Hoje
Vi um poema em tamanho natural
Numa rua da cidade.
Desta cidade
Que teima em ser jardim
E se corrói
Cansada de ruído
Entre ondas de tédio e desamor.
Estava estendido de bruços na calçada
Coração batendo contra as pedras.
Dormia
Aconchegado ao frio de Dezembro
Às quatro horas da tarde poluída.
Era um poema pequeno
Um quase nada
Aí para os cinco anos de idade
A dar, por certo
Pelo nome de Luís ou de João.
Criança-flor
Murchando no vazio
De um quarto fechado
Sem janelas.
Criança-flor-poema
Composto em carne viva
Com hora marcada no destino
Desta cidade de Sol e de colinas.
Poema genial
Grito nas trevas
A acolher-se o pobre
Por inteiro
À vigilância triste dos poetas
Ante o olhar desatento e citadino.
Soledade Martinho Costa
Do livro «A Palavra Nua»
Isabel Silvestre
De há muito que tinha prometido falar deste último livro de Isabel Silvestre. O problema tem sido a minha falta de tempo. Como autora, escrevo mais do que leio – embora leia (não tanto como desejava). Mas há sempre os livros que recebo dos colegas e que pretendem, depois, saber a minha (modesta) opinião. Aí, não posso, mesmo, falhar.
Tenho um trabalho (longo) começado, projectos para editar outro livro de poemas e um de crónicas. Tenho um blog e o Facebook. E tenho quatro netos! O tempo escasseia. Quando dou por mim, são três ou quatro da manhã! É verdade que possuo alguma experiência no que se refere a crítica literária. Exerci-a durante anos em jornais e revistas. Já o fiz, aqui, no meu próprio blog. Volto hoje a fazê-lo. Talvez mais exactamente, uma referência a um dos últimos livros que li.
É sua autora a minha amiga Isabel Silvestre (exactamente, essa voz lindíssima de Manhouce). Trata-se, como não podia deixar de ser, de um livro voltado para a etnografia, com o título «Memórias de um Povo», editado por «Temas e Debates – Círculo de Leitores».
Isabel Silvestre escolhe uma frase bonita (e ao seu jeito) para abrir o livro: «Minha terra, minha gente, minha família». E é isso mesmo o que vamos encontrar ao longo das 278 páginas desta obra: um trabalho de pesquisa, exaustiva e minuciosa, que nos fala de «Manhouce: Terras e Gentes»; da «Vida Familiar»; da «Relação com a Terra» e da «Vida Social e Comunal».
Numa linguagem simples mas erudita, vamos, então, percorrendo os caminhos daquilo que é muito nosso, muito português, e que a autora não deseja perder, mas, antes, legar aos vindouros: Lengalengas; Contos-Religião; Rezas; Modos de Falar; Expressões; Pragas; Provérbios; Adivinhas; Quadras; Romances; Histórias do Zé do Gestoso; Amor; Cantar ao Desafio; Encontros; Recordações de Isabel Silvestre e Partituras (cantigas tradicionais).
O livro é acompanhado ainda por um CD, «Festa dos Reis», gravado em 1982 (pelo menos o meu trazia…). Um prazer de leitura, uma simplicidade e rusticidade que agrada e nos faz pensar que os tempos só mudam quando nós deixamos que tal aconteça. Preservar o Passado transportando-o até ao Futuro, como herança de um Povo, que é o nosso, foi o que Isabel Silvestre se propôs fazer, com carinho, empenho e muito trabalho, a merecer a atenção dos leitores.
Soledade Martinho Costa
À memória do meu grande Amigo ANTÓNIO PIMENTEL (TÓPI).
Molha os pincéis no coração
E tinta a tinta
Imprime o movimento
A emoção dos olhos.
A música das cores
Desliza no painel
Escuta-se nas linhas
Que se cruzam
Como artérias de um corpo.
Põe o nome no gesto
E precisão dos dedos.
Veste a nudez da tela
Com o dia dos homens
E das coisas.
Tece o quadro
Como o poeta
A renda do poema.
Ao mais que se disser
Chama-se sonho.
Soledade Martinho Costa
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