado), corresponde à zona alta da cidade e seu sopé, a fazer parte do núcleo primitivo medieval, enquanto a sua ocupação, na parte da sua zona baixa, teve início na primeira metade do século XX. «Não se conhecendo foral, apenas é conhecida a sua carta de confirmação por D. Pedro I, em 1357.»
«O Foral é uma fonte importante para o estudo da formação dos concelhos medievais, servindo para confirmar o poder estabelecido e, sobretudo, para incutir na comunidade a existência de um poder maior que aquele constituído pelos povos». Mas Alverca nunca teve Foral, embora, até hoje, por uma questão histórica, tivesse sido incessante a sua procura. Por exemplo: «Em relação ao Foral supostamente doado por D. Afonso Henriques a Alverca, não se encontra qualquer referência à povoação. […] Deste modo, em vista de tudo quanto se apurou, pode afastar-se de forma concludente, a ideia da existência de um Foral doado por D. Afonso Henriques a Alverca. Apesar do desaparecimento de inúmeros documentos ao longo dos séculos, é difícil acreditar terem-se perdido três exemplares do mesmo Foral. E, mesmo que tal tivesse acontecido, teria de haver uma referência a tal diploma a mais que não fosse no índice dos Forais.»
Uma edição de 1825 da Torre do Tombo cita ser: «…necessário que ficasse hum dos três exemplares de cada um dos Forais que se expedião […]… um devia ficar na posse do senhor donatário – no caso de Alverca devia ser entregue ao Provedor das Capelas de D. Afonso IV (das quais num outro texto aqui publicado dei a respectiva explicação) – […], outro deveria ficar guardado na Câmara.»
Pois, mas a verdade é que Alverca do Ribatejo continua sem Foral. Será ainda preciso?
Soledade Martinho Costa
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