Como já fazes 10 aninhos, a avó decidiu não pôr aqui no blog uma ilustração com bonecos ou balões. Sei que não irias gostar. Estás a crescer, Soli. Dez aninhos é uma década! Por isso, resolvi colocar esta foto. É um bolo menos infantil.
Mas nem parece que tens 10 anos: o teu propósito, a maneira de conversar, todo o teu comportamento, até os teus projectos aparentam ser de uma menina mais crescida. Continuas alegre, mas muito, muito meiguinha, obediente, colaborante e grata a todos os pequenos mimos. Uma neta como muitas avós desejariam ter. Também estás alta para a idade. O teu corpinho começa a transformar-se (precocemente) e a «maneira de estar» principia a ser outra.
Já não quiseste levar para a escola o bolo de aniversário para distribuir pelos teus colegas «porque já andas no 5º ano». A avó compreende e continua a ter muito orgulho em ti. E mais aquele amor que tu sabes.
Outra coisa que costumo dizer-te, para que nunca esqueças, é que a noite do teu dia de anos é especial. É uma noite mágica: a «Noite de Todos os Santos»! Que todos te acompanhem pela vida fora com muita protecção, meu amor. E que a festa do teu aniversário (que só vais comemorar depois, porque hoje tens aulas) seja tão bonita como tu és, minha querida neta!
Beijinhos da avó!
Soledade Martinho Costa
Quando entrei pela primeira vez no saudoso jornal «Diário de Lisboa», não conhecia lá ninguém. Rostos vistos na Televisão, sim: Dr. Piteira Santos, director do jornal, e Fernando Assis Pacheco, chefe de redacção. Não tinha perdido, nem uma, das suas brilhantes actuações, em 1977, no programa televisivo «A Visita da Cornélia» …
Estávamos no Ano Internacional da Criança (1979) e eu tinha um projecto que só podia ser concretizado através de um jornal. O meu pai comprava diariamente o «Diário de Lisboa» – escolhi-o talvez por isso.
Bairro Alto, Rua Luz Soriano. Subi as escadas do primeiro andar de um prédio antigo e conservado. Entrava, pela primeira vez, na redacção de um jornal! Era muito jovem nessa altura. Alguns olhares curiosos (o meu também) e, na minha frente, aparece Fernando Assis Pacheco. O sorriso rasgado, a barba, a sua irradiante simpatia, a perguntar-me o que me levava ali.
Nunca gostei de «cunhas» ou de pedir favores. Nunca o fiz. Sempre achei que a qualidade do nosso trabalho (neste caso literário) servia de cartão de visita e que ter um projecto válido (dentro do mesmo sector) era o suficiente para avançar caminho neste mundo da escrita. Não levava nada para mostrar, mas tinha o tal projecto, que minuciei ao F. Assis Pacheco. Salientei o facto de estarmos em Janeiro, no início das celebrações do Ano Internacional da Criança, e no interesse que havia em sabermos o que se passava com a literatura portuguesa para a infância. De conhecermos um pouco mais sobre essa problemática. Para isso, teriam de haver entrevistas. Pretendia entrevistar escritores, ilustradores, editores, livreiros, professores, entidades ligadas à Cultura e à Educação, representando organismos particulares e do Estado, não descurando algumas vertentes lúdicas ligadas à criança, como o teatro e a música. Decerto haveriam outras prioridades, mas esta era a minha área. Dei-lhe nomes. Informei-o de como pretendia fazer todo esse trabalho, reunindo nele a maior informação possível.
Fernando Assis Pacheco ouviu-me com atenção e vislumbrei-lhe interesse enquanto relatava o que pretendia do «Diário de Lisboa». No fim, com o seu contagiante sorriso (os olhos também riam), disse-me apenas: «Vou fazer-lhe três perguntas: quando quer começar; quando tenho em mão o primeiro texto e se posso contar com uma entrevista, entregue, pontualmente, para ser publicada, semanalmente, todas as quintas-feiras». Foi assim que nasceu a obra «Inquérito ao Livro Infantil». Da minha parte houve apenas uma pergunta (ingénua, naturalmente): «E como devo proceder para compor as entrevistas?». Resposta de F. Assis Pacheco: «Tesourinha e cola!».
