Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2008

SER MÃE

 
 
 
Ser mãe
É ser poema de Amor
Feito de medos calados
Inspirado mais na dor
Do que em risos descuidados.
 
É ser poema de Mágoa
Onde a vida se moldou
É ser abrigo, pão, água
Semente que germinou.
 
É ser poema de Esperança
Berço no sangue gerado
Macio como uma trança
E forte como um arado.
 
Ser mãe
É ser poema Bendito
Raiz que foi desdobrada
A dar-se num infinito
Tendo em troca, ás vezes, nada.
  
 
Soledade Martinho Costa
 
Do livro “Reduto”
publicado por sarrabal às 14:37
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Domingo, 27 de Janeiro de 2008

BORDA-D'ÁGUA - A TERRA, O GADO...

 
 
Muitas são as tarefas que o Inverno traz para serem cumpridas. Finda a colheita no olival, inicia-se a poda das oliveiras. As noites são longas e os dias curtos e frios. Os rostos e as mãos dos homens e das mulheres tornam-se roxos, ásperos e gretados. Mas o Inverno não os amedronta. Os homens e as mulheres sabem que a terra e os animais necessitam do seu esforço e do seu saber. Que a Natureza, sem a sua ajuda, não poderia ser tão pródiga e tão amiga. Portanto, aí estão eles, a desafiar a invernia no desempenho das tarefas que encontram pela frente. A satisfazerem o pedido da terra e dos animais, porque gostam de retribuir em conhecimento e em cuidados a riqueza que os animais e a terra têm para lhes oferecer.
 
Ei-los a fazer a lavoura, as adubações e as sementeiras. A prosseguir nas vinhas as podas e as arroteias para novas plantações. A colher nos laranjais as laranjas e as tangerinas. A engarrafar os vinhos nas adegas. A abrir covas para semear as amêndoas e as nozes. E valeiras para semear os melões. A abrigar nas hortas as plantas que não resistem ao frio. A semear as cebolas, os espargos, os espinafres, os nabos e as cenouras. E também os alhos e os morangueiros. A podar as roseiras e os arbustos. A resguardar as plantas que vão florir mais cedo – como as azáleas e as camélias. A semear nos alegretes as calêndulas, as lobélias e os amores-perfeitos. E a plantar as ervilhas-de-cheiro, os jacintos, as túlipas e as anémonas.
 
Com os animais redobram os cuidados. Renovam-lhes as camas para estarem sempre enxutas. Agasalham e dão melhor comida às vacas leiteiras. Reservam verdura às ovelhas que tiveram crias. E tratam das colmeias, dos pombais, das capoeiras… Num trabalho constante, que não acaba nunca.
 
Soledade Martinho Costa
Do livro “Histórias que o Inverno me Contou”
Ed. Publicações Europa-América
publicado por sarrabal às 00:47
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Quinta-feira, 24 de Janeiro de 2008

CERTEZA

" Meditação", Rembrandt
 
 
Que horas são?
É tarde
Tão tarde já
E vou
Mas fico
A pensar no dia de amanhã.
 
Quantos dias virão
Sim, quantos mais?
Quantas vezes o Sol nascerá
Nos meus olhos ainda adormecidos?
 
Chegarão as horas
As manhãs?
E as noites
As noites para sonhar
Quantas serão?
 
E um medo vagabundo
Uma ansiedade
Uma vontade de parar o tempo
Despertam então em mim
Como alvorada
A certeza quase espanto
Quase assombro
Que temos horas de partida e de chegada.
 
Soledade Martinho Costa
 
Do livro “A Palavra Nua”
publicado por sarrabal às 23:20
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Domingo, 20 de Janeiro de 2008

SÃO SEBASTIÃO - PATRONO DA PESTE DA FOME E DA GUERRA

" Martírio de São Sebastião", Gregório Lopes, óleo sobre madeira. Museu Nacional de Arte Antiga.
 
Associado pela sua miraculosa protecção às grandes pestes e epidemias que grassaram nos séculos XIV e XV até meados do século XVI, uniu-se o povo, em Portugal como noutras partes do Mundo (particularmente em Roma), em promessas conjuntas de apelação ao santo, canonicamente advogado da peste, da fome e da guerra, para que, por sua intercessão junto de Deus, fosse possível a extinção do mal que tão triste e dolorosamente castigava as populações.
 
Pequenas " fogaceiras", Santa Maria da Feira, Aveiro.
 
