Ontem, dia 25 de Abril, passaram 15 anos sobre a morte de António Pimentel. Faleceu no dia 24 de Abril de 1998, de doença oncológica, e o funeral saiu de sua casa («Casa dos Bentos»), na aldeia de Alcabideque, para o cemitério de Condeixa, sua terra natal, no dia 25 de Abril.
O quadro de sua autoria que tenho a honra de publicar neste blog (pertencente à famosa série «Mariana Alcoforado»), fez parte da sua última exposição, em 1995, na Galeria de Arte Sílvia Vale, em Espinho.
Estando eu na sua galeria, na aldeia do Bom Velho de Cima, a uns escassos metros da minha casa (onde eu passava horas a vê-lo pintar, outras à conversa ou a traçar-mos projectos), já com as telas dadas por concluídas, pergunta-me A P: «De qual gosta mais, Soledade?». Apontei esta. E a pergunta: «Porque não fica com ela?». «Porque não posso.». Respondi.
Regressei a casa a pensar na belíssima tela que tinha visto. Momentos depois, entra-me António Pimentel pela porta dentro com o quadro nas mãos. Fiquei perplexa. «É seu, Soledade. Vamos fazer um negócio que vai ser bom para os dois!» E o negócio fez-se. Deixou-me o quadro e saiu. Cedi-o depois para a exposição, sendo esta a tela que ilustra o próprio catálogo – por sinal, a tela preferida de A.P., nesta que foi a última exposição deste grande nome da pintura portuguesa.
Durante algum tempo esteve colocado na parede do meu quarto, sobre a cabeceira da cama, na casa da aldeia. De há uns anos a esta parte, não. Mas sempre que o olho (no lugar onde está agora), dá-me três motivos para pensar: nas saudades que sinto do meu amigo, na grande pena por a vida não lhe ter dado a oportunidade de nos brindar com mais obras tão belas quanto esta, e no amor (quase deslumbramento) que tenho por esta tela – não apenas pela arte que representa, mas pelas gratas recordações que reparte comigo.
É a minha homenagem, a minha lembrança, a minha admiração por António Pimentel, que ficam nestas palavras. Não podia deixar passar em claro esta data.
Soledade Martinho Costa
(Foto protegida por direitos de autor)
Podia ter escolhido um dos meus livros para adultos. Mas não. É pela criança que devemos começar. Em casa, na escola. Criar-lhe o respeito pelo livro e o gosto pela leitura. Amanhã, serão os meninos e as meninas que gostam de livros e de histórias os leitores que teremos para as obras destinadas aos adultos. São eles que representam os nossos leitores no futuro.
S.M.C.
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O LIVRO
O livro
É a chave
Da caixa das surpresas
A magia
Feita do som
Ou do silêncio das palavras
O espelho
Onde se lê o Futuro
A estrada onde o Passado
Deixou a marca dos seus passos.
O livro
É um amigo
Um companheiro
O melhor professor
As mil e uma histórias
Do saber
O herói aventureiro
Que se oferece
Para contigo viajar
Sonhar e aprender.
O livro
É um poeta e um poema
É um operário
Na construção de um verso
É um músico
No ritmo da rima.
O livro
É o tempo que foi
O tempo que passa
O tempo que vem
É um segredo
Um retrato
É brincadeira
E riso
E talvez
Uma lágrima também.
O livro
É um pintor
Que te mostra a paisagem
A cor do mar
Do céu
Das aves
É a saudade
A coragem
A emoção
A verdade ou a imaginação.
O livro
É a distância
Que separa
A escuridão da luz
É a sede
Que se transforma em fonte
A seiva
Que percorre a alma
O Sol
Que amadurece os frutos.
É a terra de semeio
Onde floresce o Amor
O Conhecimento
A Fé
A Esperança
O Entendimento.
O livro
É a mais bela flor
Nas mãos de uma criança.