Não mais esqueci estas palavras. Como estavam ainda longe os computadores e os e-mails da era virtual! Os jornalistas, todos eles, «batiam» os textos nas máquinas de escrever, martelando as teclas. Mais tarde, apareceram as máquinas de escrever eléctricas. Mas, por esses anos, nas redacções, era mesmo a bater nas teclas que os jornalistas escreviam os seus artigos. A soar como uma espécie de música muito peculiar, nos ouvidos de quem entrava na redacção de um jornal.
E foi com «tesourinha e cola» que comecei a entregar, pontualmente, no «Diário de Lisboa» as entrevistas que ia realizando. A primeira mereceu a honra de ocupar as duas páginas centrais do jornal, assim se mantendo por umas semanas, passando depois a página inteira. De Janeiro até Outubro. Fiz entrevistas com gravador, enviando as perguntas por escrito (há sempre quem prefira), de viva voz e, até, pelo telefone!
O trabalho logrou as atenções da então Secretaria de Estado da Cultura/Instituto Português do Livro, que, juntamente com outros organismos particulares e oficiais, promoveu a sua reunião em livro: Fundação Calouste Gulbenkian, Serviço de Cooperação para os Novos Estados Africanos (da mesma Fundação), Direcção-Geral da Educação Permanente, FAOJ, Ministério dos Negócios Estrangeiros e Instituto de Cultura e Língua Portuguesa (alguns hoje extintos).
No total, o livro soma 45 entrevistas, ao longo de 269 páginas, onde se reúnem dados biobibliográficos, excertos e ilustrações dos mais destacados escritores e ilustradores portugueses. Alguns dos entrevistados são: Sophia de Mello Breyner, Manuel Ferreira, Luísa Ducla Soares, Adolfo Simões Muller, Alice Gomes, José de Lemos, Sidónio Muralha, Manuel António Pina, Eugénio de Andrade, Sarah Affonso, António Alçada Baptista, Rocha de Sousa, António Quadros, Victor de Sá Machado e Luíz Francisco Rebello, entre outros (com muitos desses nomes a não estarem já entre nós). Como remate, o testemunho de seis crianças, com as suas respostas frontais, inesperadas, pertinentes – também elas a merecerem as duas páginas centrais do «Diário de Lisboa».
A primeira edição do «Inquérito ao Livro Infantil» saiu em 1980, seguida de uma segunda edição em 1981, destinada ao circuito livreiro. Esta, com actualizações em notas de rodapé, uma vez que, através desse trabalho, se despoletaram algumas questões importantes, que vieram a dar os seus frutos, precisamente no início da década de 80. A obra foi apresentada na Sociedade Portuguesa de Autores (num dos maiores lançamentos que se realizaram ali até hoje) e serviu, durante anos, na Universidade de São Paulo, para a cadeira de Literatura Infantil e Juvenil ministrada pela professora Nely Novaes Coelho. A escritora e pedagoga Alice Gomes escreveu o prefácio. Transcrevo um pequeno extracto: «A parte do Diário de Lisboa, que abriu as suas portas, digo, as suas páginas ao longo de quase um ano inteiro a todo este desenrolar de perguntas e respostas, comentários e reivindicações, merece o nosso reconhecimento. Nosso – dos escritores, dos leitores de todas as idades, do público que lhe ficou a dever, ao jornal, como à jornalista, uma informação preciosa, a vários títulos.».
Enquanto o trabalho decorria, tive conhecimento de que Irene Lisboa, nos anos 40, se havia debruçado na mesma temática, embora voltada para o livro de adultos, tendo publicado apenas um volume, dos dois que programara. Daí, ter conhecido a sua afilhada (em casa da qual Irene Lisboa viveu largos anos, até ao seu falecimento), que acabou por me oferecer algumas fotos inéditas da Escritora, que guardo religiosamente. Para mais, sendo Irene Lisboa, para mim, um dos nomes maiores da Literatura Portuguesa.
