Após algumas rupturas pelo meio, os festejos dos santos populares regressaram a Lisboa a partir de 1925, a impor a sua tradição e colorido, reabrindo-se as portas do Mercado da Ribeira, fechadas ao povo desde 1916. Em 1932, além das cerimónias litúrgicas, o figurino dos festejos renova-se, no que respeita aos arraiais, ao enfeite das ruas, becos e pátios alfacinhas, e mesmo aos próprios «tronos de Santo António».
Nesse ano são incluídas as «marchas populares», com desfile colectivo dos moradores de cada bairro da capital, ao som de músicas alegres, a obedecer, tal como as letras, o trajo dos marchantes e a própria ornamentação dos arcos, enfeitados com balões, a um tema alusivo – histórico ou referente às características de cada bairro.
Poder-se-á dizer que a ideia foi apenas retomada em novos moldes, isto é, recriada e (re)construída como criação lúdica de um espectáculo de rua, apropriado depois pelo povo reunido nas colectividades de recreio dos bairros da capital, que torna as marchas num símbolo festivo, popular e urbano, e um dos pontos altos das festividades lisboetas, tal como então foram concebidas e hoje as conhecemos.
Muito mais remotamente exibia-se já a chamada «Marche aux Flambeaux» (adaptada da tradição francesa, popularmente designada por «Marcha ao Flambó», com origem provável nas «danças de Entrudo»), organizada por cada bairro, mercado ou local onde se festejasse o Santo António, formada por pequenos grupos (trinta a quarenta participantes), que desfilavam sem grande aparato de apresentação ou de coreografia, geralmente dirigidos por um ensaiador que os orientava, utilizando um apito, exibindo-se os marchantes, preferencialmente, «às portas e em frente das janelas dos Paços Reais, dos palácios da nobreza ou das casas ricas».
Nesse ano (1932) foi instituído um prémio para a melhor marcha, tendo concorrido apenas três bairros de Lisboa: Alto do Pina, Bairro Alto e Campo de Ourique. Outros três limitaram-se a participar: Alcântara, Alfama e Madragoa. Dois anos depois concorreram doze bairros. A ideia estava lançada e bem aceite por toda a cidade, tornando-se as marchas na maior manifestação etnográfica dos festejos de Santo António, com os desfiles e exibições habituais na Avenida da Liberdade e Parque Eduardo VII – à conquista do prémio para a melhor marcha, sempre efusivamente festejado por quem o alcança.
Até 1950 as marchas sofreram alguns interregnos, embora voltando sempre com nova vitalidade, colorido e maior esplendor. A partir de 1990 tomam ainda, se possível, maior relevo, integradas nas Festas de Lisboa, com o início dos festejos no dia 1 de Junho e a prolongarem-se até ao dia 30.
Em 1998 adoptou-se um novo figurino, com as celebrações a incidirem de 1 a 13 (finalizando com as marchas) abrangendo as áreas do Terreiro do Paço ao Largo do Chafariz de Dentro.
Em 1999 optou-se pela noite do dia 12 até 30 de Junho, com as festividades a decorrerem desde o Terreiro do Paço – onde foi armada uma praça e efectuada uma corrida de toiros, a lembrar tempos antigos – até à Praça de D. Luís. O calendário repetiu-se no ano 2000, contemplando as celebrações a zona ribeirinha e o Parque Eduardo VII.
Em 2001 manteve-se a mesma data, agora com os festejos espalhados pela cidade, oferecendo a maior diversidade no que respeita a animação, mas tendo como ponto central os bairros históricos. Actualmente, concorrem dezoito bairros (ou marchas), a que se junta a Marcha Infantil da Voz do Operário, saída pela primeira vez em 1966 e depois apenas em 1990 para continuar até hoje.
Aos festejos associaram-se em 1958 as «noivas de santo António», numa iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, com mais de uma dezena de casais unidos religiosamente numa única cerimónia, no dia 13 de Junho, iniciativa interrompida em 1973 e só retomada vinte e quatro anos depois (1997), mantendo-se nos anos seguintes.
As cerimónias litúrgicas contam, no dia 13, com missa de hora a hora, das sete da manhã ao meio-dia, celebradas na Igreja de Santo António. A procissão sai às dezassete horas, apenas com o andor do santo, para percorrer algumas das ruas de Alfama. No trajecto juntam-se ao préstito processionário os andores de São João da Praça, São Miguel, Santo Estêvão e São Tiago, patronos dessas paróquias.
No retorno, em frente da Sé, é proferida uma homilia por um bispo ou pelo próprio patriarca. As celebrações religiosas encerram com outra missa pelas vinte e uma horas.
Soledade Martinho Costa
Do livro «Festas e Tradições Portuguesas», Vol.V
Ed. Círculo de Leitores
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