Crentes no poder do Mártir São Sebastião, para o santo se voltaram as preces, os votos e a fé do povo. E porque em determinados casos, o povo se sentiu alvo de milagrosa protecção, por ter sido erradicado o pesadelo da peste, eternamente devedor e grato, vai cumprindo ao longo dos séculos as promessas feitas em horas de luto e aflição.
 
 Valado de Frades, Nazaré
 
São Sebastião surge, assim, por esse particular motivo (e pela data da sua celebração ocorrer no dia 20 de Janeiro), como um dos santos mais consagrados neste mês em festas e romarias portuguesas, onde a tradição se confina, na maioria das vezes (em analogia aos votos conjuntos feitos pelo povo dessas épocas), à distribuição de manjares cerimoniais, bodos ou leilões de alimentos, em que se torna evidente o sentido de associação das populações em manducações rituais colectivas.
 
Couto de Dornelas, Boticas, Vila Real.
 
Sem esquecer a fome, outro símbolo do santo protector, dadas as condições geográficas de certas zonas do nosso País, em que uma agricultura de subsistência familiar, já de si débil, era atingida por pragas, dando origem a períodos de enorme carência alimentar, sofrida pelos seus habitantes, ou associada à própria peste, como consequência desta.
 
Gondiães, Cabeceiras de Basto, Braga.
 
A fome, hoje retratada pela abundância de alimento nos banquetes rituais conjuntos celebrados em louvor do Santo Mártir, a honrar a tradição das promessas vindas do passado, apresentam particular relevância nas festividades da Póvoa de Atalaia, Fundão (Festa das Papas); em Santa Maria da Feira (Festa das Fogaceiras); em Atouguia, Alenquer (Festa dos Leilões); em Dornelas, Boticas (Festa de São Sebastião); em Valado de Frades, Nazaré (Festa das Chouriças); em Amiais de Baixo, Santarém (Festa em Honra do Santo Mártir) e em Gondiães e Samão, Cabeceiras de Basto (Festa das Papas).
 
Capela de São Sebastião, Lalim, Lamego, Viseu.
 
São Sebastião é também o santo que mais capelas possui espalhadas pelo nosso País, onde é celebrado no seu dia ou mesmo noutras datas.
" D. Sebastião, Rei de Portugal ", pintura a óleo atribuída a Cristóvão de Morais, Museu Nacional de Arte Antiga.
 
Conta-se que quando da peste que assolou Lisboa em 1569, D. Sebastião, em acção de graças, lhe mandou erigir um templo, sendo a primeira pedra lançada pelo rei junto à margem do Tejo, no Terreiro do Paço. Quatro anos depois (1573), a seu pedido e para enriquecimento do templo, o papa envia-lhe de Roma uma das setas com que o santo foi martirizado.
 
Filipe II de Espanha.
 
Quando Filipe II de Espanha toma posse do reino de Portugal, desaprova de imediato a construção do templo naquele local. Ao saber que o Mosteiro de São Vicente necessitava de obras, manda que este seja restaurado com a pedraria e materiais do templo de São Sebastião. 
 
Altar-Mor da Igreja de São Vicente, Lisboa.
   
Por isso se observa nos capitéis das colunas e no friso da cimalha real da Igreja de São Vicente o ornato, em relevo, de flechas aspadas. Pertenciam à cantaria do templo que o rei D. Sebastião, por voto seu, desejou erguer ao Santo Mártir do seu nome. 
 
 
                                                               
          Estatueta de madeira policromada, Indo-Português, século XVII / XVIII.
 
 
SÃO SEBASTIÃO – A VIDA 
 
 
Túmulo de São Sebastião, Igreja de São Sebastião, Roma.
      
 
Nasceu em Narbona (Itália), recebendo o cognome de «Defensor da Igreja» pelos feitos e milagres que realizou em defesa da fé. Humilde, afável, generoso, conhece os favores do imperador Diocleciano, que o nomeia capitão da primeira companhia das guardas. Devido à imunidade que lhe dava esse posto, pode Sebastião proteger e socorrer muitos cristãos,   principalmente os que se encontravam encarcerados. Muitos foram também aqueles a quem converteu, contando-se entre eles o primeiro-escrivão do tribunal, o carcereiro e o próprio Cromácio, governador de Roma.
 
A perseguição aumenta, e muitos dos seus amigos são sacrificados. Fabiano, sucessor de Cromácio, ao descobrir que Sebastião protege e converte os pagãos, não se atrevendo a prendê-lo, informa o imperados. É então que Sebastião tenta converter Diocleciano, dizendo-lhe que só devia adorar e servir «o único e verdadeiro Deus».
 
