Sábado, 4 de Julho de 2009

RAINHA SANTA ISABEL - MEDIANEIRA DA PAZ

                                             

                                  Rainha Santa Isabel, imagem deTeixeira Lopes (século XIX).

 
O dia 4 de Julho assinala a morte da Rainha Santa Isabel, ocorrida em 1336.
 
Invocada em favor da paz, nasceu em Saragoça (reino de Aragão, Espanha) no dia 11 de Fevereiro de 1270. Celebra o seu casamento com o rei D. Dinis de Portugal, por procuração e escritura antenupcial, segundo o direito romano, no dia do seu décimo segundo aniversário, corria o ano de 1282.
 
O casamento religioso e as Festas das Bênçãos Nupciais realizam-se em Portugal no dia 24 de Junho desse mesmo ano, na Igreja de São Bartolomeu, em Trancoso. De registar que o local e a data do seu nascimento, assim como a do seu casamento, diferem de acordo com a opinião de alguns investigadores.
 
Os reis de Portugal acabam por fixar residência nos Paços de Santa Ana, junto ao Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra – que a rainha virá a doar ao referido mosteiro, situado na margem esquerda do rio Mondego.
 
 
Andor da Rainha Santa Isabel durante a Procissão Solene a percorrer as ruas de Coimbra.
 
Isabel de Aragão, rainha de Portugal, foi cativando o coração do povo português pelos actos de extrema bondade praticados em favor dos humildes, dos doentes, dos abandonados, das crianças, dos que tinham fome. As obras que patrocinou foram inúmeras e contam-se de norte a sul do País: hospitais, asilos, leprosarias, casas de assistência aos desvalidos. Muitos mosteiros e igrejas foram igualmente construídos graças à sua generosa contribuição. Distribuía o que tinha de seu, visitava os doentes, servia os pobres, velava pelas crianças abandonadas, amparava as filhas de gente humilde, às quais dava dote quando casavam, mandava sepultar os mortos cristã e dignamente, pagava as dívidas de quem não tinha possibilidades de o fazer, vestia os nus, redimia os presos ou aqueles que andavam transviados, lavava as feridas dos leprosos com as próprias mãos.
 
Procissão da Penitência.
 
Por altura das grandes fomes que assolaram o País devido à infecundidade das terras, mandou vir de longe, despendendo somas elevadas, o trigo que oferecia aos necessitados. Conta-se que terá vendido parte das suas jóias para fazer face à fome do povo.
 
«Medianeira da Paz», foi o título que lhe valeu a sua intervenção, feita de bondade, tenacidade, esforço e inteligência, em prol da concórdia e da tolerância. Graças à sua intercessão foi possível por diversas vezes encontrar uma solução que não a das armas. Assim aconteceu entre seu marido e seu cunhado, o infante D. Afonso, irmão mais novo de D. Dinis; entre seu irmão, Jaime II, rei de Aragão, e seu genro, Fernando IV, rei de Castela, casado com sua filha D. Constança; entre seu pai, Pedro III, rei de Aragão e da Sicília, e o rei de Nápoles, Carlos II; entre seu marido e seu filho, D. Afonso, casado com D. Beatriz, irmã do rei de Castela – temendo o infante ser afastado do trono por seu irmão ilegítimo, D. Afonso Sanches.
 
Procissão da Penitência.
 
Em favor dessa mesma paz, chega a atravessar sozinha os campos de batalha e a caminhar numa procissão em Santarém descalça e vestida de penitente. Culta, incansável, formosa, sem uma queixa, sofre as infidelidades D’el-rei D. Dinis, adoptando e educando os seus filhos bastardos, que aceita como legítimos herdeiros.
 
Em 1325, anonimamente, vai como peregrina a Santiago de Compostela, misturada entre os humildes, comendo do pão que lhe ofereciam e ajudando a transportar as crianças ao colo. No regresso, após ter deixado dádivas valiosas ao santo apóstolo São Tiago, traz consigo, oferecidos pelo arcebispo, o bordão e a esclavina (espécie de cabeção usado sobre a túnica pelos peregrinos que se deslocavam em romagem a Santiago de Compostela), que guarda religiosamente.
 
                                              
                                   Imagem da Rainha Santa no interior da Igreja de Santa Clara-a-Nova.
 
Nas deslocações que fazia levava consigo o seu oratório pessoal, acompanhada pelos sacerdotes, que celebravam missa diária, observando a rainha a prática dos jejuns constantes e da confissão – e também da Sagrada Comunhão em alturas especiais.
 
