Ocorre sete dias depois da Páscoa, correspondendo ao domingo seguinte ao domingo de Páscoa, também denominado Dia da Misericórdia de Deus, oitava da Páscoa ou Quasímodo. Estas duas últimas designações, embora ainda se usem, eram mais utilizadas antigamente, celebrando-se a oitava noutras liturgias importantes da Igreja, prática caída em desuso quando da reforma do calendário religioso após o Concílio do Vaticano II.
A Pascoela simboliza o prolongamento do próprio domingo de Páscoa, numa atitude festiva da Igreja e dos fiéis, podendo dizer-se que representa uma espécie de diminutivo da palavra Páscoa. Recorde-se que o baptismo dos primeiros Cristãos adultos ocorria durante a Vigília Pascal, ritual que continua a manter-se, sendo a quadra da Páscoa a preferida desde os primórdios da religião cristã para se efectuarem os baptismos dos catecúmenos. Daí, chamar-se também – conquanto não já oficialmente – ao domingo de Pascoela o domingo In Albis (domingo branco), devido ao facto dos catecúmenos utilizarem (como hoje) vestimentas brancas no acto do baptismo, celebrado depois, festivamente, por toda a semana que decorria desde o domingo de Páscoa ao domingo de Pascoela.
Nos dias actuais, à semelhança de outrora, os baptismos continuam a realizar-se por toda a semana que medeia estes dois domingos, embora, por tempos idos, apenas nesta época do ano a Igreja procedesse à imposição do baptismo. Hoje já assim não é, mas continua a verificar-se a preferência da quadra pascal para se efectuar o baptismo, sobretudo das crianças.
Na tradição popular, é durante a celebração da missa do Senhor no domingo de Pascoela – quando esta se realiza às três horas da tarde em ponto – que, «ao pedir-se uma graça, ela será atendida».
Soledade Martinho Costa
Do livro «Festas e Tradições Portuguesas», Vol. III
Ed. Círculo de Leitores
Tela: «Baptismo de Santo Agostinho», Bento Coelho da Silveira, Igreja de São João Baptista, Alhandra (V.F. Xira)
Diz-se da solenidade religiosa que dá início à Vigília Pascal, quando a igreja, até aí mergulhada na escuridão, se enche progressivamente de luz, irradiada, primeiro, pela chama do círio pascal, e, depois, aos poucos, pela luz das velas dos fiéis, acesas entre si a partir da chama primeira.
A luz assim irradiada – ou, mais exactamente, a chama do círio pascal –, rompendo as trevas e inundando por completo o templo de claridade, simboliza Cristo Ressuscitado, constituindo um dos momentos principais da noite de Vigília de Sábado Maior.
A cerimónia tem lugar no final da tarde ou no começo da noite de Sábado Santo, à entrada da igreja, com o atear de algumas brasas colocadas num fogareiro. É nesta chama que o padre acende o círio pascal, abençoando, seguidamente, o «lume novo».
Com o círio aceso, o celebrante procede depois à bênção dos cinco grãos de incenso, que coloca, com a ajuda de cinco pequeninos pregos, no círio pascal, representando cada um deles as «cinco chagas de Cristo, cujo perfume se difundiu pelo Mundo». Em algumas paróquias, este significativo cerimonial deixou de realizar-se, embora noutras, continue a efectuar-se – caso de Fátima, onde sempre se cumpre.
Enquanto o padre benze os grãos, o acólito deita no turíbulo – vaso suspenso por correntes, destinado a queimar o incenso – dois carvões bentos, juntamente com incenso, e faz três aspersões de água benta sobre os grãos e sobre a chama do «lume novo».
Após a consumação deste ritual, o pároco e os acompanhantes seguem em cortejo até à capela-mor, fazendo no percurso três paragens, nas quais o celebrante pronuncia, em honra da luz, o Lúmen Christie (Luz de Cristo), sempre em crescendo, acabando quase em falsete, enquanto os fiéis respondem Deo Gratia (graças a Deus) a terminar a «bênção do lume novo» – cerimónia já conhecida no século IV –, e após algumas orações do missal, o pároco coloca o círio na coluna, ou peanha, que lhe está reservada, do lado esquerdo do altar, junto do Evangelho, para ser aceso em todas as cerimónias realizadas até ao Pentecostes. A partir dessa data será transferido para o baptistério, ali se mantendo até à Vigília Pascal do ano seguinte.
Outrora acendia-se o círio pascal ao longo do ano, para servir no acto baptismal. Era na sua chama que os pais das crianças acendiam a «vela do baptismo» ou seja, «o primeiro lume» – simbolizando a «chama da fé».
O grande círio pascal, devido ao seu volume e densidade, chega a durar vários anos. Além dos pregos de incenso, ostenta uma cruz (em alusão ao sofrimento de Cristo), a designação do ano em curso, a lembrar que «Jesus é o Senhor do tempo e da eternidade», e as letras do alfabeto grego A (alfa) e O (omega) – expressando o «princípio» e o «fim».
Tal como a luz, a água representa um dos principais elementos glorificados na noite da Vigília Pascal. A cerimónia da sua bênção efectua-se imediatamente após a «bênção do lume novo», sendo realizada com idêntica solenidade. Louva-se, assim, a importância da água desde o princípio do percurso bíblico, como factor basilar do baptismo e símbolo de purificação cristã. Ao «lavar do corpo e do espírito humano todo o pecado», com ela iniciam os crentes, a partir do acto baptismal, o «caminho da fé reforçada em Cristo e nos dogmas da Igreja Católica».
O rito da «bênção da água» decorre quando o celebrante, empunhando de novo o círio pascal, e seguido dos fiéis, se dirige à pia baptismal, repleta de água, que servirá, depois da bênção e durante o ano inteiro, à imposição do baptismo. Nesta ocasião, em certos lugares, é costume os fiéis encherem com ela pequenos recipientes que levam para casa. Com esta água enchem-se também as pias da água benta, onde se molha a ponta dos dedos para fazer o Sinal-da-Cruz, gesto que simboliza «a lembrança do baptismo», e que serve, segundo o povo, para «afugentar o demónio quando se entra nas igrejas».
Em tempos não muito recuados, na cerimónia da «bênção da água», o celebrante mergulhava nela a extremidade do círio pascal, retirava-a, voltava a mergulhá-la mais profundamente, retirava-a de novo, e tornava a mergulhá-la na pia baptismal até ao fundo, significando este ritual «a Morte e a Ressurreição de Cristo».
Depois disto, os fiéis eram aspergidos com a água já benta, enquanto o sacerdote terminava a bênção lançando em cruz, na água, o «santo óleo» ou «óleo sagrado» – azeite benzido pelo bispo na Quinta-Feira Santa –, espalhando-o sobre a água com a mão.
Enquanto decorre a Missa da Vigília Pascal, celebra-se também, embora hoje menos do que antigamente, o baptismo dos catecúmenos, que frequentaram a catequese e se instruíram e prepararam para receber o baptismo, cerimónia que nos remete aos primórdios do cristianismo, quando os baptismos começaram a ser efectuados na noite da Vigília Maior ou madrugada da Ressurreição.
Soledade Martinho Costa
Do livro “Festas e Tradições Portuguesas”, Vol.III
Ed. Círculo de Leitores
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