Segundo São Mateus – o único entre São Marcos, São Lucas e São João que narra o episódio dos Magos no Evangelho –, os três Reis Magos terão tido uma conversa com Heródes, que não se repetiu, visto, em sonhos, terem sido avisados para o não tornarem a fazer.
Conforme a tradição, ao chegarem a Jerusalém, os três Reis Magos não hesitaram em perguntar na corte de Heródes pelo recém-nascido, Rei dos Judeus. Pergunta que a todos surpreendeu e sobressaltou. Informados pelo próprio Heródes de que o Menino se encontrava em Belém, para lá se dirigiram, levados, de novo, pela estrela que os havia conduzido até à capital de Israel. Estrela que tinha desaparecido e voltado a surgir, para levá-los, agora, até à humilde casa onde, perante um modesto berço, depositaram os seus presentes.
Essa terá sido a conversa a que se refere São Mateus. Quanto ao aviso dos sonhos, apontava para que os Magos «regressassem às suas terras do Oriente, pelo vale e campo dos Pastores, atravessando o rio Jordão, perto da foz, no Mar Morto, de modo a evitar o caminho da capital, pois Heródes tencionava matá-los».
Como se sabe, foi Heródes Antipas, tetrarca da Galileia, quem julgou e condenou Jesus Cristo – que lhe fora mandado para esse fim por Pôncio Pilatos, governador da Judeia –, embora sabendo que Jesus Cristo não era culpado de crime algum.
Para fazer compreender aos judeus que lhes deixava a responsabilidade pela morte de Jesus, Pilatos mandou vir água, nela lavou as mãos e disse: «Estou inocente da morte desse homem.» Resultando dessa frase a expressão «lavo daí as minhas mãos», sempre que alguém declina responsabilidades face a determinado acto.
E foi por caminho inverso àquele que os levou até Jerusalém, que os três Reis Magos regressaram aos seus países de origem, para depois mais honrarem e glorificarem a Cristo, pregando e transmitindo a sua fé aos respectivos povos.
Segundo se supõe, os Magos, certamente gentios, adoravam o verdadeiro Deus, conhecendo também algo da religião do Antigo Testamento. Viviam, tudo o indica, no plano elevado do espírito, preparados no amor a Deus e à verdade que buscavam, os fortalecia e alentava, pois só assim se compreende que tenham iniciado uma tão longa viagem a terra estranha, onde o perigo constantemente os ameaçava.
Da sua verdadeira proveniência, com rigor e exactidão, pouco se sabe, nem os documentos antigos nos garantem coisa alguma. Uma das hipóteses para a sua pátria provável será a Arábia, célebre pelo incenso e pela mirra. Numa outra versão, por certo mais lendária, os Três Reis Magos seriam três irmãos vindos não apenas do Médio Oriente, mas também do Egipto e da Índia.
Em várias catacumbas romanas é frequente a representação dos Magos em pintura, embora sem identificação de nacionalidade ou de carácter pessoal. Na catacumba romana de Priscila, numa pintura do século II, aparecem de cabeça descoberta, transportando os seus presentes, junto a Nossa Senhora. Umas vezes figuram com longas capas ou mantos e outras de túnicas curtas e com gorros frígios (da antiga região do Centro da Ásia Menor) nas cabeças, sempre em grupo de três.
Mito ou veracidade, terá existido um livro, pertença de um povo radicado no Oriente, no qual se falava numa estrela e nos presentes que deveriam ser oferecidos a um Menino que viria a nascer.
Foram então escolhidos doze dos mais sábios homens desse povo, ligados à observação dos astros e ao estudo dos mistérios celestes, da adivinhação e da interpretação dos sonhos, que se constituíam numa respeitada classe sacerdotal da Média (antiga região da Ásia) e da Pérsia, para que se encarregassem de vigiar e aguardar a estrela anunciada.
Este facto vem confirmar as palavras de São Mateus: «Os Magos são homens sábios, zelosos, executores da justiça e da virtude, investigadores curiosos dos fenómenos celestes e praticantes sinceros da religião e do culto verdadeiro de Deus».
Apelidados de Magos, a sua vida a partir daí foi passada a orar e a esperar. Se um deles falecia, logo era substituído por um dos seus filhos, assim acontecendo até ao dia em que, finalmente, uma estrela surgiu no céu diferente das outras em tamanho e luz. Por sua indicação seguiram os Magos até Belém, na Judeia, onde adoraram a Cristo recém-nascido, num tosco estábulo, deitado sobre palhas, entre pastores e mansos animais.
O número de Magos foi entretanto reduzido de doze para três, por São Leão, o Grande – papa que salvou Roma da invasão de Átila, rei dos Hunos, povo bárbaro das margens do mar Cáspio. Por seu lado, Tertuliano, doutor da Igreja, acrescentava, no século III, à sua designação de Magos o título de Reis.
Soledade Martinho Costa
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