Santo Amaro
Na ilha da Madeira celebra-se o dia de Santo Amaro (15 de Janeiro) de maneira particularmente festiva e cerimoniosa, colocando-se na mesa iguarias idênticas às do dia de Natal.
Casas tradicionais da ilha da Madeira.
Além de ser a data em que se desmancham os presépios ou lapinhas, decorre um pouco por toda a ilha da Madeira, no dia dedicado a Santo Amaro, um peculiar uso também ele alegre e festivo: «o varrer dos armários».
O ritual, recuperado em diversas localidades da ilha, varia, contudo, em relação à data da sua realização. Caso da Camacha, em que «o varrer dos armários», por tradição, tem lugar no dia de Santo Antão (17 de Janeiro), e de Câmara de Lobos, onde é celebrado no dia de São Sebastião (20 de Janeiro).
Aprender na escola a fazer a vassourinha e a pá.
Consiste a função em se juntarem nestes dias pequenos grupos de homens e mulheres – actualmente mais os jovens ligados a ranchos folclóricos e as crianças das escolas –, a fim de percorrerem as casas dos familiares, vizinhos e amigos (à semelhança dos «janeireiros» ou dos «reiseiros»), para entoar cânticos alusivos, acompanhados por bombos e violas.
Vassourinhas e pás nas mãos das crianças.
Munidos de uma vassourinha e de uma pá, para varrer os ditos, acontecendo que, por vezes, o fazem mesmo «para dar sorte», costumam (ou costumavam) levar uma saca destinada a arrecadar pequenas ofertas, geralmente bolos e doces.
A arte do vime, artesanato da Camacha.
Este costume serve, principalmente, para estreitar laços de boa vizinhança e de convívio, para se trocarem ditos e graças, sendo também motivo para se oferecer aos «vassoureiros» ou «varredores» (que em certas localidades continuam a apresentar-se mascarados), «a mesa posta com bolinhos e bebidas finas».
Festa de Santo Amaro, Camacha.
Na Camacha, a festa de Santo Antão, também designado ali por Santo António de Abade, começa na «igreja antiga», festivamente enfeitada com camélias, açucenas e verdura, como o alegra-campo. Há missa e procissão, seguindo-se no adro da igreja o «ofertório» com produtos da terra e animais. Logo depois, no próprio adro, é a vez dos «tocares e dos cantares tradicionais do varrer dos armários».
Lapinha de Natal, ilha da Madeira.
Os grupos começam então as suas visitas pelas casas, fazendo parte do preceito os anfitriões mostrarem aos visitantes as lapinhas, que são «desmanchadas nas casas após o santo Antão», enquanto os «vassoureiros», em troca, deixam nas casas «varridas» além das pagelas do santo, a vassoura ou a pá como presente, com a data do ano em curso.
Lapinha de Natal, ilha da Madeira.
«O varrer dos armários» é considerado como o prolongamento e encerramento das festas de Natal.
Rancho Folclórico da Casa do Povo da Camacha.
Canto tradicional dos «varredores» cantado no dia de Santo Amaro em diversas localidades da ilha da Madeira:
Vamos varrer a lapinha,
Deixai-nos entrar, Senhora,
Trazemos connosco a pá
E também uma vassoura.
Viemos de lá tão longe,
Do pé da terra dos alhos,
Trouxemos a vassourinha
Para varrer os armários.
Santo Amaro é bonito
É bonito não se o deixa
Para provarmos o vinho
Com cebolas de «escabecha».
Trazemos também connosco
Uma saca e uma pá.
Abra-nos a porta, Senhora,
Que queremos varrer já.
Soledade Martinho Costa
Do livro “Festas e Tradições Portuguesas”, Vol.I
Ed. Círculo de Leitores.