Terça-feira, 29 de Outubro de 2013

MARIA JOÃO PIRES

 

 

A minha homenagem e admiração pelo talento, pela capacidade, pela inteligência e pelo amor à música de MARIA JOÃO PIRES.

 

Um “lança-luz”

Entre a noite
E o oiro das giestas
Em busca do lugar
Que lhe pertence.
 
Assim tu és
A transportar
O peso que há nos dias
À procura do som
À procura da força.
 
No teu olhar
Prados
Bosques
Montes
Nas tuas mãos
A música.
 
Teu reduto
Ou liberdade
Em galopes de corça.
 
 
Soledade Martinho Costa
 
Do livro “O Nome dos Poemas” 

 

 

publicado por sarrabal às 21:10
link | comentar | favorito
Terça-feira, 15 de Outubro de 2013

UM AZUL PELO CÉU FORA

 

Para Denise Prauchner Macagnan, que está de férias em Portugal a descobrir a beleza que veste o nosso País - sem esquecer as suas colinas, onde o Sol se deita, enamorado, para encher Lisboa dessa luz inigualável, que é só nossa e resplandece no nosso olhar deslumbrado e português.

 

Um pardal sobre o beirado

Duma casa antiga e pobre

Uma calçada que sobe

Até à água que corre

De um chafariz a cantar.

 

Um barco a sulcar o Tejo

Uma gaivota abraçada

Ao Sol que é seu namorado

Um azul pelo céu fora

Um cheiro a cravos e a mar.

 

É Lisboa, é Lisboa

No olhar de quem a ama.

 

É Lisboa, é Lisboa

É Lisboa que me chama.

 

Tão longe pensava nela

E uma saudade pousava

De manso na minha mão

Como asas de uma andorinha

Quando pressente no vento

Que se vai embora o Verão.

 

Tão longe pensava nela

Nessa Lisboa à janela

Do meu pobre coração.

 

Mas agora que voltei

A pisar de novo o chão

Deste berço onde nasci

É nele que morrerei.

 

Nesta Lisboa, nesta Lisboa

Neste altar de quem a ama.

 

Nesta Lisboa, nesta Lisboa

Minha casa e minha cama.

 

Soledade Martinho Costa

publicado por sarrabal às 15:20
link | comentar | favorito
Domingo, 6 de Outubro de 2013

SEGREDOS - RECORDAR AMÁLIA

 

Nos últimos tempos de vida de Amália, durante os serões em sua casa, falava-se muito do que tinha ficado para trás na carreira da Artista: dos seus sucessos, das suas viagens, dos países onde actuou, das suas recordações. Por fim, os serões começaram a ser preenchidos, quase exclusivamente, com a passagem de filmes que mostravam o êxito alcançado por Amália no mundo inteiro. Seguiam-se os comentários feitos pelos presentes e as explicações complementares dadas por Amália.

 

Estas visitas ao passado, por muito bem intencionadas – tendo como propósito uma espécie de lenitivo para a Artista –, surtiam, em minha opinião, um efeito contrário ao desejado. O desfiar constante de recordações, acabou por tornar-se um hábito diário e os serões a parecerem uma romagem de saudade. Em consciência, temia que a situação contribuísse para despertar em Amália a certeza de que os seus sonhos começavam a ficar cada vez mais distantes e inatingíveis. Receios que não foram infundados.

 

Nesses anos, a sua alegria (que lembro das minhas primeiras visitas) dera lugar a uma tristeza que se reflectia no rosto dos anjos que esvoaçavam nos painéis de azulejo a vestirem as paredes da sala, desde meio até ao chão. Uma tristeza igual à que nos invade quando ouvimos um fado. Ou quando sentimos saudades de um tempo que já não nos pertence. Tristeza que teimava em fazer-nos companhia pela noite dentro.

 

Nesses serões, Amália já não tinha vontade de contar anedotas, de dizer versos, ou de cantar e dançar para os amigos – como chegou a fazer, somente para mim, privilégio que me deixava sempre deslumbrada, espantada com a minha sorte, como é de supor.

 

Por essa altura, o chá, as bolachinhas, o pão e o queijo, servidos ao serão, deixaram de ter o mesmo sabor.

 

Cheguei a consolar Amália, buscando nas minhas palavras uma força que não sentia. Aconteceu em certo serão. Ao ver no vídeo as suas imagens, agarrou o meu braço, dizendo com lágrimas nos olhos: «Como eu era e como eu estou, uma doente. Já não sou ninguém!». Não foi fácil para mim ouvir este desabafo. Onde encontrar argumentos que a convencessem do contrário? Que lhe mostrassem quanto estava enganada? Que lhe dessem a certeza que continuava a ser, apesar de todo o infortúnio, a nossa Amália, a única, a insubstituível? A prova está nas homenagens que lhe têm sido prestadas após a sua morte.

 

Amália será sempre Alguém. Alguém muito querido. O público que a ama por todo o Mundo – especialmente o público português – continua a ver nela a grande Artista que sempre foi. Única. Inigualável. Público que vai continuar a recordá-la: bonita, sorridente, simples, bondosa, uma mulher culta, de extrema sensibilidade e inteligência, grande poetisa e uma voz sublime, eterna, irrepetível.

