Logo o título nos começa a cativar: Avó Batata? Que nome tão estranho para uma Avó! Bom, vou informar-vos que esse nome derivou do seu querido neto, e meu irmão Rafael, o Rafa. Em pequenino, decidiu para a Avó esse nome. Eu, que conheço praticamente todos os segredos da família, não o sei. Bem, passando à frente…
Assim que entramos na sua casa o cheiro a peru assado e recheado, a bacalhau cozido… Tudo famosos pratos e cozinhados da minha Avó. Bom, a verdade nua e crua é que todas as avós com netinhos pequeninos e mesmo já crescidos sabem cozinhar, especialmente em épocas festivas, imensos pratos deliciosos e que deixam água na boca. Mas a nossa Avó não é dessas, que se limitam a fazer docinhos de ovos e bolos de laranja. A Avó Batata faz de tudo: salada de fruta, arroz-doce, bolos, broinhas, peru recheado, massas, bacalhau cozido, saladas, batatas fritas e a sua canja é a melhor iguaria jamais cozinhada por um humano (sim porque apenas um anjo poderia cozinhar aquilo!).
O Natal sempre foi para o ser humano uma época festiva muito importante e significativa, não só pela ansiedade de receber prendas misteriosas, mas também por estarmos um pouco com a nossa família e comermos petiscos saborosos. O Natal é um momento para desfrutamos da tranquilidade de férias da escola e trabalho e para usufruirmos da generosidade das pessoas que mais amamos e que mais nos amam.
Porém, o Natal na casa da Avó Batata é sempre um pouco melhor!
Bom agora tenho de ir; vou mostrar este texto à minha Avó… Acham que ela vai gostar? Esperemos que sim...
Até para o ano e até ao próximo Natal!
Maria Teresa - (10 anos) - texto não corrigido.
Querida neta Teresinha:
Gostei muito do teu texto sobre «O NATAL EM CASA DA AVÓ BATATA». Está bem escrito e continuo a acreditar que podes vir a ser a escritora que tanto desejas. Reparo que aproveitas todos os momentos para escrever. Mesmo quando vieste jantar com a avó, lá foste tu, assim que foi possível, para o computador e o resultado foi o texto que pode ler-se acima e que me ofereceste. Dizes que gostas mais de escrever do que ler – embora leias muito. É o caminho certo para realizares o teu sonho, meu amor. Mas quero dizer-te que fiquei rendida com os elogios que me fazes enquanto avó-cozinheira! A canja (de que tanto gostas) associada a um anjo, só podia partir de ti, Teresinha. Fiquei vaidosa!
Agora a explicação sobre a origem do nome Avó Batata. Foi assim: o teu irmão Rafael era muito pequenino, tinha começado a dizer as primeiras palavras. Além de pai e mãe aprendeu (sabe-se lá porquê) a dizer tacho e batata – talvez porque gostava muito de batatinhas, Daí, associando, naturalmente, uma coisa de que gostava (batata), à avó de que também gostava muito, começou a chamar-me «Vó Batata»! E com este nome fiquei até hoje. Depois nasceste tu, a seguir a Soli, e ambas acabaram por adoptar esse nome. Esta é a história, que tu já soubeste, mas que, entretanto, já esqueceste. Devo ser a única Avó Batata do Mundo, não achas?
Quero dizer-te ainda que adorei o jantar especial que fiz aqui em casa com os meus queridos netos: tu, Teresinha, o Rafa e a Soli – a Xana não esteve presente por ser muito pequenina. Foi perfeito. Não há dúvida de que os meus queridos netos estão crescidos. Bem comportados, comeram «este mundo e o outro», conversaram, riram, divertiram-se. Até à 1 hora da manhã, quando foram para casa. Não vou esquecer esses momentos maravilhosos que passei com o meu «imperador» e as minhas duas «imperatrizes» (a terceira estava a dormir)!
Que no próximo Natal possamos repetir o jantar com a mesma alegria que nos uniu este ano. E que o Novo Ano de 2011 traga para os meus netos tudo de bom: saúde, alegria, harmonia, paz, a continuação de notas escolares excelentes, a partilha e a solidariedade para quem precise de vós, o amor à Família, a Deus, a Esperança num Mundo melhor.
