Ninguém sabe onde te escondes
Ou aonde te demoras;
Todos os lugares são teus
Dás nome a todas as coisas.
És o rumo dos caminhos
Entre o destino e a poeira
Mas sempre o ponto de encontro
Que busco à minha maneira.
Aqui estou, à tua espera
Do lado de cá do muro
Sem passado, sem presente
À mercê do meu futuro.
Só tu levas o meu sono
Feito de gelo e fogueira;
Quisera estalar os dedos
E esquecer-te sem que eu queira.
Penhorar o mar e a Terra
Vestir o olhar de Sol
Procurar nas madrugadas
Um poema, uma canção.
Encontrar uma razão
Feita de esperas e sonhos
E depois dizer que não
Ao desencontro das horas.
Voltar por ti outra vez
A percorrer o relógio
E ver-te todas as vezes
Nos quatro cantos do Mundo.
Quando achar novas de ti
Quem tu és e porque tardas
Visto um hábito de monge
Ato o cordão à cintura
E solto as palavras todas
Caladas à tua espera
Neste meu poço sem fundo.
Soledade Martinho Costa
Ser barco que navega / em mar de esperança. / Na rota um só milagre: / o horizonte. / E ser azul no vento / verde / norte. / Sem mais temores / que o medo da savana / nem lágrimas no rosto / como sorte.
DESABAFO: Camões, o mal-amado, o estouvado do seu tempo, criou uma figura simbólica – o Velho do Restelo – plena de sabedoria, que continua actual, e nos deveria ajudar antes de darmos certos passos na vida.
Os Descobridores, portadores de uma filosofia hebraica – nós somos os escolhidos, o nosso Deus é o verdadeiro - , em nome desse Deus, ultrajaram, precisamente, a obra do Criador. Por isso, pergunto-me como teriam evoluído os povos de outros continentes sem o contacto com essa gente que chegava? O que seria hoje o Continente, dito Americano, e o Africano, se as suas civilizações, as suas gentes, continuassem a avançar de per si? O Mundo seria outro. Mais avançado? Mais atrasado? Uma coisa é certa, as gerações europeias presentes e futuras não carregariam na alma os fantasmas da escravatura e a destruição de civilizações e povos inteiros, da fauna e da flora.
É preciso não repetir os erros do passado, uma vez que não podemos corrigir o que foi feito. Todavia, aquilo que se faça, que não seja feito também de maneira paternalista, desculpando erros graves e até crimes, mas aceitando a diferença como uma realidade do nosso Mundo, e ajudar, realmente, lá, onde o destino nos chamar a colaborar.
SUGESTÃO: Que pode sugerir, um simples mortal, neste mundo de hoje? Que fechem as fábricas de armamento? Que se dê prioridade, na educação, às crianças e aos jovens? Que todos tenham as mesmas oportunidades pelo seu valor e não pelo extracto social a que pertencem? Que a vida não seja uma competitividade desenfreada com vista apenas ao lucro, ficando pelo caminho muitos que, intimidados – ou por falta de padrinhos –, acabam por não nos dar um contributo fantástico?
DISPARATE: Por exemplo: mostrar que o cigarro faz mal e continuar a fazer a sua propaganda na televisão, no cinema, etc., com spots de gente elegante ou como símbolo de liberdade na mulher ou machismo no homem.
ESCÂNDALO: Quando Agostinho Neto, em 1956, esteve preso no Porto, com mais de cinquenta portugueses, o seu advogado, Dr. António Macedo, para o defender, invocou a figura de Jesus. Também Jesus não tinha falado nos interrogatórios, quer dos Romanos, quer dos Judeus. Há muitas semelhanças nestas duas personagens. Os Fariseus, os Sandoussiens, etc., etc., pseudo-defensores da Lei, juntaram-se para o perder. Hoje, Agostinho Neto está morto, mas existem «confrarias» de pseudo-homens de bem que tentam imputar-lhe os seus próprios crimes – crimes de diversa ordem. A História, porém, não os deixará impunes. Dirá quem foram. Reduziram Angola a pó. Agora, querem também aviltar o espírito e o nome de Agostinho Neto. Mas ele sairá vencedor de mais esta batalha e com ele o povo Angolano.
APLAUSO: O meu aplauso vai para aqueles que, desinteressadamente, ajudam os outros: os doentes de sida, os velhos, os solitários, as crianças. Hoje em dia é muito raro encontrar alguém que queira ajudar sem receber nada em troca. Aplaudo também os ecologistas, os homens de ciência, os antropólogos, os arqueólogos, os botânicos, os físicos, todos os que contribuem para se entender o nosso Mundo e o universo na busca da harmonia e da verdade.
EXPECTATIVA: Há paz ou não há paz em Angola? Calam-se ou não se calam as armas? As gerações futuras terão ou não terão uma Pátria digna? Conseguir-se-à construir uma Pátria em que cada homem tenha voz igual, ou esta angústia será para sempre?
PREOCUPAÇÃO: Preocupo-me muito quando assisto ao espezinhamento dos valores que herdámos. Refiro-me aos que são válidos ainda hoje e que o serão sempre, enquanto a Humanidade existir. A solidariedade, por exemplo. São tão poucos aqueles que a praticam, que faz medo.
EMOÇÃO: Quando não podemos controlar a vida! Quando o organismo humano continua um mistério; quando pode bastar apenas um salto mais ousado de um electrão no mundo planetário do átomo para desencadear na célula, no tecido e no corpo humano reacções e danos ainda não palpáveis à Ciência. Quando o milagre da Vida se afirma no crescimento de uma criança e se verifica que «na primeira semente estavam todas as árvores».
AMOR: O que o Homem não pode fazer quando é movido por este sentimento tão belo! Quantos políticos, quantos cientistas, quantos religiosos, tudo deram por amor sem pedir contrapartidas. Quando agimos por amor, mesmo o sofrimento e as dificuldades são vencidos. Sentimo-nos fortes como uma muralha.
SAUDADE: Tenho saudades da minha mãe, da minha avó…A minha avó é sempre a figura querida que surge no mais profundo de mim. Mas tenho outras saudades. Tão profundas, de que nem quero falar.
SONHO: É sempre o sonho que a alimenta a vida. O sonho anda de mãos dadas com a esperança. É ele que faz as transformações sociais. É ele que nos leva a apreender a matéria. Foi ele que nos levou ao Cosmos. Sem sonho não há progresso. Já nos levou à desintegração do átomo e à engenharia genética…
MEDO: Medo das alturas. Medo das profundidades. Medo da morte. A morte é o fim?
INTIMIDADE: Em casa, procuro fazer parte do Cosmos para não me sentir tão sozinha.
FIGURA PÚBLICA MAIS: Agostinho Neto, por ter sido um político e ter sabido ser um homem verdadeiro. Ele será a fonte pura onde terão de beber as gerações futuras. Nem todas as «mezinhas» impedirão que tal não aconteça, tenho a certeza disso. A História mostrará toda a verdade e julgará a trama criminosa de que ele foi e está a ser vítima. Agostinho Neto amou com um amor extraordinário o seu povo e quem ama não mata. Não são precisos os diamantes das Lundas, para que ele – mesmo no seu mausoléu – continue a irradiar amor, inteligência e bondade.
FIGURA PÚBLICA MENOS: Hitler.
CALENDÁRIO: Tenho poemas inéditos e comecei um livrinho infanto/juvenil. Tudo sem calendário e dependendo das possibilidades da inspiração e das possibilidades da publicação. Espero recomeçar a estar activa.
Ideia e coordenação: Soledade Martinho Costa
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