 

Amália, mesmo acompanhada, sentia-se só. Um dia, disse-me: «Penso muito. Sempre fui assim. Ponho-me a pensar, a pensar, vou por aí fora, vou, vou, olhe, vou até ao fim de mim!» Sorri, ante a maneira tão sua, tão pessoal de Amália se expressar. Poucas pessoas conseguiam fazê-lo de forma tão singular, tão inteligente.

 

Teimava em chamar-me romântica: «Você, você é uma romântica!». Deixei de manifestar a minha discordância – embora aceite que, de vez em quando, possa dar essa impressão. Numa das fotos que me ofereceu, escreveu na dedicatória: «Para uma romântica, de uma sozinha».

 

O facto de saber que não podia voltar a cantar, roubou a vida de Amália antes da morte ter chegado. Acredito que tenha sido esse, nos últimos tempos, o seu maior desejo: partir.

 

Soledade Martinho Costa

 

publicado por sarrabal às 01:07
link | comentar | favorito
Terça-feira, 1 de Outubro de 2013

CALENDÁRIO - OUTUBRO

 

O dourado das copas            

Desnuda o arvoredo

Hibernam os ouriços

Para dormir um sono.

 

O frio

Já se apronta

Na hora da chegada.

 

Outubro vem lembrar

Recados do Outono

Preparam-se os gravetos

Que a lenha está guardada.

 

Soledade Martinho Costa

 

publicado por sarrabal às 01:31
link | comentar | favorito

.mais sobre mim

.pesquisar

 

.Março 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9

10
11
12
13
14
15

18
19
20
21
22
23

24
25
26
27
28
29
30

31


.posts recentes

. ANIVERSÁRIO DA MORTE DE N...

. VARINAS

. VERSOS DIVERSOS - O CONSE...

. LEMBRAR ZECA AFONSO - 37 ...

. ALENTEJO AUSENTE

. A VOZ DO VENTO CHAMA PELO...

. CARNAVAL OU ENTRUDO - ORI...

. FIAR A SOLIDÃO

. REGRESSO

. PASTORA SERRANA

. MEU FILHO

. 20 DE JANEIRO – SÃO SEBAS...

. UM OLHAR SOBRE A PAISAGEM...

. «AS CRIANÇAS DA GUERRA»

. NOVO ANO DE 2024

. AS «JANEIRAS» E OS «REIS»...

. DIA DE REIS - TRADIÇÕES

. NATAL 2023

. NATAL - O DIA SO SOL

. AS QUATRO MISSAS DO NATAL

.arquivos

. Março 2024

. Fevereiro 2024

. Janeiro 2024

. Dezembro 2023

. Novembro 2023

. Outubro 2023

. Setembro 2023

. Agosto 2023

. Julho 2023

. Junho 2023

. Maio 2023

. Abril 2023

. Março 2023

. Fevereiro 2023

. Janeiro 2023

. Dezembro 2022

. Novembro 2022

. Outubro 2022

. Setembro 2022

. Agosto 2022

. Julho 2022

. Junho 2022

. Maio 2022

. Abril 2022

. Fevereiro 2022

. Janeiro 2022

. Dezembro 2021

. Novembro 2021

. Setembro 2021

. Agosto 2021

. Julho 2021

. Junho 2021

. Maio 2021

. Abril 2021

. Março 2021

. Setembro 2020

. Agosto 2020

. Julho 2020

. Junho 2020

. Maio 2020

. Março 2020

. Novembro 2019

. Agosto 2019

. Julho 2019

. Junho 2019

. Maio 2019

. Abril 2019

. Março 2019

. Fevereiro 2019

. Dezembro 2018

. Outubro 2018

. Setembro 2018

. Agosto 2018

. Julho 2018

. Junho 2018

. Maio 2018

. Abril 2018

. Março 2018

. Fevereiro 2018

. Dezembro 2017

. Novembro 2017

. Outubro 2017

. Setembro 2017

. Agosto 2017

. Julho 2017

. Junho 2017

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Janeiro 2017

. Dezembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Maio 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2016

. Janeiro 2016

. Dezembro 2015

. Novembro 2015

. Outubro 2015

. Setembro 2015

. Agosto 2015

. Julho 2015

. Junho 2015

. Maio 2015

. Abril 2015

. Março 2015

. Fevereiro 2015

. Janeiro 2015

. Dezembro 2014

. Novembro 2014

. Outubro 2014

. Setembro 2014

. Agosto 2014

. Julho 2014

. Junho 2014

. Maio 2014

. Abril 2014

. Março 2014

. Fevereiro 2014

. Janeiro 2014

. Dezembro 2013

. Novembro 2013

. Outubro 2013

. Setembro 2013

. Agosto 2013

. Julho 2013

. Junho 2013

. Maio 2013

. Abril 2013

. Março 2013

. Fevereiro 2013

. Janeiro 2013

. Dezembro 2012

. Novembro 2012

. Outubro 2012

. Setembro 2012

. Agosto 2012

. Julho 2012

. Junho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

. Fevereiro 2008

. Janeiro 2008

. Dezembro 2007

. Novembro 2007

. Outubro 2007

. Setembro 2007

. Agosto 2007

. Julho 2007

.links

blogs SAPO
Em destaque no SAPO Blogs
pub