Furioso, o imperador romano manda que Sebastião seja amarrado a um poste e atravessado com flechas pelos próprios soldados da sua guarda. A ordem é cruelmente cumprida, mas na manhã seguinte, Sebastião ainda está vivo. Socorrido por uma boa mulher, em poucos dias sara as feridas. Pouco depois, dirige-se ao palácio e volta a falar com o imperador, que se mostra surpreendido ao vê-lo vivo. Sebastião tenta de novo converter Diocleciano do seu erro, mas o imperador manda de imediato executá-lo, desta vez com varas, no meio do maior suplício. Corria o ano 288, tendo o seu corpo sido arrojado a um lugar imundo.
 
Após a sua morte, diz-se que apareceu a uma cristã de nome Luciana, pedindo-lhe que fosse buscar o seu corpo e o enterrase no Cemitério de Calisto, em Roma.
 
Soledade Martinho Costa
In “Festas e Tradições Portuguesas”, Vol.I
Ed. Círculo de Leitores

 

publicado por sarrabal às 19:47
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Quinta-feira, 17 de Janeiro de 2008

"BRANDAS" E "INVERNEIRAS" - A LÃ

Serrra da Peneda

 

É nos meses rigorosos do Inverno em Castro Laboreiro, Melgaço (a 956 metros de altitude), e nas pequenas povoações minhotas vizinhas, espalhadas pela serra da Peneda, ainda hoje em casas umas vezes habitadas, outras desertas, conforme a época do ano, que, em anos ainda recentes, se fiava e tecia a lã.

 

 

 As «brandas»  

 

Desde Abril até aproximadamente ao mês de Dezembro, enquanto a temperatura o permite, os seus habitantes, não já quase na sua totalidade como antigamente, mas ainda castrejos dos lugares de Bago, Corveira, Bico e Cainheiras, continuam a utilizar as “brandas”, ou seja, a habitar as casas situadas no cimo da aldeia –  outrora de paredes de pedra solta, grosseiramente aparelhada, e telhados de colmo (palha de centeio).

 

 

As "inverneiras"

 
As “inverneiras” correspondem às casas que se encontram na parte baixa da aldeia, habitadas nos três restantes meses do ano, quando o frio se torna mais rigoroso e a neve (hoje rara) cobria toda a serra.

 

 

Actualmente a apresentarem melhoramentos na construção, visto em épocas passadas serem compostas (e algumas ainda o são) por um andar térreo, onde se recolhia o gado (cujo calor aquecia a casa), e um piso constituido por quartos e cozinha, a maioria das casas possui já as chamadas «cortes», destinadas ao gado, ao lado das habitações, ainda que, em algumas delas, se continue a utilizar esse mesmo piso térreo para os animais – as «lojas».                         

 

Quando os castrejos permanecem nas “brandas” e os rebanhos pastam no planalto, entre sete a vinte cabeças, uma vez que o gado bovino desapareceu também por completo, cultiva-se a batata, o centeio (pouco), os nabos, as couves e outros produtos hortícolas, apenas para consumo doméstico. Quando se encontram nas “inverneiras”, principalmente o feijão e o milho, este destinado aos animais.

 

 

Entre fins de Abril e princípios de Maio efectua-se o «rapar» (tosquia) do gado lanígero. Cada família em Castro Laboreiro possuía, ainda há poucos anos, além do gado bovino, pelo menos um rebanho, aproximadamente de vinte animais, embora não se verifiquem ali rituais do gado.

 

  

Esta tarefa obedece a cinco fases distintas: lavar e «carpiar» (abrir a lã); fiar (com a roca e o fuso a transformar a lã em fio); dobar («tocando» a dobadoura ao fazer girar com a mão o objecto quadrangular em madeira, onde o fio é enrolado em meadas, ou utilizando o «sarilho», peça também ela de madeira para enrolar a lã em novelos); encher com meadas ou novelos os teares caseiros e tecer a lã, que apresenta, depois de tecida, um metro ou cerca de metro e meio de largura.

 

  

 Hoje, os poucos teares que restam deixaram, praticamente, de tecer a lã (outrora misturada, por vezes, com o linho ou, na escassez deste, com o algodão, em trabalhos artesanais considerados autênticas relíquias), limitando-se as tecedeiras, extinta a tradicional laboração de antigamente, a tecer uma ou outra peça destinada ao uso caseiro.

