O meu amigo Rui Vasco Neto, do blog Sete Vidas como os Gatos, incluiu-me, há umas semanas atrás, no grupo de 10 pessoas, possuidoras de blogs, para responder a 10 perguntas sobre literatura. A disponibilidade de tempo tem sido pouca, mas hoje aqui vão as respostas a esta «corrente literária» – que, da minha parte, já tardava, evidentemente. No final, fica o convite a mais outros 10 bloguistas, que sei terem um afecto especial por livros. Obrigada Rui pela nomeação (já julgava que não respondia, verdade?), e aqui deixo um bem-haja a quem de tal inquérito se lembrou.
Sei que podia optar por escrever apenas umas linhas para responder a cada uma das perguntas deste questionário. Mas, decididamente, não o vou fazer. É tanto o prazer que me dá recordar leituras, autores e livros de há muito esquecidos, que decidi escrever, escrever, escrever, «até que a mão me doa». Lembrar o que li na infância, recordar as leituras que se seguiram, na adolescência, depois, um pouco mais tarde, outros livros – quantos deles já esquecidos, não fora esta a maneira de retornarem à minha lembrança… Depois outros ainda, pelos anos fora, até hoje. Nenhum outro inquérito me deu maior satisfação em responder. Só não sei se a opinião de quem me lê vai ser a mesma. Duvido. Penso, mesmo, que não. Desenvolvi demasiado as respostas. Tenho consciência disso. Mas não abdico do gosto que me deu fazê-lo. Peço desculpa, mas não podia desperdiçar esta oportunidade. Não resisto ao agrado de escrever sobre as minhas leituras, passadas e presentes. O que tem mais graça, é que fica quase tudo por dizer. Acreditem!
1 – Existe um livro que relerias várias vezes?
Ao longo dos anos já aconteceu reler alguns livros, mas não várias vezes (a não ser os da infância, esses sim!). Releria «Voltar Atrás para Quê?», de Irene Lisboa. Tocou-me profundamente. Um livro do qual se fala muito pouco. Releria também o único livro de José Duro. Só não me atrevo, porque já sei o resultado. Comoveu-me de tal maneira, que temo voltar a reler aqueles poemas tão sentidos, tão belos e tão dramáticos, de uma tristeza tão dolorosa, escritos por um jovem que sabia não lhe dar a vida tempo para escrever um segundo livro…
2 – Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e nunca conseguiste ler até ao fim?
Li muito recentemente o «Ensaio sobre a Cegueira», de José Saramago. A certa altura, julguei que não seria capaz de ler o livro até ao fim. Mas fui lendo. E voltava sempre a pensar que não seria capaz de continuar a leitura. Não no sentido que a pergunta deixa subjacente (livro de fraca qualidade literária, maçador, medíocre…). Isso, não. Achava o livro de Saramago fantástico, mas era eu, apenas eu, que não estava preparada para aguentar a força daquela escrita, que nos apanha desprevenidos: a formidável imaginação do autor, as situações arrepiantes e dramáticas com que nos faz olhar o nosso semelhante, ou a Humanidade, se quiserem, descritas de maneira a um tempo real e ficcionista, ao longo das páginas. E mais admirava Saramago, conforme o ia lendo. Ao mesmo tempo que o facto de o ler me incomodava, me fazia mal, admito. Certa noite jurei a mim mesma: «Acabou-se, não leio mais!». Simplesmente, senti que traía o autor e me traía a mim própria, enquanto leitora. E acabei por ler o livro até ao fim. Foi penoso, confesso. Ficou-me para sempre o retrato de uma sociedade destruída, sofredora, inimaginável, que não sendo a real (ou será?), Saramago retratou de forma exemplar na sua complexidade, numa simbiose de virtudes e defeitos, apanágio, afinal, de todo o ser humano.
3 – Se escolhesses um livro para ler no resto da tua vida, qual seria?
A Bíblia. Sou católica não praticante, mas escolheria a Bíblia, sem dúvida.
4 – Que livro gostarias de ter lido mas que, por algum motivo, nunca leste?
Não me ocorre nenhum título. Geralmente, leio o que mais me agrada – quando sou eu a escolher. Mas, sim, no meio de um mar de livros, numa livraria, por exemplo, há sempre o risco de deixar para trás um ou outro livro que gostaríamos de ler e que não trouxemos…
5 – Que livro leste cuja «cena final» jamais conseguiste esquecer?
