O meu convidado de hoje na «festa» do Sarrabal (o último), assina os seus textos com um pseudónimo: Valupi, bem conhecido na blogosfera, quer queiram, quer não – alguns não.
Tanto quanto sei, por tantas vezes dito e repetido, o pseudónimo tê-lo-à perfilhado a partir do nome de alguém – uma mulher, creio – que muito o sensibilizou ou deslumbrou. O resto, se o há, fica no segredo dos deuses. Valupi é o Valupi do Aspirina B e está tudo dito.
Ultimamente na «especialidade» de comentador político, consegue, diariamente, colocar no seu blog textos assinados por si, num ritmo que faz inveja (calculo) à maioria dos nossos bloggers. Abordando temas actuais, pertinentes, escritos numa clareza de ideias e de estilo que deslumbra, principalmente, a quem, como eu, tem a paixão da escrita.
Para o Valupi, que considero um consagrado intelectual, o acto de escrever parece ser idêntico ao de respirar. Aliás, é forçoso que o diga, não é de todo fácil para mim elaborar uma introdução como esta, para falar do exemplo brilhante de alguém que parece dar-se por inteiro à tarefa de bem escrever.
Tem amigos e inimigos. Seguidores e opositores. Quem lhe dê força para continuar a escrever os posts que escreve, e quem tente que mude o rumo à sua forma de pensar. Assim se consagra como um nome respeitado da nossa praça e nunca derrotado (?) perante argumentos alheios.
Com calma, classe, imperturbável, com um certo humor, responde aos comentários mais agressivos. Com calma, classe, imperturbável, com um certo humor, agradece os comentários simpáticos de quem também sabe o que diz.
Sempre achei o Valupi uma pessoa de uma inteligência pouco vulgar. Brilhante na erudição dos seus escritos, políticos ou não. Fraterno e amável na lidação com os outros. Assim o foi e é comigo. Se há (houve) alguma dúvida da minha parte, um dos seus textos (já lá vão dois anos) veio mostrar-me que sabe, ao mesmo tempo, guiar-se pela razão e pelo coração. O que não é vulgar.
Durante quatro meses (de Março a Julho de 2007) fui colaboradora do Aspirina B. Boas e menos boas recordações. Mas um nome ficou na minha memória afectiva: o do Valupi.
Resta-me estender, pela última vez este ano, a passadeira vermelha. Valupi, meu amigo, és tu quem vai encerrar este ciclo de «presentes literários» e de «festa». Podes avançar. O teu texto (e olha que texto) vem já a seguir!
Soledade Martinho Costa
A PISCINA DA SOLEDADE
A Soledade entrou no Aspirina B pela mão do José do Carmo Francisco. Este, pela mão do Fernando Venâncio. Este, pela minha. E eu, pela do Luis Rainha. Ou, contado de outra forma, o Luis Rainha convidou-me para fazer parte do grupo fundador donde nasceu o Aspirina B. Em Janeiro de 2006, dois ou três meses depois da inauguração, propus a esse grupo fazer-se o convite ao Fernando. Várias pessoas entraram nessa 1ª leva de mudanças no elenco, e o Aspirina B ficou diferente. A sua natureza, poucos meses depois, voltaria a mudar, com várias saídas e entradas. E assim até hoje, com sucessivas alterações na equipa de autores, como é frequente nos blogues colectivos. Para nossa sorte, a Soledade fez parte da casa durante um breve, mas muito intenso, período. Estamos-lhe gratos ― e vaidosos.
O que é um blogue? Dependendo da experiência de vida, e da relação com a Internet, cada um terá a sua concepção. Não há consenso, e ainda bem. Mas é frequente, para quem se inicia no meio, encontrar analogia entre os blogues e os jornais ou revistas. Apenas o veículo seria diferente, de suporte digital, mas o estatuto e os objectivos os mesmos, dizem alguns. Outros pensam o contrário: um blogue é um espaço de expressão pessoal, não regulado por qualquer etiqueta, moral ou deontologia. É um espaço informal, não convencional. Ora, quando se juntam antagónicas perspectivas num colectivo, os conflitos são inevitáveis. E foi isso que imediatamente aconteceu com a Soledade, tendo ela recebido um baptismo de blogosfera extremamente animado, feérico. A sua cultura não se conciliava com a cultura do Aspirina B, cada uma com maturidades e horizontes diferentes para explorar, o que veio a revelar-se providencial: o Sarrabal começava a nascer.
Alguns dos melhores momentos que passei no Aspirina B estão associados às conversas e brincadeiras que resultaram da presença da Soledade. Como ela sempre alinhou com excelente humor e galhardia, atingiram-se picos de graça inesquecíveis e homéricos. E criou-se um mito à volta de uma entidade ainda hoje misteriosa para o comum dos mortais: a piscina da Soledade. Alguns investigadores afiançam que ela nunca existiu, apenas ilusão de óptica para caminhantes no deserto urbano. Alguns eruditos pretendem ver nessa referência uma alusão simbólica a tesouros escondidos, fontes de juventude. E alguns simples, onde me incluo, sabem que a piscina da Soledade existe sempre que nos atrevemos a mergulhar nas suas plácidas e refrescantes palavras. Que inveja que eu tenho da piscina da Soledade...