 

  

Em tempos mais recuados, com a lã branca, reservada para trabalhos mais finos, executavam-se, principalmente, as meias, os calções ou polainas (espécie de meias ou coturnos, abaixo dos joelhos) e as mantas «ásperas mas muito quentinhas».

Hoje, a lã é vendida sem ser tratada, não a dinheiro, mas por troca de cobertores que os compradores, vindos, sobretudo, da Beira Litoral e Beira Baixa, trazem em carrinhas para efectuarem o negócio.
 

 

O "sarilho"

 

Nos dias actuais, em Castro Laboreiro (cuja origem provável terá sido um castro romano, daí lhe nascendo o nome), nos longos serões de Inverno, com o frio a fazer companhia ao silêncio dos caminhos, algumas mãos femininas continuam a fiar a lã, utilizada na execução, para uso pessoal, de tapetes, tecidos nos velhos teares, ou destinada à confecção, também manual, de camisolas ou outras peças de vestuário – porque só mesmo a lã é capaz de fazer frente às baixas temperaturas que se fazem sentir naquela medieval aldeia serrana, tal como só mesmo os cães castro-laboreiros eram, por aqueles lugares, a segurança dos gados contra os ataques dos lobos.  

 

 

 

Da lã é tecida a «seriguilha» ou «serguilha» e o «rascadilho» (de cor castanha salpicada com pintas esbranquiçadas, quando se trata de lã negra), tecido grosso e áspero, muito empregue, em tempos idos, nos fatos de trabalho (calças e coletes dos homens e meias, mandis – aventais -, saias e corpetes das mulheres), ainda hoje requisitado às tecedeiras ou artesãos, destinado à confecção dos trajos regionais dos grupos folclóricos.

  

Rancho folclórico de Ourondo, Beira Baixa

 

Com o mesmo fim, são usadas a «saragoça»  (lã de textura mais fina), destinada às capuchas e a «baeta» (mais fina ainda), a servir para a execução das saias das mulheres. 

 

Tarouca, Viseu

 

Capas ou capuchas (também de «burel», lã mais grossa) que continuam a ser muito utilizadas, quer em Castro Laboreiro, quer nas comunidades rurais situadas em zonas com climas mais rigorosos no Inverno.

Soledade Martinho Costa

 

 


In “Festas e Tradições Portuguesas”,Vol. VIII
Ed. Círculo de Leitores

 

 

 

publicado por sarrabal às 17:00
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Segunda-feira, 14 de Janeiro de 2008

UM OLHAR SOBRE A PAISAGEM - AS FIGUEIRAS

 
 
 
As figueiras, despojadas de folhas, erguem, como braços apontados ao céu, os troncos esguios, num protesto. Ao verem as laranjeiras agasalhadas na copa redonda da rama verde-escura, sentem, com maior tristeza, a nudez cinzenta que lhes veste o corpo.
 
O Outono cobiça e rouba as suas folhas e o Inverno não lhes devolve o adorno com que se embelezam. Por isso, saudosas do bem que perderam, segredam entre si: «Que sorte a das laranjeiras. Sempre bem vestidas, sempre perfumadas, enfeitadas de frutos no Inverno!». E têm razão. Viajantes de mares longínquos desde a China, lá estão elas, as laranjas, entre a saia rodada das laranjeiras, a lembrar marés e caravelas no primeiro pé de laranja doce.
 
À sua volta, as outras árvores quase pararam por completo a dádiva cíclica dos frutos. Mas as laranjeiras, árvores de folha perene – como as nespereiras ou os limoeiros –, orgulham-se de oferecer nos ramos os gomos sumarentos durante a estação fria do Inverno. As figueiras, árvores de folha caduca – como os pessegueiros ou as cerejeiras – terão de esperar um pouco mais. Até à chegada da Primavera, altura em que começam a vestir de novo o aconchego dos seus vestidos verdes. Tão verdes, como, por vezes, a cor do mar que banha os países onde, roxos ou brancos, amadurecem os seus frutos.
 
Soledade Martinho Costa
 
 Do livro “Histórias que o Inverno me Contou”
Ed. Publicações Europa-América
publicado por sarrabal às 11:45
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Sábado, 12 de Janeiro de 2008

FRANCISCO LYON DE CASTRO

 
 
Como quem veste a cal
Com as palavras
Contar à vida mais
Do que ela pede
Arauto dos rumores
Que o tempo traz.
 
Sentir o Sol na alma
A paz no bolso
Dizer aos dias quero
E ser capaz.
    