Após a morte de seu marido, veste um hábito assemelhado ao de monja franciscana, corda grossa atada à cintura e a cabeça real envolta em panos de linho, e muda-se para o Mosteiro de Santa Clara. Assim passa os onze anos de viuvez, até à sua morte, ocorrida em Estremoz.
 
Em Junho de 1336, com 66 anos, ao saber que havia sido declarada guerra entre seu filho D. Afonso IV, o Bravo, rei de Portugal, e seu neto, Afonso XI, rei de Castela, segue em direcção ao Alentejo, para tentar pôr fim às hostilidades entre ambos. Devido à fatigante caminhada e ao excessivo calor, a rainha chega exausta e adoece. Morre poucos dias depois, a 4 de Julho.
   
Túmulo primitivo da Rainha Santa Isabel, executado por Mestre Pêro (1330)        
 
No dia 11 de Julho (sete dias durou a viagem de regresso) o corpo da Rainha Santa Isabel dá entrada no Mosteiro de Santa Clara – por si reedificado, ampliado e sagrado em 1330 – para nele ser depositado num túmulo de pedra. Em 15 de Abril de 1516 é beatificada pelo papa Leão X. Em 21 de Janeiro de 1556 o papa Paulo IV estende o seu culto a todo o País. A 26 de Março de 1612, ao abrir-se o túmulo, verificou-se que o seu corpo se encontrava incorrupto. Em Maio de 1625 é canonizada solenemente pelo papa Urbano VIII, que a considera «uma das mais perfeitas mulheres da Idade Média». Nesse mesmo ano (14 de Outubro) o rei Filipe III declara-a «Padroeira de Portugal».
 
Claustro do Convento de Santa Clara-a-Nova.
 
Por ruína total do mosteiro, cuja primeira pedra tinha sido lançada em 28 de Abril de 1286, el-rei D. João IV manda construir em 1649 o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, localizado cerca de um quilómetro acima do primeiro, num dos pontos mais altos da cidade de Coimbra. Para ali é trasladado o corpo da Rainha Santa Isabel em 29 de Outubro de 1677. Mas como o mosteiro só é dado inteiramente por concluído em 1696, os seus restos mortais voltam a ser trasladados agora no seu belíssimo esquife de prata e cristal, desta vez para serem depositados, definitivamente, sobre o altar-mor da sumptuosíssima capela.
 
                   
 
O túmulo definitivo da Rainha Santa Isabel, em prata e cristal, exposto no coro baixo do  Mosteiro de Santa Clara a Nova.
 
No ano da sua beatificação (1516) são instituídas por D. Manuel I as Festas em Louvor da Rainha Santa Isabel que se realizam em Coimbra.
 
                    
 O PÃO E AS ROSAS - A LENDA
 
 
                      
                  Óleo sobre madeira, de autor Anónimo (século XVI), Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra.
 
 
Quando, certo dia, a Rainha Santa Isabel se dirigia ao Mosteiro de Santa Clara, levando consigo, para dar aos pobres, algum dinheiro e pão escondidos no regaço, encontra seu marido el-rei D. Dinis.
Não escapa ao rei a preocupação da rainha ao tentar esconder o pão que levava. Sem intenção de importuná-la, mas no desejo de enaltecer a bondade e modéstia extremas que faziam com que lhe ocultasse tão louvável como piedosa acção, perguntou-lhe o rei: «Que levais no regaço?» A rainha responde: «São rosas, senhor.»
Corria o mês de Janeiro e D. Dinis terá manifestado interesse em ver as rosas, colhidas em pleno Inverno. A rainha abre então o regaço e mostra as pétalas de seda de perfumadas rosas que lhe caíram aos pés.
 
Não terá sido por acaso que seu avô Jaime I lhe chamava «a rosa da Casa de Aragão».
 
 
Soledade Martinho Costa
                                           
 
Do livro «Festas e Tradições Portuguesas» Vol. IV
Ed. Círculo de Leitores
publicado por sarrabal às 00:25
link | favorito
De garatujando a 4 de Julho de 2009 às 16:20
Lição numa linguagem escorreita e acessível, sem dispensáveis pormenores que, por vezes, tornam fastidioso o estudo da História.
Numa visão transversal da época em que tiveram lugar os acontecimentos narrados ficam memorizados, sem esforço, dados elementares relacionados com a excelsa rainha evocada, figura das maiores e das mais veneradas da toda a História de Portugal.
O episódio conhecido como o "milagre das rosas" é contado com visível enternecimento, a demonstrar uma sensibilidade que transparece frequentemente naquilo que a SOLEDADE escreve.
Agradecimento por mais este belo texto.

Com admiração, o abraço do
Carlos Ferreira


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