Sempre gostei muito de livros policiais, particularmente de Agatha Cristie e de Erle Stanley Gardner. Houve uma época em que li dezenas e dezenas, todos seguidinhos…Curiosamente, há muito que não leio nenhum As prioridades começaram a ser outras. Que me lembre, «uma cena final» inesquecível, acho que só a encontrei nesse género de literatura. E mesmo inesquecíveis, a verdade é que não retive nenhuma delas para recordar aqui. Mas lembro um episódio caricato, ocorrido em cima do 25 de Abril. Fazia eu um trabalho para a Associação Portuguesa de Escritores, no tempo em que era presidente Maria Velho da Costa. Por essa altura, desloquei-me a diversas empresas, para saber se tinham ou não bibliotecas. No caso de terem, que obras possuíam, qual o interesse dos trabalhadores, se requisitavam livros, etc., etc. Pois na visita que fiz à Dyrup, na reunião com uma Comissão de Trabalhadores, foi-me dito que sim, que tinham uma biblioteca. No entanto, um dos elementos apressou-se a esclarecer: «Mas olhe que os livros policiais, foram todos queimados, não restou nem um!». Tempos de uma revolução de cravos…
6 – Tinhas o hábito de ler quando eras criança? Se lias, qual o tipo de leitura?
Sim, tinha. E de que modo! Com 5 anos escrevi o meu primeiro poema. Não sabia ler e nem se falava em Pré-Primária. Fiz uns riscos num papel e fui mostrar a uma tia minha. A resposta foi de um bom-senso sem limites (hoje o reconheço, e a minha tia, felizmente, está viva): «Bonito. Vai escrever mais, minha linda!». Palavras que me terão levado a escrever poesia até hoje! E tinha dezenas e dezenas de livros, todos muito certinhos, muito arrumadinhos por colecções, numa grande caixa de cartão debaixo da minha cama: o meu tesoiro! Lidos e relidos, começava numa ponta e acabava na outra, vezes sem fim. Serviram de muitos empréstimos aos meninos e meninas meus amigos. Ainda conservo parte deles e são uma relíquia: Colecção Contos de Encantar (livros pequeninos, restam-me 30 e poucos); Colecção Coelhinho Branco (mais de uma dezena): Colecção Manecas (outros tantos); Colecção Pequenina (aí uns 6); Colecção Bebé (4); Colecção Azul («O Caminheiro», da Condessa de Ségur). E depois os Contos de Andersen, as Fábulas de La Fontainne, de Esopo, de Perrault, por aí…O mais interessante, é que cheguei a conhecer pessoalmente e a ter o privilégio da sua amizade e convivência, com três dos autores que li na infância: Adolfo Simões Muller, José de Lemos e Noémia Setembro. Nessa altura, já eu escrevia. Cheguei a entrevistá-los para o extinto «O Jornal da Educação», do qual fui colaboradora, dirigido pelo meu saudoso e querido amigo Afonso Praça.
No dia dos meus anos, pelo Natal, fosse em que ocasião fosse, se me perguntavam «o que é que tu queres?», eu respondia: «um livro.» Certa vez, num grande café no Porto, os meus pais levaram-me a lanchar. Sei que era Inverno, porque o meu pai me disse: «Filha, vais beber um copo de chocolate quentinho!». Respondi: «Sim, mas quero um livro!» e logo a minha mãe: «Bebe o chocolate. Hoje é domingo, não há livros. Está tudo fechado.». Veio o chocolate e o meu pai levantou-se e saiu. Quando regressou trazia alguns livrinhos na mão. Até hoje, considero esse episódio (que nunca esqueci) como um verdadeiro milagre!
7 – Qual o livro que achaste chato mas ainda assim leste até ao fim? Porquê?
Alguns livros de poesia. Porquê? Impenetráveis, elitistas, fracos. Não os consegui ler até ao fim. Nem metade!
8 – Indica alguns dos teus livros preferidos.
Sempre li muito. Era um tormento para a minha mãe: «Soledade, apaga a luz, é muito tarde!». Lia o que era meu e o que não era. Acho que li todos os livros dos meus familiares, dos amigos e também dos vizinhos! Aí por volta dos meus 14 e até aos 18, 19 anos, penso ter lido os livros da minha rua inteira, em Alverca do Ribatejo! Sabendo da minha loucura por livros, eram as pessoas que se ofereciam para mos emprestar. Li o bom e o mau, é claro. Costumava deixar bilhetinhos na mesa-de-cabeceira do meu pai, à noite, sempre com ele a dormir (não me perguntem porquê): «Preciso de livros, beijinhos!»; «Já não tenho livros, beijinhos!». E o meu pai nunca me desiludia. No dia seguinte, à noite, quando chegava a casa, lá vinha o embrulhinho, geralmente da Bertrand ou da Livraria Portugal, com 3 ou 4 livros. Por essa altura li os nossos clássicos: Júlio Dinis, Camilo, Eça (lido e relido) Cesário, Mário de Sá Carneiro, Raul Brandão, Guerra Junqueiro, Camilo Pessanha, entre outros.