 
Soledade Martinho Costa
 
Do livro “O Nome dos Poemas”
publicado por sarrabal às 15:33
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Quinta-feira, 10 de Janeiro de 2008

HISTORINHAS - O PATO-REAL E O GATO MALHADO

 
 
O pato-real atravessa a cerca da capoeira. Passa junto ao canteiro das dálias brancas e vermelhas e avança pelo carreiro que vai ter ao pomar. «É bom poder passear em liberdade!», pensa, enquanto distende as asas de penas matizadas.
Ao vê-lo, o gato Malhado, não resiste e mete conversa:
- Pelo que vejo, mesmo nas manhãs frias de Inverno, ainda lhe pula o pé para o passeio…
E logo o pato, num grasnar escorreito:
- É como vê, amigo Malhado. Uma boa caminhada nunca fez mal a ninguém. Antes pelo contrário. – E acrescenta: - Mas o amigo parece que também acordou cedo…
- Estou a ver quem passa…
- Ah! Está a ver se caça. – Replica o pato a fazer-se desentendido. – Naturalmente, a ver se caça algum pardal desprevenido…
- Lá está o amigo Pato a meter-se onde não deve. O que faço ou não faço, é cá comigo! – Zanga-se o tareco, focinho empertigado: - Mas sempre lhe digo que se engana. Hoje, por sinal, estou de dieta. Comi há pouco um bom pedaço de erva-gateira para limpar o estômago.
Meio desapontado, o pato põe água na fervura:
- Tem razão. Aquilo que o meu amigo faz ou não faz, não é da minha conta. Mas que madrugou, madrugou. Bem o julgava em casa, aninhado, a dormir um sono. E, afinal…
- E, afinal… acontece que uma manhã de Sol no Inverno não é coisa para se desperdiçar. Por isso, saí mais cedo e vim dar o meu giro.
O pato, olhinho vivo, desvenda o céu:
- A manhã acordou fria da geada, lá isso acordou. Mas que se pôs bem agradável, também é verdade. De mais a mais, com este rico Sol!
- Sim, sim. – Concorda o gato. – Mas muito antes de o Sol abalar, meto-me outra vez em casa. No Inverno, quanto a mim, não há nada melhor do que o calorzinho do borralho na cozinha.
O pato tem outra opinião.
- Pois eu, com Sol ou sem ele, vou até ao tanque tomar o meu banho.
O gato põe-se de pé, num susto.
- Banho?! – Repete em sobressalto. – Ó amigo Pato-Real, nem me fale nisso, que fico logo todo arrepiado!
- Eu sei, eu sei como o amigo Malhado é friorento. Quanto ao seu medo da água…
- Água?! Água só para beber, se tenho sede! – Interrompe o gato, que acrescenta: - Embora, como o compadre sabe, eu seja um bicho bastante asseado…
E fala verdade. Principalmente após as refeições, lá está ele ocupado a cuidar da sua aparência. Ou seja, a lavar o pêlo passando a pata molhada de saliva nas orelhas, na cabeça e no focinho. Como a sua língua é muito áspera, serve-se dela como de uma escova para alisar o pêlo.
O pato toma jeito de quem deseja pôr-se a caminho.
- Pois como lhe disse, vou até ao tanque do pomar. – Repete. – A mim, o frio não me apoquenta. Mesmo no Inverno, é no tanque que me sinto bem, a chapinhar à vontade…
- Então, que lhe faça bom proveito. O banho e o passeio.
- Quer isto dizer, que cada um é como é. – Comenta o pato com ar sério.
- E que por isso mesmo há que saber respeitar e entender as preferências de cada um. – Atira o bichano, também com ar de quem sabe o que diz.
- Nem mais. – Remata o pato-real a pôr ponto final na conversa. Em seguida, despede-se: - Prazer em vê-lo, amigo Malhado. Até outro dia!
- Igualmente, amigo Pato-Real. Até ver! – Responde o gato, enquanto o pato retoma sem pressas o passeio.
 
Soledade Martinho Costa
 
Do livro “Histórias que o Inverno me Contou”
Ed. Publicações Europa-América
publicado por sarrabal às 21:41
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Domingo, 6 de Janeiro de 2008

DIA DE REIS

Museu Nacional de Arte Antiga, correspondendo a uma gravura de Nicolas Dorigny
  
A data para esta celebração, fixada no ano de 1164, a 6 de Janeiro, pretende assinalar a viagem dos três Reis Magos, vindos, segundo o Evangelho, dos seus longínquos países do Oriente até Belém, guiados por uma estrela, para render homenagem e oferecer os seus presentes a Cristo recém-nascido.
 