Fernando Assis Pacheco começou a ser um amigo, sempre solícito, sorridente, simpático, um apoiante solidário e entusiasta do trabalho que, semanalmente, lhe ia entregando. Ofereceu-me um livro, publicado um ano antes (1978) pela Bertrand, na Colecção Autores de Língua Portuguesa: o «Walt». Eis a dedicatória (ao seu estilo): «Soledade, família, animais domésticos «incorporated». Não é um livro para mostrar às visitas, é para ler e esconder! Mas deu-me muito gozo fazê-lo, não sei dizer mais nada – F. Assis Pacheco».
Foi com infinita tristeza que, numa manhã cinzenta de Novembro de 1995, tomei conhecimento da sua morte, súbita e prematura (tinha 58 anos), quando se encontrava na livraria Buchholz, em Lisboa.
Nascido em Coimbra em 1937, além de jornalista, poeta, romancista e tradutor, Fernando Assis Pacheco foi também colaborador da RTP e crítico literário. A maioria dos seus poemas confirma a sua forma de protesto político e cívico, enquanto o tema da guerra colonial percorre a sua obra, quer em poesia, quer em prosa. Alguns dos seus poemas terão sido, mesmo, os primeiros a serem publicados abordando este conflito. Ainda assim, largamente conhecido é o seu poema «Nini dos meus Quinze Anos», musicado e cantado por Paulo de Carvalho
Lembrá-lo aqui, nestas linhas, foi lembrar um saudoso amigo, que se cruzou comigo na estrada da minha vida. No mundo da escrita, numa relação de afectos. Foi lembrar o seu sorriso, a sua simpatia, a sua maneira de ser, onde imperava a alegria de viver, a afabilidade e a modéstia Foi lembrar o notável jornalista, repórter, escritor e poeta, que continua a ser Fernando Assis Pacheco – porque os escritores morrem, sim, mas não morrem dentro dos seus livros.
Soledade Martinho Costa
Sem ter novas de infantes
Sem conquistas
Navegar em mares de espanto
Pelos dias.
A sulcar horizontes
Onde as vagas
Despidas de maresia
Vaticinam o rosto da tormenta.
Lá, onde as gaivotas
Asas quebradas pelo vento
Mergulham o som da sua fome
Na onda que as embala e alimenta.
Quisera falar
De búzios e corais
De conchas
De pedras multicores
Adormecidas sob a espuma das areias.
De sereias
A prenderem na magia do seu canto
As redes e o amor dos pescadores.
Quisera falar
De luas e marés
De vozes ancoradas no convés
Onde os sonhos dos homens resistiam.
Sem ter novas de infantes
Sem conquistas
Navegar em mares de espanto
Pelos dias.
A vislumbrar um céu cinzento
E a tempestade
Que o Sudoeste há muito anunciou.
A procurar na bruma
Muito ao longe
A bonança que tarda
Anda à deriva
Junto ao leme que a mão não alcançou.
Soledade Martinho Costa
ONTEM, DIA 6 DE OUTUBRO DE 2012
13 ANOS DE SAUDADE
«Tudo que me aconteceu na vida, aconteceu-me. Não tinha experiência, não tinha nada. Aconteceu. Aconteceu-me tudo. Acho que foi uma graça Divina. Talvez para me recompensar de outras coisas que não tive. Pode ser, é difícil saber…Ao pensar que tive a ajuda de Deus é, realmente, uma emoção que sinto. E não é só emoção. É um agradecimento constante que tenho.»
AMÁLIA RODRIGUES
(Da entrevista, ainda inédita, que Amália me concedeu em Março de 1998)
. ANIVERSÁRIO DA MORTE DE N...
. VARINAS
. VERSOS DIVERSOS - O CONSE...
. LEMBRAR ZECA AFONSO - 37 ...
. A VOZ DO VENTO CHAMA PELO...
. CARNAVAL OU ENTRUDO - ORI...
. REGRESSO
. 20 DE JANEIRO – SÃO SEBAS...
. UM OLHAR SOBRE A PAISAGEM...
. AS «JANEIRAS» E OS «REIS»...
. BLOGUES A VISITAR