Com todo o amor da Avó Batata.
(Soledade Martinho Costa)
José
Retoma o sonho fugidio
Que a Primavera insinuou
Na asa multicor da borboleta;
Rejeita o calendário.
Maria
Inventa no tecto sem telhado
Os dias por achar
Sobre o colo
Decifram-se-lhe as contas de um rosário.
O Menino
No berço
Contempla a ausência dos pastores
Da estrela
Dos reis magos.
Concebido com pecado
Mais cedo do que Ele
Percorre o caminho do Calvário.
Soledade Martinho Costa
Tradição que se perde no tempo, realiza-se no dia 13 de Dezembro de cada ano, a popular Feira dos Capões de Freamunde, em Paços de Ferreira (a cerca de trinta quilómetros do Porto), data também dedicada a Santa Luzia, que se venera nesse mesmo dia, como só a fé do povo o sabe fazer, na sua Capelinha de Santo António, situada no terreiro da feira.
Capela de Santo António
Tanto quanto se sabe, um primitivo oratório de ermitão, a capela, a partir da constituição da Confraria, em 1629, adquiriu notável importância, com o papa Urbano VIII a conceder diversas indulgências e privilégios aos seus membros. Em 1936 é transferida para outro lugar, embora a manter-se no terreiro, sem que a traça original tenha sido alterada, com a imagem de Santa Luzia, no seu altar, a atrair desde sempre a veneração dos fiéis
Romaria rural antiquíssima, ligada pelo nome à advogada dos olhos, outrora com promessas de «olhos vivos» (animais vivos), encontra o seu ponto alto na sugestiva Feira dos Capões, cuja instituição oficial remonta a 1719, por provisão do rei D. João V, datada de 3 de Outubro, realizando-se a feira pela primeira vez no dia 13 de Outubro desse mesmo ano.
Este decreto terá tido, tão-só, a intenção de acautelar os interesses da Confraria de Santo António, à qual pertencia, antigamente, o terreiro onde se realizava a feira dos famosos capões – frangos capados por meados de Março, com pouco mais de três meses e dois quilos de peso, amputados dos seus órgãos reprodutores, de modo a que a sua carne atinja um refinado e inigualável sabor. O seu peso varia entre os três e os sete quilos, sendo os de maior valia os de penas avermelhadas, enquanto os de plumagem negra ou pedrês possuem um valor menor.
O costume medieval de capar os frangos, de que há registos em documentos datados do século XV, era, segundo parece, já prática corrente em Freamunde séculos antes da sua legalização. É de supor que por essa época a prática de capar os frangos não se limitasse somente a Freamunde, onde, supostamente, se procedia, nesses tempos, sobretudo à sua comercialização. Hoje já assim não é. Segundo informação, há quem se entregue à tarefa de capar à roda de quatrocentos frangos por ano…
Da «operação cirúrgica», dir-se-à arriscada e complicada, e que só as mãos experientes serão capazes de um verdadeiro milagre. Se a «operação» for um êxito, tudo bem. Mas se assim não for, os capões passam a ser apelidados de «rinchões», o que não é de todo agradável nem para os bichos, nem para as outras aves que com eles convivem, uma vez que se tornam agressivos, e muito menos para quem os compra – por engano ou enganados.
Se a «cirurgia» resultar imperfeita, o animal, como não é um galo, mas também não é um capão, vá de insurgir-se contra tudo e contra todos, tornando-se numa espécie de galinha, a cantar como um galo, infeliz e desadaptado. Outras vezes, os animais tornam-se nuns seres tristonhos, embora bonitos e vistosos, passivos, incapazes de defender-se, se bem que engordem sem necessitar de rações especiais, copiando a postura das galinhas, em cacarejos e assustadiços, chegando ao ponto de se deixar bicar por elas. Quando assim é, o seu valor comercial baixa bastante. A sua carne tem as características de outro galináceo qualquer, a deixar enganar facilmente o comprador, pois, na aparência, ninguém dirá que não se trata de um verdadeiro capão. A única maneira de descobrir se o bicho é ou não um «impostor», consiste em apertá-lo por cima do bico: a certeza vem com uma valente bicada na mão de quem fez a experiência, não restando, então, qualquer dúvida sobre a sua «verdadeira identidade».