 
De seus nomes Gaspar (de olhos amendoados e barba fina), Baltasar (negro e imponente) e Melchior (o mais velho dos três, de longa barba branca), os Reis Magos pagãos simbolizam a riqueza, o poder, a ciência e a homenagem de todos os povos da Terra a Cristo Redentor.
 
 
Paramentados com as suas preciosas vestes e trazendo os seus tesouros, assim se apresentaram perante o Menino – até aí adorado apenas por pastores –, a quem ofereceram, além dos presentes, um deles três libras de oiro (para o Rei), o outro três libras de incenso (para o Deus) e o outro ainda três libras de mirra (para os restos mortais do Homem).
 
" Adoração dos Pastores "
  
Segundo a tradição, no século VI, os preciosos restos mortais dos três Reis Magos repousavam, na igreja de Santo Eustórgio, em Roma. Mas porque em meados do século XII o imperador do Sacro Império Romano-Germânico Frederico Barba-Ruiva (1152-1190) tivesse invadido esta cidade, apoderando-se das sagradas relíquias, estas foram trasladadas em 1164 para a primitiva catedral gótica de Colónia, na Alemanha, por decisão do seu arcebispo Rainald Von Dassel.
 
Detalhe da fachada da Basílica de Santo Eustórgio, Milão, Itália
  
As veneráveis relíquias foram então colocadas num sumptuoso relicário ou urna de ouro e pedras preciosas, ostentando na parte frontal a cena da Adoração dos três Reis Magos.
 
Relicário dos Reis Magos, Catedral de Colónia, Alemanha
 
Em 1248 edificou-se a actual Catedral, considerada a mais bela e alta catedral do Mundo, que se tornou no maior centro de peregrinação da Idade Média. A sua construção foi dada por terminada apenas em 1880, acrescida da edificação das suas grandiosas e rendilhadas torres, durante o reinado de Guilherme I da Prússia.
 
Catedral de Colónia, Alemanha
  
São também os Reis que baptizam o manjar cerimonial da doçaria alimentar desta data: o «Bolo-rei», espécie de pão doce recheado e enfeitado com frutos secos e cristalizados, cuja tradição se espalhou por quase toda a Europa e alguns países da América (particularmente da América Latina).
 
 
Supostamente, a resultar do bolo janual, que os Romanos ofereciam e trocavam entre si nas festas do primeiro dia do Ano Novo. Ao bolo juntavam um ramo de verdura colhido num bosque dedicado à deusa Strénia ou Strena.
 
 
Do nome da deusa resultará o vocábulo francês étrenne (que significa “presente de Ano Novo”) e a palavra ”estreias”, termo que, em certas localidades do nosso país, continua a utilizar-se para definir o acto de oferecer presentes de “boas festas” (“dar as estreias”).
 
Se recuarmos no tempo, deparamos com as “estreias” (atrenua) relacionadas com mascaradas, banquetes, jogos e outras celebrações realizadas pelos povos pagãos. Daí, no Concílio de Tours, em 567, ter sido sugerido que as “estreias” pagãs dessem lugar “às esmolas de carácter cristão e litúrgico”, de modo a atenuar os vestígios do politeísmo.
 
Ao bolo janual e ao ramo de verdura acrescentavam os Romanos pequenas lembranças (tâmaras, figos, mel), com votos de bom ano, paz e felicidade. Este costume tornou-se depois mais exigente, acabando o oiro e a prata por substituir os singelos presentes.
 
Em diversos países foi hábito durante muito tempo introduzir no bolo uma pequena cruz de porcelana (que se juntava à fava, símbolo da fortuna), substituída depois por minúsculas figurinhas humanas. Tradição que se mantém, introduzindo no bolo um qualquer objecto minúsculo apropriado para esse efeito.
 
Associados à quadra natalícia, mais propriamente ao chamado «Ciclo dos Doze dias» (que medeia o Natal e o Dia de Reis), vamos encontrar as «janeiras» e os «reis», que representam peditórios cantados na noite de Natal, de Ano Novo e de Reis.
 
" Janeireiros " da Charneca da Caparica, Almada, Lisboa
  
Herança provável das próprias strenas romanas, a entoação dos cânticos tem por finalidade receber dádivas que se revestem de um carácter alusivo e propiciatório, a remeter-nos, como noutras celebrações, para tempos remotos, em que se celebravam deuses e divindades pagãs ou eram pedidas ou oferecidas dádivas no início do ano comum, símbolo de bom augúrio, quer para quem as pedia, quer para quem as doava. 
 
