― Uf! Que calor! – zune a abelha, pousada num lírio bravo, junto do riacho. – Melhor se deve estar na colmeia!
― Mas só aqui tens a água e o néctar de que precisas! – atalha o lírio, a meter conversa.
― Enquanto dura, amigo Lírio, enquanto dura… Lá para o fim do Verão, o riacho estará seco e eu terei de matar a sede noutro lado.
― Mas haverá ainda flores com abundância, é só escolheres. – comenta o lírio, vestido de lilás.
― Tens razão, flores não vão faltar: campainhas, madressilvas, rosas-bravas, boninas, lírios como tu…
― Por isso trabalhas tanto!
― Sim, sim, não descanso. Eu e as minhas irmãs, as abelhas obreiras.
― E a tua rainha, o que faz ela?
― Toma conta da colmeia. Dita e ensina as leis que nos regem. Põe os ovos para que nasçam outras abelhas-obreiras e outras rainhas.
O lírio bravo confessa:
― Sabes que, por vezes, vos confundo?
― É natural. Somos parecidos: as obreiras, os zângãos e as rainhas. Mas temos tarefas muito diferentes.
― Deve ser engraçada a vida no cortiço. Vocês, as obreiras, trabalham. A rainha dita as leis e põe os ovos. E os zângãos, que fazem eles?
A abelha explica:
― Os zângãos vivem na colmeia e alimentam-se nos nossos favos até chegar a altura de fecundarem a rainha.
E logo o lírio, cheio de vaidade:
― Mas nós, as flores, é que vos damos o néctar!
― Ah, sim! Sem ele não poderíamos fabricar o mel!
A abelha faz um voo circular sobre as pétalas do lírio. Depois volta a sugar o suco doce da flor. Por fim, despede-se:
― Adeus, amigo Lírio Bravo. Vou até à colmeia dizer às minhas irmãs obreiras que venham ter contigo.
― E tu, quando voltas?
― Ainda hoje, prometo. Estamos no Verão, os dias são compridos…
― Só tenho pena de não poder visitar o teu cortiço! – queixa-se o lírio.
― Deixa lá, não fiques triste. Venho eu trazer-te novidades e fazer-te companhia!
E, num zumbido, a abelha lá vai, dar o recado. Indicar às irmãs obreiras a morada da flor de quem ficou amiga.
Soledade Martinho Costa
Do livro «Histórias que o Verão me Contou»
Ed. Publicações Europa-América
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