E seguiram-se uma infinidade de obras e de autores, entre portugueses e estrangeiros, entre poesia e prosa: Luísa Alcott («Oito Primos», «Boas Esposas»), Pearl Buch (Altivez»), «Diário de Anne Frank», Aquilino Ribeiro («A Via Sinuosa»), Ferreira de Castro («A Volta ao Mundo»), Almada Negreiros, Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes, José Régio («A Chaga do Lado»), Colette («Chéri», «O Fim de Chéri»), Jorge Amado (quase toda a obra), Emílio Zola («Naná», «Roupa Suja», «A Besta humana»), V. Blasco Ibañez («Vontade de Viver», «Flor de Maio»), Balzac («O Lírio no Vale»), Tolstoi («Os Cossacos»), Stefan Zweig («O Medo»), Bernard Shaw («Casamento Desigual»), Máximo Gorki («Voragem»), Francesco Perri («Os Emigrantes»), John Steinbec («A Leste do Paraíso», «As Vinhas da Ira»), Erneste Hemingway («As Verdes Colinas de África», «Na Outra Margem entre as Árvores»), Erich-Maria Remarque («A Centelha da Vida», «A Oeste Nada de Novo»), Irving Wallace («O Prémio»), Hans Ruesch («No Telhado do Mundo»), Ercole Patti («Um Amor em Roma»). E tantos, tantos outros. Depois, só autores portugueses (alguns meus amigos, como é natural): Florbela Espanca, Almada Negreiros, Irene Lisboa, Carlos de Oliveira, Jorge de Sena, Natália Correia, Maria Velho da Costa, Manuel da Fonseca, Luísa Dacosta, Fernando Namora, Dinis Machado, Cardoso Pires, Baptista-Bastos, Olga Gonçalves, Hélia Correia, Lídia Jorge, Manuel Ferreira, Urbano Tavares Rodrigues, Agustina Bessa-Luís, António Lobo Antunes, Torga, Saramago, Sidónio Muralha, Sophia de Mello Breyner, Rita Ferro, Vergílio Ferreira e João de Melo (com o seu «Gente Feliz com Lágrimas», um dos meus livros preferidos). Sei que muitos nomes de autores ficaram por dizer. Muitos títulos também Mas já vai longa a lista. Absolutamente desordenada – à semelhança das leituras que foram feitas.
9 – Que livros estás a ler?
Ultimamente, tenho lido alguns dos livros editados pela Contraponto, do meu querido e saudoso Luíz Pacheco: Pablo Neruda («Uma casa na Praia»), Vergílio Martinho («Relógio de Cuco», admirável!), Anton Tchekov («A Minha Mulher»), Dostoiewski («Noites Brancas»), Hélia Correia (Villa Celeste», adorei!), Maria Amália Vaz de Carvalho («Cartas a Luísa») e do próprio Luíz Pacheco («O Uivo do Coiote» e «Prazo de Validade»). Do mesmo autor, estou a acabar de ler «Isto de Estar Vivo».
10 – Indica 10 amigos para responderem a este inquérito.
Aqui ficam os nomes dos amigos e dos respectivos blogs. Para mim, foi um prazer esta peregrinação pelas recordações das minhas leituras. Mais distantes ou mais recentes. Saudações literárias para todos e respondam, please!
Carlos Ferreira, do Garatujando; Rita Ferro, do Acto Falhado, Isabel Fidalgo (Ibel), do Frutos de Mim e Mar; Rui Almeida do Poesia Distribuída na Rua; Francisco Moita Flores, do Projéctil; José Fanha, do Queridas Bibliotecas; Miguel Rodrigues Loureiro, do Contra-Facção; Armando Pinto, do Lôngara – Actividades Literárias e Memória Alvis-Anil; Fernando Cardoso, do Portal de Apoio e Amadeu Baptista do Amadeu Baptista.
Soledade Martinho Costa
Pois é, o Sarrabal está de parabéns. Faz hoje 4 aninhos!
