Presume-se que «o folar do padre» tenha ligação com o antigo costume das «reconhecenças» e dos «afolares», que consistiam nos salários aos confessores, actualmente designados por «côngrua», ou «digna sustentação do pároco».
A praxe de se introduzir uma moeda numa laranja (símbolo da fecundidade, visto o seu interior se multiplicar, ao dividir-se em gomos) colocada sobre a mesa pascal, quando do «compasso» (visita do padre aos paroquianos na altura da Páscoa), poderá significar a prosperidade, em função do trabalho agrário, recompensado, materialmente, pela generosidade da terra fecundada.
Outra versão, numa visão mais sacralizada, associa a moeda ao «metal que matou Jesus» (por analogia às moedas e à traição de Judas), ou à tradição que nos fala de São Longuinhas, o soldado romano, convertido depois ao cristianismo, que atravessou com a sua espada o coração de Cristo, acto quase de misericórdia face ao seu sofrimento na cruz.
Uma terceira variante (Minho) refere que a laranja com a moeda cravada serviria, tão-só, como indicação para identificar as casas que «já tinham mandado entregar na igreja o folar do padre». Isto é, o sinal ao próprio pároco, no dia do «compasso», de que «o pagamento havia sido antecipado».
Existe também a suposição de este rito representar «um hábito judaico, para dar sorte e trazer abundância aos donos da casa».
A laranja simbolizará, igualmente, «o coração de Cristo», enquanto os ovos (imagem do início da vida) significam a Sua Ressurreição, ou seja, «o túmulo do qual Cristo ressuscitou, vencendo a morte».
Embora a praxe tenha caído em desuso, ainda hoje, em Cernache (Coimbra) e em certas aldeias da Beira Alta (arredores de Viseu e de Moimenta da Beira) se conserva o costume de colocar uma moeda actual (ou antiga, quando a há) cravada numa laranja, pêro ou maçã, e um prato com ovos sobre a mesa pascal.
O mesmo acontece em diversas localidades de Idanha-a-Nova, onde a moeda é cravada numa das laranjas que estão dispostas num prato ao lado de outro com ovos. Antigamente, dizem, «era o próprio padre que retirava a moeda da laranja».
Noutras aldeias da Beira Alta, em vez da moeda, espetam na laranja, colocada no centro de um prato com ovos, uma camélia. Para embelezar, dizem uns, como reminiscência da tradicional moeda, dizem outros.
Não é menos verdade que a escolha da laranja poderá estar relacionada com o facto de ser o único fruto que o Inverno nos oferece com abundância. Por isso se diz, ainda em Cernache, «as laranjas só são boas depois de abençoadas» – referindo-se o povo ao «compasso». Embora se possa relacionar o ditado, eventualmente, com a doçura do fruto: quanto mais para a frente, depois da Páscoa, mais doce a laranja será.
Em muitas destas aldeias, em anos relativamente recentes, o pároco deslocava-se à casa dos paroquianos, acompanhado de duas mulheres com canastras à cabeça, para nelas recolher o «folar», ou seja, as ofertas que lhe eram destinadas: milho, trigo, feijão e, principalmente, galinhas, escolhidas entre as melhores da capoeira – «a galinha do padre», ou «a galinha do folar». Principalmente na Beira Baixa, da comitiva do padre fazia parte um acólito que transportava uma bolsa de veludo destinada a recolher «o folar do padre» (dinheiro).
Hoje, em certos lugares, é costume o padre mandar entregar em casa dos paroquianos, dias antes da visita pascal, uma carta, com algumas palavras, onde expressa os votos de «Páscoa feliz», retribuindo quem a recebe com o usual «folar do padre», entregue depois na igreja.
Soledade Martinho Costa
Do livro «Festas e Tradições Portuguesas», Vol.III
Ed. Círculo de leitores
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