Sábado, 29 de Setembro de 2007
Hoje, dia 29 de Setembro, celebra a Igreja Católica os três Arcanjos: São Miguel, São Gabriel e São Rafael.
São Miguel, reconhecido, liturgicamente, como o principal Arcanjo, é considerado o padroeiro e protector da Igreja Católica Universal. Durante oitenta anos por imposição (e autoria) do papa João XIII, rogou-se, no final da missa, a São Miguel, pelo “combate contra Satanás e os outros espíritos malignos que vagueiam pelo Mundo para perdição das almas”, oração retirada quando da reforma litúrgica, por volta de 1960. Contudo, ainda hoje mantida em certos actos da Igreja.
Chefe dos exércitos celestiais, da milícia celeste ou dos exércitos de luz, São Miguel Arcanjo é o anjo da Paz, do Arrependimento e da Justiça, citado na bíblia como “o grande Príncipe que defende os filhos do povo de Deus”. Ainda na bíblia pode ler-se que “ houve uma grande batalha no céu e que o Arcanjo São Miguel e os seus anjos lutaram contra Satanás e as suas legiões, que foram derrotados, banidos dos céus e atirados para a Terra”. Lê-se também que o Arcanjo Miguel enfrentou o diabo e disse: «Que o Senhor te repreenda». Daí, São Miguel Arcanjo ser representado, iconograficamente, a atacar o dragão infernal. É São Miguel que nos defende e protege, com o grande poder que Deus lhe concedeu, contra os Perigos, as Forças do Mal e os Inimigos.
Primeiro raio de Deus, o raio da Protecção, da Perfeição e da Vontade de Deus, São Miguel Arcanjo é, igualmente, o Arcanjo da Libertação. O seu nome traduzido liturgicamente será: «Quem é como Deus», ou «Quem é semelhante a Deus» ou ainda «Aquele que é como Deus». Sinónimo de vindimas e de colheitas, São Miguel Arcanjo tem ainda a função de guiar e conduzir as almas para o céu, depois de tê-las pesado na balança da Justiça Divina.
Na hierarquia divina os arcanjos estão acima dos anjos, possuindo grandes poderes. São os arcanjos que transmitem as mensagens divinas, protegendo, principalmente, os médicos e as pessoas ligadas à área da saúde. Líder dos exércitos celestiais, alguns entendidos afirmam ser São Miguel o único a ter a designação de Arcanjo. Embora assim, nessa hierarquia, os arcanjos são sete. Seguem-se São Gabriel, São Rafael, São Jofiel, São Samuel, São Uriel e São Ezequiel.
O Arcanjo São Gabriel – cujo nome significa «Aquele que está diante de Deus» – citado várias vezes na Bíblia Sagrada, anunciou a vinda do Redentor e o nascimento de São João Baptista, o Precursor. Juntamente com os seus anjos dão aos homens Sabedoria e Compreensão. São ainda os mensageiros das Boas Notícias.
O Arcanjo São Rafael – chamado «Medicina de Deus» ou «Deus cura» – tem a seu cargo ajudar na cura dos doentes, sendo o guardião da saúde física e espiritual dos seres humanos. Os três Arcanjos, São Miguel, São Gabriel e São Rafael representam o símbolo do Poder, da Fidelidade e a Glória dos Anjos.
Soledade Martinho Costa
Sexta-feira, 28 de Setembro de 2007
Sou feita de seivas
De geadas e matos
De aves e manhãs
Pedras e regatos.
Sou fruto das flores
Safões dos pastores
Água dos cantis.
Sou lume ateado
Seara de espigas
Sou pão amassado
Lágrimas, cantigas.
Sou mel e orvalho
Sou sede e calor
Sou do milho o malho
Sou a hora do amor.
Sou o povo que reza
Sou o Sol a nascer
Sou enxada que pesa
Sou o trigo a crescer.
Sou o pisar da uva
Sou o corpo cansado
Sou o canto da chuva
Sou o estrume e o arado.
Sou barco parado
Sobre ondas de pranto
Sou o sangue que corre
Nas veias do vento.
Sou feita de estrelas
De sal e marés
De limos e algas
Tormenta e convés.
Sou sopro de brisa
Saudade, cadência
Vulto de um País.
Soledade Martinho Costa
Do livro “Reduto”
Quinta-feira, 27 de Setembro de 2007
Batem três badaladas na torre da igreja.
- Que tarde já, e eu tão atrasada! – lamenta-se a formiga, a arrastar um cestinho por um carreiro ao longo da relva.
Uma abelha, que segue rumo à colmeia, ao ouvir o seu desabafo, pousa sobre uma flor.
- E onde vai de passeio? Qual é a pressa? Posso ajudá-la, dona Formiga? – pergunta, prestável e intrigada, ante aquela força num corpo tão pequenino.
- Não preciso, dona Abelha, obrigada! Vou perto. A casa da Cigarra, levar-lhe esta encomenda. Começou o Outono, sabe, e qualquer dia meto-me na minha despensa. Depois vem o frio e a geada e ainda é pior. Enfim, é a Natureza…E, aqui para nós, coitada da Cigarra; nada tem. Mas canta. Canta tão bem! E ajuda-me a trabalhar com a sua cantoria. Se não fosse a Cigarra, os meus dias eram menos felizes. Bem merece que reparta com ela o que guardei, se ela comigo divide a sua alegria…
E lá seguem ambas. A formiga: truz! truz! que havia chegado a casa da cigarra. A abelha, a caminho do cortiço.
Soledade Martinho Costa
Do livro “Histórias que o Outono me Contou”
Ed. Publicações Europa-América
Quarta-feira, 26 de Setembro de 2007
Dos oceanos desvendar segredos
Escalar montanhas
Conquistar desertos.