Para compensar estes deslizes e para orgulho e honra dos Freamundenses, além de diversos historiadores e de cronistas famosos, nomes como D. Francisco Manuel de Melo e o próprio Gil Vicente cantaram e elogiaram o capão como uma iguaria requintada e rara, muito frequente nos repastos e banquetes reais, a pedir meças às outras aves que se apresentavam à mesa do rei: o faisão, o pavão, a perdiz ou a galinhola.
Manifestação das mais típicas, populares e concorridas na região de Entre Douro e Minho, à Romaria de Santa Luzia ou Feira dos Capões, ciclicamente mantida nesta data, acorrem em apreciável número os «galinheiros», que não se limitam a apresentar aos compradores somente os famosos capões, mas toda uma variedade de aves destinadas à capoeira – sobretudo à panela, que o Natal está à porta: perus, em barulhentos e enormes bandos, também eles muito requisitados, galinhas, patos, pombos, codornizes – e, de vez em quando, com um pouco de sorte, até faisões.
Os forasteiros, a pensarem na Consoada, são aos milhares, vindos de todos os pontos do país e mesmo de Espanha, particularmente da Galiza. A feira começa pela madrugada, aquecida por fogueiras, para afastar o frio de Dezembro, ali aparecendo também um pouco de tudo: gado cavalar, suíno e bovino, calçado, roupas, brinquedos, artigos de ourivesaria, alfaias agrícolas, frutos secos, loiças, bugigangas, sem que faltem as diversões e as barracas de comes e bebes. Em simultâneo, decorre uma semana de gastronomia, a terminar com um jantar onde é eleito o melhor capão confeccionado por restaurantes locais.
Resta acrescentar que a gente do Norte, em número significativo, prefere apresentar ao almoço do dia de Natal o galo recheado e assado, em vez do tradicional peru – principalmente se o galo for o afamado capão de Freamunde.
Soledade Martinho Costa
Do livro «Festas e Tradições Portuguesas», Vol. VIII
Ed. Círculo de Leitores
Da minha Amiga Maria Eugénia Neto, recebi, com agrado, dois poemas. Publico hoje um deles, o outro será publicado em breve. Ao estilo da autora, fica um poema de Esperança e de Amor - sempre!
Aproveito para anunciar a publicação, em espanhol, da obra poética completa de Agostinho Neto (que reune os livros «Amanhecer», «Renúncia Impossível» e «Sagrada Esperança»), numa edição da Fundação Dr. António Agostinho Neto e da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento. O lançamento terá lugar amanhã, dia 9, pelas 18h30, no Auditório da União dos Escritores Angolanos.
S.M.C.
Como uma chuva
Caindo sobre a terra árida
- Torrente que penetra o solo –
Como a penumbra
Anunciando o dia
Como o erguer do Sol
Que dissipa a névoa
Como o acordar dos pássaros
Cantando à luz
Como a brisa refrescante
Pura da madrugada
Como os rios despertando
E caminhando pela terra
Como os oceanos
Movendo-se nas marés
Como o magma criando
E recriando os metais
- Fogo e cor –
Material e imaterial
O seu fulgor
Como o desabrochar
De todas as flores
Como a esperança
No coração dos homens
Oh! Meu amado
O teu braço ainda a sustentar
O nosso querer!
Eugénia Neto
(Dubai, 2009)
Os pássaros
Calam o canto
Nas margens dos rios sem fundo.
A giesta
Acende-se de choro
No oiro do seu manto.
As pedras
Oferecem-se de musgo
À morte adivinhada.
O dia e a noite
Coabitam
A indiferença dos deuses.
As crianças
Nascem nas manhãs de Sol
Apesar do Mundo.
Soledade Martinho Costa
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