Soledade Martinho Costa
Há heranças que resistem/ e definem/ o poder/ ou a arte/ ou a coragem. / Mas se tudo se repete/ nas veias de quem fica/ sublime brilha a estirpe. / Embora pese a mágoa/ da saudade por quem parte.
DESABAFO: É a tangente, a derrapagem, a vertigem da confissão. Decorre de um estado de saturação brevíssimo, mas arriscado. Junto da pessoa errada, é um convite à devassa, à deturpação, ao paternalismo e à conclusão grosseira. Não é justo, é nervoso e parcial: diz apenas o necessário para que alguém nos aplique o penso rápido do consolo imediato. Nele a verdade é falsa, como diria Jorge de Sena.
SUGESTÃO: Uma vingança menor.
DISPARATE: Proferi-los ou executá-los pode custar tão caro como reprimi-los. Pode invejar-se mais um disparate do que um bem material. E é talvez por isso que os disparates que fazemos para nos salvarmos são muitas vezes os que acabam por nos afundar. Nós mandamos neles, mas as pessoas mandam em nós. E só fazendo disparates, muitos, é que se aguenta essa humilhação.
ESCÂNDALO: Uma factura que vale sempre a pena. Ou para quem a assina, e degusta o profano gozo da independência, ou para os que não ousam e necessitam de ser avaliados por comparação.
APLAUSO: É, em última análise, divertido: Só nós sabemos o que valemos, e esse segredo, velhaco ou escarninho, é talvez o mais bem guardado da existência. E se não fosse injusto não causaria tanto incómodo.
EXPECTATIVA: Um desgaste desnecessário: nunca é a felicidade que está em jogo, mas a solução provisória de que julgamos depender.
PREOCUPAÇÃO: Nasce no útero, durante a passagem estreita. Ninguém acredita que se pode caber em dois dedos de dilatação
EMOÇÃO: Um falso estado de felicidade com muita procura. Não é tão serena como a felicidade, mas pode ser mais fecunda, generosa, criadora.
AMOR: Muitos acham que amar é acreditar (por um mês, por toda a vida) que o outro lhes lavará as chagas, protegerá do frio, saciará a sede, os amará corcundas ou doentes. Descobrem que não é amor quando se apercebem que outra pessoa lhes poderá prestar um melhor serviço com menos custos.
SAUDADE: A lástima de descobrirmos que, afinal, parte de nós são as coisas e os outros.
SONHO: Uma belíssima alternativa de vida para quem tem o sono pesado.
MEDO: Não posso. Não consigo. Não chego. Não sei. Uma paralisia convincente.
INTIMIDADE: A conquista da cegueira (ou até da estima, ou até do amor) do outro relativamente às nossas fealdades e menoridades. É prémio. É repouso.
FIGURA PÚBLICA MAIS: A que é amada, compreendida, perdoada.
FIGURA PÚBLICA MENOS: A que apenas realiza. A apenas pública.
CALENDÁRIO: Uma simples burocracia. O que há nos anos, nos meses e nos dias nunca são os anos, nem os meses, nem os dias.
Ideia e coordenação: Soledade Martinho Costa
In Notícias Magazine/1999
Este vídeo foi um dos primeiros que fiz. O poema é uma adaptação de José Cid, do meu poema Alentejo Ausente. A música é de José Cid e a interpretação de Jorge Goes, também ele músico e cantor. A gravação de som pertence a The Orchard Music e o CD intitula-se «Contra a Corrente».
Muito recentemente, Jorge Goes lançou um segundo CD, a que deu o nome «Tempo ao Tempo». Está nesta altura a fazer a divulgação deste seu novo trabalho. Espero que apreciem as imagens do nosso Alentejo e a voz de Jorge Goes – que se tornou, para mim, um bom amigo. Obrigada Jorge!
Soledade Martinho Costa
Andava eu a vasculhar na NET sobre o que me diz respeito (coisa que raramente faço, porque o meu tempo é pouco), quando dei com esta surpresa, sempre gratificante, datada de Abril de 2012 – embora na área que toca ao «meu» teatro nas escolas a surpresa não seja inédita, pelas informações que me têm chegado ao longo dos anos.
