Rua da Madalena, Lisboa.
Ao folhear, com mil cuidados, um velhíssimo exemplar do jornal «Echo», datado de Maio de 1901, com redacção na Rua da Madalena, em Lisboa, cujo administrador e editor era Luiz de Paiva Castilho, descobri, na secção «Pelo Estrangeiro», que já por essa época eram notícia alguns nomes da nossa lusa sociedade. Primórdios das actuais revistas «cor-de-rosa»? É provável. Simplesmente, nessa época não existiam «paparazzis»!
Transcrevo o que li:
Chega por estes dias a Lisboa o Ex.mo Dr. Joaquim Evaristo de Almeida, distincto médico d’esta capital.
Estão em Lisboa, vindos da sua casa de Montalvão, os Ex.mos Srs. Condes da Redinha.
Partiram para Lourdes as Ex.mas Sras. D. Maria Benedicta e D. Leonor Paes de Sande e Castro.
Parte dentro de dias para a sua casa em Setúbal a nossa respeitável assignante a Ex.ma Sra. D. Thereza Paes de Saude e Castro de Cabedo.
Está em Villa do Conde o Sr. Bernardo Corrêa de Magalhães e sua esposa.
Partiu para Angra o Ex.mo Sr. Emigdio da Silva, Governador Civil d’aquele districto.
Realizou-se na 5.ª feira passada o baptisado de um Filho do Sr. D. Luís de Sousa Sanches de Baena e da Ex.ma Sra. D. Maria da C. Zuzarte Sarrea neto do Sr. Visconde de Sanches e Baena, recebeu o nome de João.
Continua doente o nosso respeitável amigo o Exmo. Conde de Avintes; fazemos votos a Deus pelas suas melhoras.
Foi pedida em casamento pelo Ex.mo Sr. Marquez da Foz para seu filho Gil Guedes de Cabral, a Ex.ma Sra. D. Marianna de Mello (Murça).
Chegaram a Lisboa os Srs. Viscondes de Avellar e seus filhos.
Partiram para Madrid o Sr. Diogo e Fernando Costa.
Estão em Paris os Srs. Condes de Feitosa.
Esteve em Lisboa mas regressou já a sua casa de Monforte, o nosso bom amigo e presado assignante Francisco António de Sousa Alte Chichorro.
Partiu para o Funchal o Sr. Visconde de Montebello.
Está em Lisboa a Ex.ma sra. D. Constança Lisboa Coutinho e sua filha (Linhares).
Partiu para a Allemanha o Sr. Visconde de Faria.
Já chegou a Lisboa, o que muito estimamos, o Ex.mo Sr. D. Miguel Vaz de Almada e sua Ex.ma esposa.
Partiu para França o Ex.mo Sr. Izidoro José de Freitas, director do Banco Lisboa e Açores.
Foi passar alguns dias a sua casa em Friellas, o Ex.mo Sr. José da Paixão Castanheira das Neves e sua esposa.
Baptisou-se na egreja de Carnaxide uma filha da Ex.ma Sra. D. Maria da Costa Cabral e do Ex.mo Sr. António Macedo, sendo padrinho o avô, o Sr. Conde de Thomar. A neophita recebeu o nome de Sophia.
Soledade Martinho Costa
Por falta minha, confesso, não referi nem publiquei, na altura própria, mais três prémios que foram atribuídos, em datas diferentes, ao Sarrabal. Aqui ficam agora, com o meu agradecimento sincero e amigo ao Ricardo N. do blog Golfinho Alegre – um blog a visitar pela boa-disposição e curiosidades ali descritas, que fazem o agrado dos seus leitores.
Abraço Ricardo N!
Com a amizade da Sol
Olhar-te devagar
Reter as tuas mãos
Dizer teu nome
Beber das palavras
Com que fazes
Mudar em madrugadas
O sol-posto
Toda a distância
Incenso, timbre, gosto.
Olhar-te devagar
Como quem reza
Se ajuíza
Desnuda
Se compara
Ao bailado da folha
Sobre a terra
Na dádiva total
Do Outono.
Soledade Martinho Costa
Do cimo dos anos
A porta
A escada
Os vidros das janelas
O telhado da casa
Acenam
Segrais.
Para lá do líquen
A cumplicidade das paredes.
Dentro
O embaraço dos objectos ressuscitados
Os fantasmas
O Sol e a sombra
Frente a frente.
Nos espelhos
Outros vultos
Outros dedos compõem os vestidos
Alisam os cabelos.
Efémero
O tempo da ressurreição
O silêncio violado
A voz e o corpo
O gelo e o fogo.
Quem virá depois?
