Os ofícios celebrados antigamente ao princípio da noite de Quarta, Quinta e Sexta-Feira da Semana Santa eram designados por «ofícios das trevas» – em que a luz não entra nos templos. Esta denominação, conhecida desde o século XII, deriva, talvez, do costume introduzido nas Gálias (nome antigo de regiões protegidas pelos Romanos), de apagar, progressivamente, as velas nos lugares de culto, de forma a terminar o ofício na escuridão total.
A prática manteve-se até à reforma litúrgica, quando os ofícios passaram a celebrar-se na manhã destes dias, desaparecendo, então, oficialmente, o nome de «trevas». Apesar disso, a designação continua ainda hoje a ser popularmente empregue. Daí, nestes mesmos dias, fazer parte do antigo ritual litúrgico, colocar-se nas igrejas, perto do altar, o «candeeiro das trevas», de madeira, em forma de triângulo, com treze velas, uma maior do que as restantes (seis de cada lado, de cera amarela, e uma no centro, de cera branca) – a remeter-nos para Jesus Cristo e os apóstolos.
Consistia o ritual, caído entretanto em desuso, que entre as «matinas» (primeira parte do ofício divino rezado antes de romper a manhã, ou logo após a meia-noite) e as «laudes» (salmos de David, em louvor de Deus, que se seguem às «matinas»), se acendessem as treze velas do tocheiro, apagadas depois, ora de um lado, ora do outro do candeeiro, uma por cada um dos salmos que se cantava. No último salmo (Miserere), a vela maior, colocada no centro do candeeiro, era retirada e posta, escondida, ao lado da Epístola (lado direito do altar, à direita do celebrante). Ao terminar o ofício, a vela voltava a ser colocada no «candeeiro das trevas», representando este ritual «Cristo, cuja divindade esteve oculta durante a Paixão». E só depois a chama da vela era extinta.
No Minho davam a esta vela – a mais alta do candeeiro de três bicos, representando a Santíssima Trindade – o nome de «galo das trevas», ou «vela Maria». É possível que a primeira designação se refira às palavras que Jesus disse a Pedro no final da Sagrada Ceia: «Antes que o galo cante negar-Me-às três vezes» (sendo certo que só depois de o galo ter cantado «se fez luz em Pedro»). A segunda poderá significar a Mãe de Cristo, como imagem da derradeira esperança, da última luz que se apaga, perante o filho agonizante. Na Beira Alta designavam o tocheiro por «candeeiro das trévoas».
Igrejas há que guardam e utilizam ainda o «candeeiro das trevas», como relíquia a preservar, enquanto noutras o seu destino terá sido o lume ou outro fim qualquer, uma vez que não se sabe já do seu paradeiro. Caso exemplar é o da Sé de Braga, onde este cerimonial litúrgico nunca deixou de realizar-se.
Soledade Martinho Costa
Do livro «Festas e Tradições Portuguesas», Vol. III
Ed. Círculo de Leitores
. ANIVERSÁRIO DA MORTE DE N...
. VARINAS
. VERSOS DIVERSOS - O CONSE...
. LEMBRAR ZECA AFONSO - 37 ...
. A VOZ DO VENTO CHAMA PELO...
. CARNAVAL OU ENTRUDO - ORI...
. REGRESSO
. 20 DE JANEIRO – SÃO SEBAS...
. UM OLHAR SOBRE A PAISAGEM...
. AS «JANEIRAS» E OS «REIS»...
. BLOGUES A VISITAR