O costume, espalhado por toda a Europa em países como Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, entre outros, continua a efectuar-se, com os seus seculares cânticos de religiosidade popular e festiva.
 
" Reiseiros " de Friestas, Valença, Viana do Castelo, Minho 
  
Formados por grupos de homens e mulheres, os “janeireiros” e “reiseiros”, acompanhados ou não por músicos, percorrem os lugares, de porta em porta, a pedir oferendas em troca da entoação das «loas» ao Menino, às Janeiras e aos Reis. «Cantar os Reis», «esperar os Reis», «correr os Reis» ou «tirar os Reis», são as denominações decorrentes destas praxes.
 
Também as «reisadas» e as «chocalhadas» se articulam no mesmo contexto, não deixando, ainda hoje, de fazer a sua aparição pelas nossas vilas, aldeias e lugarejos. As primeiras, constituídas por grupos (mais aproximadas às «janeiras»), apresentam maior incidência na Beira Baixa, Estremadura e Ribatejo, embora façam a sua aparição noutras zonas do país. As segundas, efectuadas igualmente por grupos, têm por finalidade a barulheira e a gritaria festivas, com o bater de latas e outros objectos barulhentos e o soar de campainhas, chocas e chocalhos, enquanto procedem ao tradicional peditório «para os Reis». Noutros casos, o mesmo género de grupo limita-se à infernal barulheira, omitindo as dádivas.
 
Com esta função, pretende-se, uma vez mais, pelo barulho, afugentar o mal e obter benefícios propiciatórios e profilácticos (à semelhança do ritual da noite da passagem de ano, com o bater de latas, de panelas, etc.). As «chocalhadas» levam-nos às Sigilárias ou Festas Sigilares de Roma (sigilar de «fechar», em alusão ao «fechar do Ano Velho»), realizadas no primeiro dia de Janeiro, em que se fazia enorme barulho à porta de casa de cada um.
 
Igualmente provável é a celebração dos Reis resultar de antigos rituais ligados ao culto dos politeístas solares e da sua festa de consagração da luz do Sol no solstício de Dezembro, efectuada no Egipto sob o título Festum Osirid nati, ou Inventio Osirid, em data correpondente ao nosso 6 de Janeiro, designada pelos Judeus como Festa das Luzes ou Khanu Ka.
 
Janus, o deus grego e romano das duas faces.
  
Há ainda quem sustente ter a comemoração do «Dia de Reis» origem nas festas romanas em honra de Jano (de onde provém o nome de Janeiro), o deus das duas faces: uma voltada para o passado, a outra para o futuro.
 
Soledade Martinho Costa
In Festas e Tradições Portuguesas, Vol.I
Ed. Círculo de Leitores
 
publicado por sarrabal às 17:56
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Sábado, 5 de Janeiro de 2008

ÚLTIMA CARTA A LUÍZ PACHECO

 
Caríssimo Luíz Pacheco:
 