Soledade Martinho Costa
Tenho o hábito de oferecer flores. Gosto de flores e acho que qualquer pessoa gosta de as receber. Ofereço-as quando faço uma visita mais cerimoniosa ou quando não é cerimoniosa, mas sei que a pessoa a quem vou visitar gosta de flores, como eu, e que vai sentir-se agradada. E ofereço flores em datas especiais: aniversários, no Dia da Mãe, no Dia da Mulher ou aos meus santos. Não sendo praticante, faço promessas e quase sempre sou atendida. Umas vezes por minha própria intenção ou pelos meus, outras pelos amigos. Alguns deles (mais elas), menos crentes, dizem-me por vezes: «Faz umas orações por mim, uma promessa, põe uma velinha!». Digo que sim. E cumpro. Além de acender uma velinha e de fazer as minhas orações, cumpro as promessas: a oferta de flores, de ramos de flores. E gosto de colocá-las nas jarras, que vou buscar às sacristias (nem sempre cumpro as minhas promessas na mesma igreja), de ajeitá-las e de pô-las depois nos respectivos altares.
Um dos floristas com estabelecimento em Alverca do Ribatejo, já conhece esta minha faceta, basta telefonar-lhe: «Paulo, preciso de um ramo bonito (dois ou mais, conforme as promessas a cumprir). Depois passo por aí.». E pronto. O Paulo já sabe do que se trata, daquilo que gosto e como gosto. As flores é que diferem de acordo com a época.
Gosto, também, de flores secas, naturais. Com elas costumava fazer arranjos florais. Devido a outros afazeres, deixei esse meu hobby de parte. Mas houve um tempo em que foram muitos (dezenas) os arranjos que fiz. Um deles, feito apenas com uma gama variada de flores roxas e lilases ofereci-o a Amália Rodrigues. Ao recebê-lo disse-me: «Vai direitinho para o meu oratório!». Dos muitos que fiz, espalhei-os pelas minhas casas do Bom Velho de Cima (mais rústicos), de Alverca do Ribatejo e do Algarve. Conforme o género e as cores, assim os locais onde foram colocados. Outros, ofereci-os. Para os confeccionar precisava de procurar em casas da especialidade as flores secas de que necessitava. Deslocava-me, por isso, algumas vezes a uma conhecida e afamada florista de Lisboa. Também adquiria ali outras flores. Umas vezes por motivos tristes (falecimentos), outros felizes, como atrás referi.
Nessa florista a variedade de flores era tal, que me perdia perante a beleza, a cor, o perfume, o milagre da Natureza que nos oferece (com a ajuda da mão do homem) prodígios assim. Confesso que não dava pelo tempo passar enquanto deambulava pelo amplo espaço, extasiada perante as flores expostas nas cantoneiras de zinco (creio) com a arte de quem sabe.
Num desses dias, entra no estabelecimento uma senhora de meia-idade, vestida, modestamente, de escuro. Semblante triste, ar um pouco tímido. Parava de vez em quando junto de um tufo de flores e perguntava o preço a uma das empregadas. Mas logo passava a outras flores, repetindo a pergunta e recebendo a resposta. No seu olhar, a pena por não se poder decidir pela compra. O preço ali é sempre elevado - muito embora não faltem clientes. Trata-se de um local onde impera o poder de compra. A extensa avenida e os altos prédios «respiram» desafogo. Há quem compre na referida florista (soube) dois a três ramos por semana!
A senhora de semblante triste e ar modesto, continuava a sua pesquisa por entre as flores. As perguntas em relação aos preços, também. A vontade de levar flores era muita, o dinheiro, pouco, deduzia-se. Aproximei-me e gabei a beleza e variedade das flores expostas. Sorriu, embaraçada, e explicou: «Queria um raminho aí para cinco euros, mas não há. É para levar ao cemitério.». Lamentei e confirmei que sim, as flores tinham, realmente, preços elevados.
Voltei à escolha das minhas flores secas. Foi nessa altura que a dona da florista se aproximou da senhora em causa. Em vezes anteriores tinha reparado na sua falta de delicadeza, principalmente, para com as empregadas. Pessoa de aspecto pouco cuidado, mal-encarada, amplo avental enxovalhado, chinelos nos pés, sempre a resmungar, a vistoriar com mil olhos o amplo estabelecimento. Era ela quem atendia o telefone e dava toda a espécie de ordens. Nunca cheguei a saber se era a dona ou a gerente do estabelecimento. Mas que tinha um cargo de chefia, lá isso, tinha. Notava ainda o receio no rosto das empregadas quando, por qualquer motivo, as interpelava, embora se entregassem diligentemente à tarefa de fazer os ramos, as coroas e as palmas de flores, além de atenderem os clientes. No que me diz respeito, nunca tive razão de queixa. Só não entendia como era possível uma pessoa assim estar à frente de um estabelecimento daqueles.
