Desenhei
No espaço
Um traço
Seguido de mais outro
E de outro ainda.
Mirei-os
Depois
De baixo
Dos lados
E de cima.
Coloquei-me
À distância
Analisei-os
A lente.
Procurei
Também
Na cor
No movimento
Nos espaços
Entre os traços
Na solidez das linhas.
Estudei
Vice-versa
O fim e o começo
Investiguei-os
Minuciosamente
Do avesso.
Nada encontrei
Porém
De maior vulto
Que do trajecto
O risco
Que os anima.
Soledade Martinho Costa
A vida / toda ela / se constrói dia após dia. / Mais cheia / mais audaz / ou mais vazia. / Tudo depende de se ser capaz. / Que não se diga / ser só / obra da estrela que nos guia. / Merecer é lutar por aquilo que se faz.
DESABAFO: Não gosto de definições. Definir é cercar com um muro de palavras um terreno vago de ideias.
SUGESTÃO: Vá ao teatro.
DISPARATE: Gosto de fazer disparates. Felizmente.
ESCÂNDALO: Viver.
APLAUSO: A grande apoteose da solidão.
PREOCUPAÇÃO: Arranjar dinheiro para as ter.
EMOÇÃO: A reabertura do Politeama. Era um escândalo estar fechado e todos termos culpa.
AMOR: Passamos metade da vida à espera daqueles que amamos e a outra metade a mandá-los embora.
SAUDADE: Dos actores que saíram de cena: António Cruz, Mário Viegas, Sara Lima, Irene Isidro, Varela Silva, Curado Ribeiro…
SONHO: O que vale a pena para viver.
MEDO: Todos temos medo. Isso não tem nada a ver com coragem.
INTIMIDADE: Não me chateiem, por favor.
FIGURA PÚBLICA MAIS: Os actores portugueses.
FIGURA PÚBLICA MENOS: Os políticos portugueses e afins.
CALENDÁRIO: Odeio calendários, datas, horas, reuniões.
Autoria e coordenação: Soledade Martinho Costa
In Notícias Magazine/ 1999
Nota – Não conheço pessoalmente Filipe La Féria. Mas conheço o seu trabalho. Batalhador incansável, lutando contra revezes e muros difíceis de transpor, a ele se devem muitos dos grandes êxitos do Teatro em Portugal dos últimos anos. Um homem multifacetado (excelente poeta!), com ele falei apenas uma vez. Bastou-me para aquilatar da sua cordialidade e simplicidade. O seu amor ao Teatro e o seu trabalho, ao pôr de pé grandes espectáculos, tem dado origem ao aparecimento de novos valores na arte de representar, incluindo as próprias crianças. Galardões, prémios, lotações esgotadas, críticas felizes, projectos e realizações. Naturalmente, esta surpresa, também, de se poder reler aqui, neste «P.M.P.», publicado há 11 anos.
Nesta nota, além da minha homenagem, fica um recadinho: ainda não levantei na bilheteira os bilhetes que me ofereceu – mas tenho assistido aos seus espectáculos. Um destes dias vou aproveitar, garanto-lhe!
Fica um abraço cordial.
S.M.C.
Um Violino no Telhado, Teatro Rivoli, 2008
Parado no meio do tempo
Na serra havia um pastor
Alguém que o nome esquecia
Nas horas que apascentava.
Água da fonte, da terra
Da serra, nela morava.
Na serra havia um pastor
Guardado pelo seu rebanho
Ermo destino e engenho
Poema que acontecia.
Água da fonte, da terra
Da serra, nela morria.
Parado no meio da vida
Na serra havia um pastor
A tê-la apenas por tida
Cada dia que chegava
Sem saber o que podia
Sem dizer o que tardava.
Ai, pastor, que sina a tua
Nasce o Sol, põe-se a lua
E não se quebra o encanto.
Sozinho lá no teu canto
Embriagas-te no canto
Que te traz a cotovia.
E quando o escuro te aquece
Sufocas em ti o pranto
De uma lágrima tardia.
Fazes de conta que esqueces
Esperas a luz de outro dia
E sem sonhar adormeces.
Soledade Martinho Costa
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