Ninguém sabe onde te escondes
Ou aonde te demoras
Todos os lugares são teus
Dás nome a todas as coisas.
És o rumo dos caminhos
Entre o destino e a poeira
Mas sempre o ponto de encontro
Que busco à minha maneira.
Aqui estou à tua espera
Do lado de cá do muro
Sem passado, sem presente
À mercê do meu futuro.
Só tu levas o meu sono
Feito de gelo e fogueira
Quisera estalar os dedos
E esquecer-te sem que eu queira.
Dar a mão a outra mão
Mesmo que desconhecida
Dividir o que não tenho
Ser a parte de outra vida.
Penhorar o mar e a Terra
Vestir o olhar de Sol
Procurar nas madrugadas
Um poema, uma canção.
Encontrar uma razão
Feita de esperas e sonhos
E depois dizer que não
Ao desencontro das horas.
Voltar sem pressa outra vez
A percorrer o relógio
E ver-te todas as vezes
Nos quatro cantos do mundo.
Quando achar novas de ti
Quem tu és e porque tardas
Visto um hábito de monge
Ato o cordão à cintura
E solto as palavras todas
Caladas, à tua espera
Neste meu poço sem fundo.
Soledade Martinho Costa
Do livro «O Tempo (En)Cantado»
Alimentar na chama
A luz do tempo
E repartir a lua e as estrelas
Mesmo a saber
Que o céu não nos pertence.
Nem a vida, sequer
Que sendo nossa
Se desvanece aos poucos
Nos devora.
Confiados, embora
Na promessa
De que talvez
Quem sabe
Em certa hora
Seja afinal
Do fim que se começa.
Soledade Martinho Costa
Do livro a publicar «Bragal»
Tela: Duy Huynh
Na fome
De acordar os olhos
Em cada madrugada
Em mim transformo
A certeza do berço
Em ameaça.
Não basta
Sentir a paz nos passos.
As malas
Estão vazias
O pensamento
Algures
Por arrumar.
Não basta
Partir ressuscitada.
Confio
Ainda
No tempo de esperar.
Soledade Martinho Costa
Veste-lhe o corpo
Um pulsar antigo
De longe adivinhado e concedido.
Há que levar a vida
Livre de amarras no cais
Nas mãos, nos pulsos.
Ser alguém que se guia e ilumina
Nas palavras que escreve
E nos confia
Não conhecer corrente
Embuste, algema.
A si lhe basta
Em liberdade
Poder dar-se nua no poema.
Soledade Martinho Costa
Do livro «O Nome dos Poemas»
Foto: Alfredo Cunha
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