Fazer da vida rumo
Descoberta.
Prender em cada passo
Um novo Mundo
Lançar no espaço o sonho
Em mão aberta.
Soledade Martinho Costa
Do livro “O Nome dos Poemas”
Terça-feira, 25 de Setembro de 2007
"Apolo e Dafne", Gian Lorenzo Bernini, Galleria Borghese, Roma.
Se eu soubesse esculpir a pedra bruta
Retalhava nela a tua imagem.
Os vincos do teu rosto
Cada sombra
O teu cismar de monge magoado
O contorno subtil da tua boca
As tuas mãos nodosas e profundas
Onde sonhos e lutas enrugaste.
Pudesse a tua imagem ser a arte
Que se venera
Se sente
Se admira
E muito embora de pedra
A tua fronte
Ao tocá-la
O Homem se escutasse
A chamar brandamente pelo teu nome.
Soledade Martinho Costa
Do livro “A Palavra Nua”
Ed. Vela Branca
A vida
Toda ela
Se constrói dia após dia.
Mais cheia
Mais audaz
Ou mais vazia.
Tudo depende
De se ser capaz.
Que não se diga
Ser só
Obra da estrela que nos guia.
Merecer
É lutar por aquilo que se faz.
Soledade Martinho Costa
Do livro “O Nome dos Poemas”
Domingo, 23 de Setembro de 2007
São a roca
E o fuso
Em tuas mãos
A tecerem o nome
À solidão
Que come o pão
Contigo
À tua mesa.
São a roca
E o fuso
Nos teus dedos
A tecerem o linho
Da tristeza.
Foram caminhos
Feitos de caruma
Foram rebanhos
Tocados por varinha
Foi a brasa do forno
A cozer broa
Foi o cheiro às estevas
No teu corpo.
Já nada se repete
Ou se adivinha
Já nada te consome
Ou te magoa.
Fiandeira
Dos dias que te sobram
Olhos postos
Aos pés do abandono.
Na tua cama o sono
Rés ao sonho
Sem que o Inverno traga
A Primavera
Quando as cegonhas partem
No Outono.
Soledade Martinho Costa
" Guardando o Rebanho ", António Carvalho da Silva Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto.
O lusco-fusco instala-se na aldeia. Batem novas badaladas no relógio da capela. Os homens e as mulheres regressam da faina do campo.
Das chaminés, começa a sair o fumo que anuncia a ceia. Os pastores chegam com os seus rebanhos e encaminham-se para o redil. Amanhã será um outro dia de trabalho. Agora, é preciso comer e repousar. E que bem sabe a sopa, a broa, o queijo e as azeitonas!
Mas as tarefas lá estão, do lado de fora das paredes que os abrigam, à espera das mãos, dos braços, do esforço e do suor. Porque a terra precisa de amanho, as árvores de cuidados, as plantas e os animais do zelo que os fará medrar.
E enquanto os filhos já dormem, os homens e as mulheres falam dos afazeres que os aguardam durante os meses do Outono: do lavrar da terra para nela semearem o trigo e a cevada; do mel e da cera que terão de recolher das colmeias; do cortar das canas e dos ramos secos e apodrecidos das árvores; do feno, na altura de ser guardado, para servir de sustento ao gado no Inverno; da apanha da castanha, das amêndoas, das avelãs e das nozes; dos vinhos, na fase de serem vigiados nas adegas: da horta, onde irão semear as couves, as ervilhas e as favas; dos cravos, dos goivos e da alfazema que vão semear e plantar nos canteiros, para alegrar e perfumar a entrada das casas.
Enquanto a noite cai, a praia, longe, longe, faz chegar até à aldeia o som do marulhar das ondas. Como se o mar gritasse lá do fundo: «Também aqui as tarefas não acabam mais…Lembrem-se, salgado como eu, é o esforço e o suor dos pescadores!».
Soledade Martinho Costa
Do livro “Histórias que o Outono me Contou”
Ed. Publicações Europa-América
Sábado, 22 de Setembro de 2007
Um dia, eu sei
Hei-de sentir saudades
Saudades da vossa turbulência de crianças
Aonde a traquinice e a bondade
Se moldam ao sabor da vossa infância.
A dar-me conta de vos ver crescer
A ti feita mulher
A ti um homem
Vos vou perdendo de mim em cada hora
A cada descoberta
A cada esperança.
E a saudade virá
Eu já a sinto
Na lágrima
No gesto
Na palavra
Em cada frase
Em cada movimento.
E chorarei de pena e de saudade
As esferas
Os berlindes coloridos
A boneca que espera sobre a cama
A ternura de um beijo de menina.
E chorarei de pena e de saudade
As nódoas
Os rasgões nas camisolas
As histórias que por vezes vos contava
As mãos sujas de terra e de poeira
A hora de acordar-vos para a escola
Os joelhos esfolados sobre as pedras
As gargalhadas
O choro
As brincadeiras.
E a saudade virá
Eu já a sinto
Na forma de brinquedo ou de criança
Como se fora sonho onde amanheça
A força de uma imagem prisioneira
De um beijo
De uma flor
De uma distância.
Soledade Martinho Costa
Do livro “A Palavra Nua”
Ed. Vela Branca
Sexta-feira, 21 de Setembro de 2007
A mais das vezes
Longe se alcança
O que se tem.
Distância e querer
Se faz destino.
Mas a vida é também
Paixão
Poema
Estrada onde se lê
E escrevem sinas.
Em ti
É tempestade
É fogo aceso
Na língua que é a tua
E que dominas.
Soledade Martinho Costa
Do livro “O Nome dos Poemas”