A partir da minha peça infanto/juvenil «O Canteiro Vaidoso», aqui está o que li nesse blog: «as docentes Isabel Rebelo e Manuela Matos, do Agrupamento de Escolas Latino Coelho em Lamego, apresentaram, no âmbito da articulação curricular, um espectáculo alegre, divertido, terno e pedagógico, na Biblioteca Escolar do CEL. Sessões realizadas em cooperação, colaboração e partilha com os docentes da equipa da Biblioteca Escolar de Lamego». Depois, muitas e muitas fotografias a ilustrar o decorrer da peça.
Como referi, é sempre agradável para qualquer escritor ver uma peça de sua autoria utilizada, particularmente, pelos professores. Pena que o não façam mais vezes – excluindo os manuais escolares, em que o nosso trabalho chega a ser excessivamente aproveitado, sem haver proveito próprio, uma vez que, sobre ele, não recebemos direitos autorais. Questão largamente debatida e que não respeita aos professores, mas, sim, às Editoras, mas sem final (feliz) à vista.
Convém lembrar que o autor vive (?) dos livros que escreve (é a sua profissão), enquanto o editor vive dos livros que vende. O editor não escreve, vive daquilo que os outros escrevem. Essa é diferença. Quanto aos manuais escolares, todos nós sabemos (aqueles que escrevem), ser um autêntico abuso.
Mas voltando ao início da nossa conversa, a minha primeira peça destinada ao público infantil e juvenil, «O Canteiro Vaidoso», esteve em cena no TIL – Teatro Infantil de Lisboa desde o dia 3 de Maio de 1984 até Fevereiro de 1985. Quase um ano, sempre com lotações esgotadas. Aos sábados e domingos a Companhia chegava a dar duas sessões. Durante a semana, eram os professores que levavam ao TIL os seus alunos. Com encenação de Ruy de Matos e música de Filipe Trigo, a peça foi mostrada às crianças mais desfavorecidas da capital, graças a uma parceria entre o TIL, o Palácio das Galveias e a Câmara Municipal de Lisboa. Mas em muitos outros locais foi representada, conforme fui tendo conhecimento – embora não de todos.
Aprendi muito com esta Companhia de Teatro Profissional, uma vez que assistia quase sempre aos ensaios. Mais tarde, porque as coisas nem sempre correm bem, solicitei à Sociedade Portuguesa de Autores que retirasse o meu nome do repertório da Companhia.
Em 1992 resolvi escrever outra peça, «No País das Cores» (adaptada do meu livro «6 Histórias numa História de Todas as Cores»), talvez mais ambiciosa, melhor concebida para ser representada, quer por uma companhia de teatro profissional, quer amador (sempre com maiores carências), ou, mesmo, numa escola ou em qualquer outro lugar. Tanto pode ter dois actos, como pode ser representada em pequenas peças teatrais, independentes do seu todo. Digamos que a escrevi a pensar mais nestas últimas opções.
«No Pais das Cores» recebeu, em 1992, o Prémio Alice Gomes de Teatro, atribuído pela Associação Portuguesa da Educação pela Arte, que me foi entregue pela Dra. Maria Barroso, numa concorrida sessão no Palácio das Galveias. O prémio (pecuniário) incluía a sua publicação – que nunca chegou a concretizar-se. Também nunca perguntei porquê. A peça continua inédita. Devo dizer que as editoras não se sentem vocacionadas para este género de publicação. Como se calcula, vende pouco (não é, propriamente, um livro de contos!).
Deixo-vos a foto dos docentes Isabel Rebelo, João Pedro Melo (equipa BE) e Cristina Correia (PB. Equipa BE). Bem o merecem pelo trabalho, dedicação e interesse em fomentar nos seus alunos o gosto pelo Teatro.
Soledade Martinho Costa
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