«Uma preocupação constante para mim, mal se aproximava o Natal, era como entravam o Menino Jesus e o Pai Natal pela chaminé. O receio de o Menino se magoar ou de o Pai Natal escorregar e cair no fogão da cozinha – pior ainda se o peru estivesse ao lume. Nos Natais da minha infância, o peru ficava sempre a cozer até altas horas (principalmente se fosse um peru já velho), enquanto decorria a Consoada. De manhã estava ainda quente, e depois era só continuar a cozinhá-lo para ser servido no almoço do Dia de Natal. (…) A sala grande da avó Maria Estrela apinhada de família, a grande mesa cheia de lugares para tanta gente, as nossas correrias pela sala e pela casa inteira (minhas e dos meus primos), o cheirinho bom, vindo da cozinha, as mãos da minha mãe e das minhas tias enfiadas nos grandes alguidares, mangas arregaçadas, a mexer a farinha misturada com a abóbora, o fermento e os ovos. Alguidares tapados depois com um pano, para que a massa levedasse até chegar a altura de as frigideiras a receberem, colherada a colherada, num ritmo certo, para dançarem de roda no óleo fervente. Deitadas a seguir nas travessas, o açúcar por cima, a canela, o cheirinho no ar, a anunciar uma noite e um dia especiais no calendário dos nossos poucos anos. A expectativa da chegada dos presentes pela manhã na velha chaminé, trazidos pelo Pai Natal ajudado pelo Menino Jesus. A noite, sempre agitada, exactamente por isso. Tanta coisa boa e tão longe a dormir o sono da distância quando a casa era habitada pelas vozes das palavras todas. Pelos risos (ainda) felizes, na comunhão de uma grande família, amiga, unida, fraterna.»
Soledade Martinho Costa
Do livro «Uma Estátua no Meu Coração»
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