Quando comecei, em 2007, não acreditava que fosse tão longe. Dava os primeiros passos, ainda hesitantes, neste mundo virtual, que me era desconhecido. Mas, aos poucos, foi-se instalando em mim, enquanto autora, uma espécie de responsabilidade para com os meus leitores (que os fui tendo). Depois, criei um certo gosto por publicar aqui o que muito bem me apetece. É bom. Não saindo nem abdicando do estilo que adoptei desde o início, tenho vindo a captar cada vez mais leitores (o «sitemeter» assim o indica). Bom sinal. Se os comentários são poucos, aceito que a maioria das pessoas que visitam o Sarrabal se sintam inibidas, por qualquer razão, de o fazerem. Tenho amigos que não comentam, embora leiam aquilo que escrevo. Mais facilmente me dão o seu parecer numa conversa pessoal, pelo telefone, ou por e-mail. Ficam os outros, os que se tornaram meus amigos para além da blogosfera. Esses, são visitas e comentadores regulares, sempre gentis, nos comentários que me dirigem.
E o tempo vai passando. Foi passando, melhor dizendo. E vão quatro anos, até hoje. O meu desejo é que possa repetir mais vezes este aniversário, sinal de que continuo a amar as palavras – minha «matéria-prima» – e a utilizá-las tão bem quanto sei e posso. Nos poemas, nas crónicas e nos restantes textos que vou publicando neste blog. Que continue a contar também com o interesse dos meus leitores. Sem eles, não mereceria a pena escrever. Ou talvez merecesse, no sentido de ser eu própria, apenas, a leitora dos meus posts – há sempre que ter em conta alguma excentricidade da parte daqueles para quem a escrita é tão necessária como o oxigénio que respiram. Que lugar-comum esta comparação! Não gosto. Prefiro esta: …para quem a escrita é tão necessária como olhar o azul do mar até ao rés do horizonte. Ou talvez esta:… como escutar o canto das aves a despertar nos lençóis da madrugada. Fica mais poético assim.
Mas há uma novidade: tenho uma página no Facebook. Renitente, renitente, mas acabei por fazer a vontade à minha neta Teresinha. Não estou arrependida. É um mundo diferente, vertiginoso, onde as novidades se multiplicam, onde os nomes têm rosto, onde os amigos dos amigos nossos amigos são (conquanto eu prefira os amigos que conheço). Trata-se de uma experiência nova para mim. Um desafio. E vou aprendendo a lidar com técnicas curiosas e avançadas, que têm a finalidade, talvez, de aproximar as pessoas, de descobrir, afinal, que podemos estar acompanhados em vez de estar sozinhos. Mesmo que essa proximidade não passe de uma ilusão. Ainda assim, prefiro o meu blog, o Sarrabal!
Vamos, então, apagar as velas? Grata a todos vós, leitores, por mais um ano. Bem-hajam!
Soledade Martinho Costa
OUTRO ANIVERSÁRIO
AMÁLIA FARIA HOJE 91 ANOS
Por casualidade (ou não), já o disse outras vezes, o aniversário do Sarrabal coincide com a data do aniversário de Amália Rodrigues. Não posso, nem quero, salientar um deles sem que, obrigatoriamente, refira o outro. Assim o tenho feito.
Se Amália fosse viva, completaria hoje 91 anos de idade.
A sua voz, incomparável, única, traz-nos a lembrança e a saudade. Mas também nos acompanha e acompanhará, intemporal. Eterna voz que nenhuma outra substitui. Guardada em nossos corações e memória a pessoa que foi Amália. Viva em nossos ouvidos e na alma, agora e sempre, a voz que nos emociona, nos deslumbra, e continuará a acompanhar-nos na voragem dos dias que hão-de perfazer as nossas próprias vidas.
E porque admiro a poetisa que foi Amália, aqui vos deixo um poema de sua autoria:
HORAS DE VIDA PERDIDA
Horas de vida perdida
À procura de viver
Vai-se à procura da vida
Não a encontra quem quer.
Quem sou eu para dizer
Quem sou eu para o saber
Nem sei se sou ou não sou
Ninguém pode conhecer
Isto de ser e não ser.
Sem saber sei entender
Assim, sei o que não sei
Sinto que sou e não sou
Entre o que sei e não sei
A minha vida gastei
Sem conseguir entender.
Ai, quem me dera encontrar
As rimas da poesia
Ai, se eu soubesse rimar
Tantas coisas que eu dizia.
Amália Rodrigues
Do livro «Versos»
Ed. Livros Cotovia
Deixar o coração voar sozinho / e ser ainda gesto / ser sorriso / ser luz que se divisa / ser farol. / Ser tudo quanto baste / e for preciso / para dizer ao Mundo / há um caminho / e atrás de cada noite / um arrebol.
S.M.C.
DESABAFO: Será que os meus bisnetos conseguirão ver o meu Sporting ganhar um campeonato nacional?