Foram estas as palavras que dirigiu à senhora que procurava um raminho de cinco euros: «Olhe cá, não tem que fazer lá em casa, em vez de vir para aqui chatear a gente?!» – Naturalmente, apercebendo-se que não tinha ali cliente à altura do seu estabelecimento.
Ainda com mais acanhamento do que aquele com que havia entrado, a senhora saiu da conhecida florista da Avenida Estados Unidos da América. Olhei as empregadas, que me olharam também.
Não me lembro de lá ter voltado. Com a encomenda dos oito volumes da colecção «Festas e Tradições Portuguesas» pelo Círculo de Leitores, o meu hobby acabou pouco tempo depois. Não sei porquê, não o retomei. Fui perdendo o entusiasmo por fazer os bouquets colocados em pequenas taças de porcelana. Até há pouco tempo, tinha três guardados. Em Julho último ofereci um deles à Maria Anka, uma jovem romena que trabalha em minha casa e de quem gosto. À custa de muito trabalho, construiu uma casa na sua aldeia, na Roménia. Ofereci-lho «para a casa nova». Levou-o quando foi de férias.
Este episódio, que relato e a que assisti, leva-me a pensar que, por vezes, as flores de plástico que vejo nas campas dos cemitérios, têm a sua razão de existir…
Soledade Martinho Costa
São Martinho nasceu em Sabária da Panónia (actual Hungria) no ano de 316. Filho de um oficial romano, estudou em Pavia, embora o pai, na intenção de afastá-lo das influências cristãs, o inscreva, ainda muito jovem, no exército. Obrigado ao juramento militar, serve na Guarda Imperial até aos quarenta anos.
Sem abdicar das suas convicções religiosas, abandona o exército e torna-se discípulo de Santo Hilário (bispo de Poitiers, França, e padre da Igreja, 315-367), sendo por este ordenado. Mais tarde é sagrado bispo de Tours (França), lugar que veio a ocupar quando esta diocese ficou vaga em 371.
Apelidado o Apóstolo das Gálias, São Martinho ficou conhecido pela sua extrema caridade. A ele pertence o episódio de Amiens, que relata ter-se apeado certa manhã do seu cavalo, no rigor do Inverno, para rasgar com a espada e repartir com um mendigo a sua capa, que trazia sobre os ombros. Mais tarde, o mesmo mendigo ter-lhe-à aparecido em sonhos como Jesus Cristo, dizendo: «Martinho deu-me este vestuário.»
Retirado, a seu pedido, para um lugar isolado (Ligugé, perto de Poitiers), depressa reúne à sua volta discípulos atraídos pela sua fama de grande sabedoria e bondade. Ali funda o Mosteiro de Ligugé e, posteriormente, junto da cidade, o primeiro mosteiro de Marmontier. Morre em Candes (França) a 11 de Novembro de 397, com oitenta anos, tendo o seu corpo sido levado para Tours e sepultado no cemitério, à entrada da cidade.
Ao longo dos séculos foi considerado o santo mais popular da Europa Ocidental. Durante a Idade Média eram constantes as peregrinações ao seu túmulo, só comparáveis às que eram feitas aos sepulcros dos Apóstolos em Roma, tal a fama dos seus milagres.
A crença em São Martinho era tanta que os Merovíngios (nome da primeira dinastia que reinou em França), antes de partirem para a guerra, rezavam junto do seu túmulo, levando as tropas, na dianteira, a capa do santo como talismã. Os seus atributos são um cavalo branco, uma espada e um manto. Iconograficamente aparece galopando à frente dos exércitos.
No que respeita à alegoria «Verão de São Martinho», associa-se ao facto de se registarem, quase sempre no início de Novembro, alguns dias de temperatura amena e por vezes de calor. Não se lhe conhece, todavia, qualquer ligação ao vinho. Supostamente, a sua celebração resultará da apropriação ou réplica cristã das festividades greco-romanas dedicadas a Baco, deus romano e grego do vinho, que tinham lugar em Roma e na Grécia por altura da abertura nas adegas do vinho novo (a 9 de Outubro).
Soledade Martinho Costa
Do livro «Festas e Tradições Portuguesas», Vol.VIII
Ed. Círculo de Leitores
Tela: Fernando Barbosa
Nos dias sem data
Repousa os olhos
Na sede da paisagem.
Aspira os cheiros da terra
Lavrada, semeada, sua.
Recolhe em cada seio
O canto da cigarra.
Desfaz a trança
Desfaz a cama
E sonha as lágrimas da Lua.
Soledade Martinho Costa
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