O Dia de Reis baptiza o manjar cerimonial da doçaria alimentar desta data: o «Bolo-rei», espécie de pão doce recheado e enfeitado com frutos secos e cristalizados, cuja tradição se espalhou por quase toda a Europa e alguns países da América (particularmente da América Latina).
Supostamente, a resultar do bolo janual, que os Romanos ofereciam e trocavam entre si nas festas do primeiro dia do Ano Novo. Ao bolo juntavam um ramo de verdura colhido num bosque dedicado à deusa Strénia ou Strena.
Do nome da deusa resultará o vocábulo francês étrenne (que significa «presente de Ano Novo») e a palavra «estreias», termo que, em certas localidades do nosso país, continua a utilizar-se para definir o acto de oferecer presentes de «boas festas» («dar as estreias»).
Se recuarmos no tempo, deparamos com as «estreias» (atrenua) relacionadas com mascaradas, banquetes, jogos e outras celebrações, realizadas pelos povos pagãos. Daí, no Concílio de Tours, em 567, ter sido sugerido que as «estreias» pagãs dessem lugar «às esmolas de carácter cristão e litúrgico», de modo a atenuar os vestígios do politeísmo.
Ao bolo janual e ao ramo de verdura acrescentavam os Romanos pequenas lembranças (tâmaras, figos, mel), com votos de bom ano, paz e felicidade. Este costume tornou-se depois mais exigente, acabando o oiro e a prata por substituir os singelos presentes.
Em diversos países foi hábito durante muito tempo introduzir no bolo uma pequena cruz de porcelana (que se juntava à fava, símbolo da fortuna), substituída depois por minúsculas figurinhas humanas.
Associados à quadra natalícia, mais propriamente ao chamado «Ciclo dos Doze dias» (que medeia o Natal e o Dia de Reis), vamos encontrar as «janeiras» e os «reis», que representam peditórios cantados na noite de Natal, de Ano Novo e de Reis.
Herança provável das próprias strenas romanas, a entoação dos cânticos tem por finalidade receber dádivas, que se revestem de um carácter alusivo e propiciatório, a remeter-nos, como noutras celebrações, para tempos remotos, em que se celebravam deuses e divindades pagãs ou eram pedidas ou oferecidas dádivas no início do ano comum, símbolo de bom augúrio, quer para quem as pedia, quer para quem as doava.
O costume, espalhado por toda a Europa em países como Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha, entre outros, continua a efectuar-se, com os seus seculares cânticos de religiosidade popular e festiva.
Formados por grupos de homens e mulheres, os «janeireiros» e «reiseiros», acompanhados ou não por músicos, percorrem os lugares, de porta em porta, a pedir oferendas em troca da entoação das «loas» ao Menino, às Janeiras e aos Reis. «Cantar os Reis», «Esperar os Reis», «Correr os Reis» ou «Tirar os Reis», são as denominações decorrentes destas praxes.
Também as «Reisadas» e as «Chocalhadas» se articulam no mesmo contexto, não deixando, ainda hoje, de fazer a sua aparição pelas nossas vilas, aldeias e lugarejos. As primeiras, constituídas por grupos (mais aproximadas às «Janeiras»), apresentam maior incidência na Beira Baixa, Estremadura e Ribatejo, embora façam a sua aparição noutras zonas do país. As segundas, efectuadas igualmente por grupos, têm por finalidade a barulheira e a gritaria festivas, com o bater de latas e outros objectos barulhentos e o soar de campainhas, chocas e chocalhos, enquanto procedem ao tradicional peditório «para os Reis». Noutros casos, o mesmo género de grupo limita-se à barulheira, omitindo as dádivas.
Com esta função, pretende-se, uma vez mais, pelo barulho, afugentar o mal e obter benefícios propiciatórios e profilácticos (à semelhança do ritual da noite da passagem de ano, com o bater de latas, de panelas, etc.) As «Chocalhadas» levam-nos às Sigilárias ou Festas Sigilares de Roma (sigilar de «fechar», em alusão ao «fechar do Ano Velho»), realizadas no primeiro dia de Janeiro, em que se fazia enorme barulho à porta de casa de cada um.
Igualmente provável é a celebração dos Reis resultar de antigos rituais ligados ao culto dos politeístas solares e da sua festa de consagração da luz do Sol no solstício de Dezembro, efectuada no Egipto sob o título Festum Osirid nati, ou Inventio Osirid, em data correpondente ao nosso 6 de Janeiro, designada pelos Judeus como Festa das Luzes ou Khanu Ka.
Há ainda quem sustente ter a comemoração do «Dia de Reis» origem nas festas romanas em honra de Jano (de onde provém o nome de Janeiro), o deus das duas faces: uma voltada para o passado, a outra para o futuro.
Soledade Martinho Costa
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