Do escritor, poeta, jornalista e crítico literário José do Carmo Francisco, esta apreciação sobre o meu novo livro «O Nome dos Poemas»:
«O Nome dos Poemas» de Soledade Martinho Costa
Toda a Poesia (mistura de canção e reflexão) procura a síntese e no caso de Soledade Martinho Costa essa busca existe desde 1973 quando publicou o livro «Reduto». O projecto inicial da autora do livro era um desafio («Publicar poesia numa revista semanal») e data de 1999 quando os primeiros 20 poemas do volume foram publicados na Revista «Notícias/Magazine», do «Diário de Notícias». Os restantes 33 poemas estão inéditos. Dos iniciais 20 poemas, como sugestão de leitura, damos citação a dois deles: «João de Melo - Coloque-se a infância / No meio de uma ilha / Acorde-se a distância / No olhar. / Tome-se nas mãos / A neblina / Dê-se o coração / À voz do mar» ou «Isabel Silvestre – Água / Serias rio ou fonte / Regato que murmura / Entre dois lírios. / Ave / Um noitibó / Escondido / Entre as dobras de um lençol / Mas porque assim te queres / Terra e raiz / E tanto aquece / o matiz da tua voz / Só posso comparar-te / Ao próprio sol.»
Dos restantes 33 poemas uma nota especial para os poemas de Rodrigo Leão e de Maria Velho da Costa. O primeiro: «A música da chuva / Dos regatos /Das aves / E do vento / Do mar em fúria /Amante das maresias. / Ao homem /Coube ouvi-la / E copiá-la. / Juntou-lhe o coração / A alma / O génio / E conseguiu a fórmula / De todas as magias». A segunda: «Porque os tempos não eram / O que hoje são / Mais a voz se elevou / A inundar de luz a escuridão. / Rompeu feita coragem / Sem medo ao medo / a fustigar as normas / E o preconceito que regia a mulher e a Nação / No mesmo jeito / Três Marias souberam / Denunciar a palavra / Calada e ofendida / Como se fora um só nome / E uma só mão.»
Estamos em 2017, quase 20 anos passaram e os poemas continuam a surpreender como em 1999 conforme Sofia Barrocas escreve no prefácio: «Arriscaria mesmo dizer que daqui a vinte anos estaremos a lê-los com o mesmo espanto e prazer com que o fizemos da primeira vez.» Tal como no título do seu primeiro livro («Reduto») estes poemas de Soledade Martinho Costa resistem num reduto ao tempo que passa. À sua erosão, ao seu desgaste e ao seu esquecimento.
(Editora: Vela Branca, Prefácio: Sofia Barrocas, Revisão: L. Baptista Coelho, Capa: Victor Gabriel Gilbert, Separador interior: Peter Mork Monsted)
José do Carmo Francisco
- Ora, boa noite, bons olhos o vejam! – diz a coruja para o mocho, seu companheiro e ave de rapina nocturna como ela – Há muito que não aparece por estas bandas. Por onde tem andado, se não é segredo?
- Olhe, minha amiga, mudei de casa.
- Mudou de casa!? Não sabia! – espanta-se a coruja, num pio prolongado.
- Pois é verdade. – continua o mocho – O buraco onde vivia, no tronco de uma azinheira, começou a ser pequeno. Então, mudei-me para um outro maior, na fraga do monte.
- E fica longe? – interessa-se a coruja.
- Oh! amiga Coruja, essa pergunta nem parece sua! Para quem possui asas como nós, acha que a distância é coisa importante!?
- Claro, tem razão! – exclama a coruja embaraçada.
É a vez de o mocho perguntar:
- E por aqui, como vai a caça?
- Assim-assim. No Outono, é o costume. Os ratos do campo começaram a procurar refúgio nos currais e nos celeiros. Os arganazes escavam as galerias onde vão dormir um sono até chegar Abril. Os lagartos, agora mais friorentos, já aparecem pouco. Restam os insectos e os morcegos… – informa a coruja, que logo quer saber: - E lá pelos seus lados, compadre, há mais fartura?
- A mesma coisa. É o Outono, como a comadre disse – replica o mocho. – Eu bem adejo as asas sem fazer barulho; graças à leveza das minhas penas, sou tão silencioso que ninguém dá por mim. Mas estes meses, são meses ruins – acrescenta no seu piar sonoro e sempre triste.
- Lá isso, é verdade – pia a coruja, numa aprovação.
E seguem ambos, de ramo em ramo, num adejar feito de lendas e segredos. Ouvidos atentos, olhos a investigar a noite. Que tanto a coruja como o mocho têm boa visão, embora não suportem muito bem a luz do dia.
Soledade Martinho Costa
Do livro “Histórias que o Outono me Contou”
Ed. Publicações Europa-América
Dois dos nomes destes poemas. Espero que gostem! (Não ficou na foto a barrinha em baixo. Paciência!)
SMC
Reune 53 «retratos poéticos» de figuras públicas consagradas, das artes e das letras. Iclui um depoimento inédito de Amália Rodrigues. Estará nas livrarias a partir do dia 10 de Outubro.
Soledade Martinho Costa
Se algum dia chegasse a libertar-me
Deste laço a tornar-me prisioneira
Voltaria de certeza a enlear-me
No teu braço que me traz nesta cegueira.
Tão certa do que digo e do que faço
Espero por ti parada frente ao tempo
Como um retrato antigo de menina
Com um bouquet de rosas no regaço.
Sem esperança de esquecer-te
E de encontrar-me
Meu coração aos pés
Da tua imagem
Sou a pedra que mora sob o rio
Mas com ele não parte de viagem.
E quando o dia morre na voragem
Das horas que se apressam sem retorno
Acendem-se as estrelas na paisagem
E a voz do vento chama pelo teu nome.
Soledade Martinho Costa
Do livro «O Tempo (En)cantado»
Se o dia vier ao Mundo
Em que o gelo nos aqueça
E o Sol no céu arrefeça
O calor das nossas veias
Esse será o sinal;
Decerto que a nosso lado
Alguma coisa acontece.
E se o riso
Que ontem vinha
Alegrar a nossa face
Morre aos poucos
Esmorece.
Nesse dia pedirei
A quem tiver
Por dentro de cada dia
Nada ter
A força que tem o vento
Que atravessa o pensamento
E liberta a nossa voz.
Nesse dia pedirei
À pressa que tem a vida
Que modere essa corrida
Da nascente até à foz.
E se ao longe há um veleiro
Que se perde atrás do mar
Que se afunda em nosso olhar
Onde a água é nevoeiro.
Chamarei
Companheiro desta dor
E da raiva cada vez maior
Aperta na minha mão
O que a tristeza juntou.
Na estrada que percorremos
A desdita é coisa pouca
Comparada ao que sobrou.
Nesse dia pedirei
A quem tiver
Por dentro de cada dia
O amor.
Soledade Martinho Costa
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