Ao soar do adufe em tua mão
Abre em esplendor
Um cravo rubro
Que teima
Que resiste
A renascer da espera
Do teu povo
Na raiz da esperança
Que se fez canção.
Mas se a mudança tarda
Se não foi além
Nela respira
O apelo que sonhaste
Ainda junto a nós
Nessa herança apetecida
Que nos traz
Os teus poemas no som da tua voz.
Soledade Martinho Costa
Do livro «O Nome dos Poemas», a publicar brevemente
Foto: Inácio Ludgero
SMC
Que mais posso fazer por ti, agora
A não ser compor este poema
E dedicar-to?
Escrever estas palavras que me imponho
E queria fossem belas
Como o canto do vento
Nas searas breves?
Sim, eu sei
É tarde.
Tarde para estender para ti
O meu regaço
Materno de acudir ao teu cansaço
Feito da espera dos dias sem resposta.
Tarde de mais, eu sei
Para qualquer gesto.
Por isso
No silêncio que me trouxe
O ciciar amaro do teu nome
Em ti recuso a flor e o luto
O rito pelos mortos.
Tua lembrança
Em carne viva está e permanece
És tu, ainda
A chama
A força
O grito.
Obstinadamente
A voz que se não esquece.
Soledade Martinho Costa
Do livro a publicar «Um Piano ao Fim da Tarde»
Os ofícios celebrados antigamente ao princípio da noite de Quarta, Quinta e Sexta-Feira da Semana Santa eram designados por «ofícios das trevas» – em que a luz não entra nos templos. Esta denominação, conhecida desde o século XII, deriva, talvez, do costume introduzido nas Gálias (nome antigo de regiões protegidas pelos Romanos), de apagar, progressivamente, as velas nos lugares de culto, de forma a terminar o ofício na escuridão total.
A prática manteve-se até à reforma litúrgica, quando os ofícios passaram a celebrar-se na manhã destes dias, desaparecendo, então, oficialmente, o nome de «trevas». Apesar disso, a designação continua ainda hoje a ser popularmente empregue. Daí, nestes mesmos dias, fazer parte do antigo ritual litúrgico, colocar-se nas igrejas, perto do altar, o «candeeiro das trevas», de madeira, em forma de triângulo, com treze velas, uma maior do que as restantes (seis de cada lado, de cera amarela, e uma no centro, de cera branca) – a remeter-nos para Jesus Cristo e os apóstolos.
Consistia o ritual, caído entretanto em desuso, que entre as «matinas» (primeira parte do ofício divino rezado antes de romper a manhã, ou logo após a meia-noite) e as «laudes» (salmos de David, em louvor de Deus, que se seguem às «matinas»), se acendessem as treze velas do tocheiro, apagadas depois, ora de um lado, ora do outro do candeeiro, uma por cada um dos salmos que se cantava. No último salmo (Miserere), a vela maior, colocada no centro do candeeiro, era retirada e posta, escondida, ao lado da Epístola (lado direito do altar, à direita do celebrante). Ao terminar o ofício, a vela voltava a ser colocada no «candeeiro das trevas», representando este ritual «Cristo, cuja divindade esteve oculta durante a Paixão». E só depois a chama da vela era extinta.
No Minho davam a esta vela – a mais alta do candeeiro de três bicos, representando a Santíssima Trindade – o nome de «galo das trevas», ou «vela Maria». É possível que a primeira designação se refira às palavras que Jesus disse a Pedro no final da Sagrada Ceia: «Antes que o galo cante negar-Me-às três vezes» (sendo certo que só depois de o galo ter cantado «se fez luz em Pedro»). A segunda poderá significar a Mãe de Cristo, como imagem da derradeira esperança, da última luz que se apaga, perante o filho agonizante. Na Beira Alta designavam o tocheiro por «candeeiro das trévoas».
Igrejas há que guardam e utilizam ainda o «candeeiro das trevas», como relíquia a preservar, enquanto noutras o seu destino terá sido o lume ou outro fim qualquer, uma vez que não se sabe já do seu paradeiro. Caso exemplar é o da Sé de Braga, onde este cerimonial litúrgico nunca deixou de realizar-se.