Acabei de ouvir na TV a notícia do seu falecimento. E fiquei triste. Uma tristeza calma. Pressentida de há muito. De há muito temida. Por isso, conformada.
E logo escolheu esta altura para nos deixar? Em que me sinto em falta para consigo?
Publiquei  aqui, no Sarrabal, no dia  6 de Novembro/2007,   a sua foto e o respectivo poema a pensar: “vou telefonar ao Luíz Pacheco”. Mas umas vezes por uma coisa, outras por outra (o lugar-comum de sempre), os dias passaram. Não telefonei. Fica-me esse peso.
Eu sei que teria gostado da foto que escolhi. O poema, esse, já o Luíz o conhecia. Lembra-se do que me escreveu quando o trabalho saiu? Isto:
“Palmela, 1 de Abril, mas sem mentir. Soledade! Veja o que é a glória (a minha): vou ao supermercado e a menina da caixa sorri e diz: - vi o seu retrato…temos ali guardado! Era a Notícias/Magazine – revista de domingo passado. Deixe-me dizer-lhe: gostei daquilo tudo. Mas a Soledade obrigou-me a ir ao dicionário ver que raio era enfiteuses que rimava com deuses. Tenho, tirei aí em 1948 ou 49 a cadeira de História de Portugal na Fac. De Letras de Lisboa. Vaga memória que aquilo se relacionava com alugueres de terras, talvez coisa da lei das sesmarias…”
Falei consigo e disse-lhe que tinha acertado. Eu apenas alarguei a lei às casas e aos quartos alugados (os seus). Foi fácil e rimou. Só para si foram três páginas da revista, com fotos, poema e “pinsamentos”, como você lhe chamava. É natural que a menina da caixa lá do supermercado tenha ficado impressionada. Provavelmente, só o conhecia do saquinho das compras…
Fiquei em falta para consigo também pelo “ritual” que mantinhamos sobre o “Bolo-rei”. Comi uma fatia, mas não me soube a bolo. Soube-me a tristeza. A saudade. De si. De todos os que fazem parte dessa já longa lista de nomes amigos que nos trazem à memória essa ternura estranha vestida de distância. Mas também o privilégio de podermos recordar momentos passados, bons momentos, fraternos, alegres, cúmplices. É certo que não conseguimos contrariar a vida quando a morte resolve fazer-nos a sua inexorável visita. Mas podemos recordar depois aquilo que nem sempre o tempo apaga. É a nossa vitória sobre a morte. É o nosso triunfo sobre a saudade.
Encontrámo-nos pela primeira vez, à noite, numa daquelas “sessões de esclarecimento” (em cima do 25 de Abril) na Soc. Nacional de Belas Artes, lembra-se? Mas já nos tinhamos visto por aí (Lisboa) uma ou outra vez. Eu sabia quem você era. Você, pouco ou nada sabia de mim. Depois, aconteceu aquele encontro na Associação Portuguesa de Escritores, por esse tempo na Rua do Loreto. O Luíz pediu-me um livro meu para ler. Entreguei-lho em mão (nessa altura o único publicado). Prometeu devolver-mo. E cumpriu. Quando me entregou o livro, não lhe perguntei a sua opinião. O Luíz também não se pronunciou. Disse-me apenas: “Permite-me que lhe dê dois beijos?”. Permiti. Foram dois beijos, um em cada face. Como testemunhas tivemos José Gomes Ferreira, à época presidente da APE, e a risonha Maria Seizette, secretária (até hoje) da Associação.
Estávamos no início de 1975. Eu era tão jovem, Luíz Pacheco… E você, feitas as contas, afinal, também bastante novo.
Como sabe, tenho todos os seus livros (mesmo os tais, que só se encontram nos alfarrabistas). E os outros, que foi editando na Contraponto. Em cada um (dos seus) guardo uma carta sua, uma fotografia, um cartão (costumo fazer isso com outros escritores amigos) …Tenho debaixo dos meus olhos o cartão de boas-festas que me enviou o ano passado. Diz assim:
“Porque hoje é um dia muito especial para nós, só para te dizer que…gosto de ti mais que ontem! – Soledade, darling! 29 / XII / 2008”.
Foi um engano seu, eu sei. Por lapso (ou premonição?), antecipou-se na data. Por isso, ao ler agora o cartão, fica-me a vaga sensação de que não nos deu o desgosto de se lembrar de partir. Estas coisas, Luíz, fazem mal ao coração, sabia?
Apesar de me sentir em falta por não ter telefonado no mês de  Novembro, por não ter aparecido a visitá-lo nos últimos tempos (lembro as suas palavras numa fotografia: “esta é a porta por onde tenho esperado, há meses, que a Soledade me apareça. O que é feito de si? V. telefona-me do Algarve, do Bom Velho, de Alverca, mas esquece-se de Palmela”), por me ter esquecido da “tradição” do “Bolo-rei”, aqui estou, a despedir-me de si, Luíz Pacheco. Não com lágrimas (essas estão guardadas), mas com o meu sorriso de sempre. Aquele, especial, que dedico só aos meus amigos.
Não sei se estará no Olimpo (como vaticinei), mas que escolheu a véspera de Dia de Reis para nos dizer adeus, é uma verdade. Daí, entre deuses ou reis, no Olímpo ou no Céu (ou no Purgatório), esteja com quem estiver e onde quer que esteja, aqui em baixo, na Terra, caro Luíz, o seu nome, a sua obra e a sua memória (tão discutidos, tão discursivos, tão “amaldiçoados” quanto louvados), cá ficam, para todos nós e para o conhecimento dos vindouros. No lugar reservado apenas aos eleitos. Aos eternos. Aos que não morrem nunca. Isso lhe garanto eu, meu saudoso amigo.
 
Abraço carinhoso da Soledade Martinho Costa 
 
 
      
publicado por sarrabal às 18:34
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