SUGESTÃO: Uma viagem pelo Alentejo e pela sua memória. O reencontro com Fernando Namora ou com Manuel da Fonseca, com a alvura das paredes e a tranquilidade das ruas. A redescoberta de Évora, de Estremoz, de Arraiolos, o olhar sobre a Espanha com os olhos de Jeromenha, o peixe frito de Mértola, a caldeirada de barbos de Moura, o cabrito à pastora de Beja, o caldo de cação de Serpa, regado com as reservas da Vidigueira, de Borba e Portalegre, com passagem pelo Redondo. Depois, cantar em coro pelas ruas de Aljustrel ou nas tabernas de Pias e acabar em Barrancos, em sapateados e cantigas, quando as vozes já começam a mudar de cor.
ESCÂNDALO: Qual? Quais? Não conheço, logo não existem.
APLAUSO: O mandato de prestígio como Presidente da República que está a ser feito por Jorge Sampaio, a Expo’98, o Prémio Nobel da Literatura para Saramago.
EXPECTATIVA: Que José Saramago escreva muito e fale pouco. Quando escreve, aproxima-nos, quando fala, afasta-nos.
PREOCUPAÇÃO: Devia responder que estou preocupado com a paz e essas coisas. Mas neste momento a principal preocupação é terminar o livro que tenho agora em mãos. É um acto de paixão demasiado grande que me preocupa até à insónia.
EMOÇÃO: A audição do Requiem de Mozart no Carnegie Hall, em Nova Iorque, no Verão passado.
AMOR: São Francisco d’Assis. Amo-te, meu irmão pássaro, minha irmã árvore, minha irmã mulher, minha irmã criança, minha irmã água…
SAUDADE: Sobretudo do futuro e das coisas não vividas e dos meus tempos de menino a brincar ao pião e às escondidas no maior recreio do Mundo – o pátio da minha escola cravada no meio do Alentejo com os montes ao longe a murar a ilusão do limite.
SONHO: De uma Noite de Verão, representado no Barbican Theatre no sempre desejado retorno ao encontro mágico com Shakespeare.
MEDO: A emoção mais inteligente que sentem todos os homens corajosos.
INTIMIDADE: O encontro com o espelho depois de me levantar. Barba por fazer, cabelo desgrenhado, olhos inchados e o espelho a gozar: Eh pá, és feio p’ra caraças!
FIGURA PÚBLICA MAIS: O Bispo resignatário de Setúbal, D. Manuel Martins.
FIGURA PÚBLICA MENOS: As figurinhas medíocres e pequeninas da política, da arte, do espectáculo, que estão na moda tão relampejantes e efémeras quanto a própria moda.
CALENDÁRIO: Não tenho. Às vezes descubro espantado que é domingo, outras vezes fico surpreendido quando me apercebo que ontem foi domingo.
Autoria e coordenação: Soledade Martinho Costa
In Notícias Magazine/1999
Nota – Apreciei Francisco Moita Flores quando, na Rádio, respondia diariamente aos ouvintes que lhe colocavam situações pessoais, por vezes dramáticas. A sua sensibilidade, as palavras solidárias e amigas, os seus conselhos, o seu sentido de humanidade, patentes nas respostas, despertaram em mim a simpatia e o gosto por ouvi-lo, nesse seu programa, ao final das tardes. Foram, também, os «Casos de Polícia», emitidos pela SIC, em resultado das suas anteriores funções como inspector da Polícia judiciária. Da minha parte, a mesma sensação de simpatia e apreço. Foram, ainda, as telenovelas e a sua faceta de escritor. O seu amor pelo Teatro. Convidei-o, então, para responder ao inquérito «Por Mão Própria». Falámos pelo telefone. A mesma simpatia e a mesma simplicidade.
Hoje, dou a vez a Francisco Moita Flores, aqui, no Sarrabal. Não ponho em destaque a sua liderança como actual presidente da Câmara Municipal de Santarém, nem os seus dotes de excelente escritor. Prefiro distingui-lo pelas suas qualidades de pessoa acessível, onde a simpatia, a competência e o sentido de responsabilidade se complementam para dele fazerem a figura pública, estimada e respeitada, que todos conhecemos.
Um abraço amigo para si, Francisco Moita Flores!
S.M.C.
(Ao Carlos Ferreira)
Ao redor dos teus ombros
Dos teus pulsos
Sobre um mar
Forjado
Onde o Outono
Se despede dos frutos
E das aves
Há barcos à deriva
Naufragados na mentira
Que te amordaça a sombra.
À volta do teu corpo
Dos teus passos
Nas manhãs
Enevoadas do olhar
Os mesmos rios
Confusos
Entre as margens
Os mesmos dias calados
Por dizer
O mesmo voo
Sem asas
Sufocado
As mesmas rosas
Esfolhadas
Por abrir.
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