- Ora, boa noite, bons olhos o vejam! – diz a coruja para o mocho, seu companheiro e ave de rapina nocturna como ela – Há muito que não aparece por estas bandas. Por onde tem andado, se não é segredo?
- Olhe, minha amiga, mudei de casa.
- Mudou de casa!? Não sabia! – espanta-se a coruja, num pio prolongado.
- Pois é verdade. – continua o mocho – O buraco onde vivia, no tronco de uma azinheira, começou a ser pequeno. Então, mudei-me para um outro maior, na fraga do monte.
- E fica longe? – interessa-se a coruja.
- Oh! amiga Coruja, essa pergunta nem parece sua! Para quem possui asas como nós, acha que a distância é coisa importante!?
- Claro, tem razão! – exclama a coruja embaraçada.
É a vez de o mocho perguntar:
- E por aqui, como vai a caça?
- Assim-assim. No Outono, é o costume. Os ratos do campo começaram a procurar refúgio nos currais e nos celeiros. Os arganazes escavam as galerias onde vão dormir um sono até chegar Abril. Os lagartos, agora mais friorentos, já aparecem pouco. Restam os insectos e os morcegos… – informa a coruja, que logo quer saber: - E lá pelos seus lados, compadre, há mais fartura?
- A mesma coisa. É o Outono, como a comadre disse – replica o mocho. – Eu bem adejo as asas sem fazer barulho; graças à leveza das minhas penas, sou tão silencioso que ninguém dá por mim. Mas estes meses, são meses ruins – acrescenta no seu piar sonoro e sempre triste.
- Lá isso, é verdade – pia a coruja, numa aprovação.
E seguem ambos, de ramo em ramo, num adejar feito de lendas e segredos. Ouvidos atentos, olhos a investigar a noite. Que tanto a coruja como o mocho têm boa visão, embora não suportem muito bem a luz do dia.
Soledade Martinho Costa
Do livro “Histórias que o Outono me Contou”
Ed. Publicações Europa-América
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