Soledade Martinho Costa
Do livro «Festas e Tradições Portuguesas», Vol. III
Ed. Círculo de Leitores
A missa de domingo de Ramos – durante a qual se faz referência à Paixão e Morte de Jesus – foi chamada, em tempos, Missa Seca. Segundo uns, missa sem música (órgão e cânticos), na versão de outros, celebração em que não há comunhão (consagração do pão e do vinho).
Uma das tradições deste dia, das mais populares entre nós, consiste na «bênção dos ramos» ou dos «palmitos», prática comum a todos os povos católicos, relacionada com os vários aspectos das comemorações da quadra pascal.
Ao dar início à Semana Santa, neste domingo se recorda e reconstitui um dos episódios mais marcantes da vida de Jesus Cristo: a sua entrada messiânica em Jerusalém para celebrar a Páscoa Judaica, tendo sido recebido, conforme se lê no Evangelho, «com gritos de alegria e o maior entusiasmo da multidão», que buscou folhas de palmeira para com elas O aclamarem.
Atados, por vezes, com fitas de cores e compostos por folhas de palmeira, alecrim, oliveira, loureiro, rosmaninho e mimosas, os ramos, benzidos antes da missa (ou de véspera, na missa da tarde), guardam-se depois em casa durante todo o ano. Nas vilas e aldeias continuam a ser pendurados na cozinha ou à cabeceira da cama para «proteger dos maus ares». É também costume colocar-se o ramo na sala, na altura da visita pascal (o «compasso»), ao lado de uma imagem religiosa ou pendente de um crucifixo.
Na Beira Baixa leva-se à Igreja, juntamente com o ramo, um pão para ser benzido antes da missa, conferindo-lhe a crença popular «poderes divinos e profilácticos». Em diversas localidades eram os «mordomos» que ofereciam ao padre um «palmito», sempre maior e mais enfeitado do que os outros, que o pároco, por sua vez, oferecia, simbolicamente, depositando-o sobre o altar.
Outras vezes é colocado à porta ou no meio da igreja um enorme ramo de oliveira, enfeitado com fitas, flores e alecrim, que o padre benze na ocasião em que procede à bênção dos «palmitos».
Havia ainda o preceito de utilizar-se um ramo de oliveira, ornamentado apenas com um laço de seda, entregue ao pároco pelo sacristão ou pelas «mordomas». Após benzido o ramo era dividido em pequenos ramos e distribuído aos fiéis pelo padre, prosseguindo o ritual com os devotos a desfolharem, ao redor da igreja, um galho do ramo oferecido, rezando um pai-nosso e uma ave-maria por cada uma das suas folhinhas. Prática caída em desuso, continua, mesmo assim, a verificar-se em determinadas localidades.
O que sobrava deste ramo, o grande ramo de oliveira, o próprio ramo do padre e as palmas que enfeitavam a igreja eram guardadas nas sacristias até à quarta-feira de Cinzas do ano seguinte. Ainda hoje as palmas e os ramos que ficam nas igrejas são queimados neste dia, servindo as suas cinzas para impor o Sinal-da-Cruz na fronte dos fiéis que comparecem à Missa das Cinzas.
Em Nisa, além das palmas, leva-se à igreja um ramo de alecrim e oliveira (antigamente enfeitado com pequeninas flores roxas), a que se dá o nome de «vassouras», por apresentarem essa configuração. Depois de benzidas, as «vassouras» – que se vendem neste dia pelas ruas – são penduradas na sala de entrada das casas, sempre «em lugar bem à vista».
Em diversas aldeias da Beira Alta, o ramo é feito de loureiro e oliveira e enfeitado com alecrim, camélias, laranjas, figos secos, doces, bolos, etc., chegando a atingir a altura da pessoa que o transporta. Do Minho ao Algarve continua também a manter-se o uso de queimar algumas das folhas do ramo bento «para afastar as grandes trovoadas». Com igual propósito, colocam-se raminhos de oliveira sobre as portas e janelas ou dá-se a comer ao gado um pedacinho do pão bento.
Supostamente a representar resquícios dos sacrifícios humanos praticados no antigo Egipto, a «cerimónia das cinzas» remonta aos primeiros séculos da era cristã, inicialmente para admitir os crentes na comunidade, enquanto no século X d. C. toda a congregação católica romana, pessoas fora dela e os próprios sacerdotes passaram a tomar parte no ritual religioso da imposição das cinzas.
Soledade Martinho Costa
Do livro “Festas e Tradições Portuguesas”, Vol. III
Ed. Círculo de Leitores
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