Era uma vez uma menina com olhos azuis e cabelos loiros, era bonita, tinha a face com sardas que pareciam pepitas de oiro. Tinha o nariz arrebitado e uns lábios tão vermelhos como o sangue. Era muito magrita e tinha umas mãos tão suaves que quando agarrava nas coisas, elas pareciam ter vida. Tinha umas pernas de modelo e era branquinha como a neve. Era querida, doce, ternurenta e ajudava sempre os outros. Os seus olhos eram alegres como uma festa em movimento.
Um dia a sua mãe abandonou-a num velho bosque onde as árvores, os arbustos e as ervas formavam um tom de verde nunca antes visto. Havia muitos eucaliptos e pinheiros; havia arbustos com bagas, como amoras e fambroesas; também havia flores, como tulipas, rosas, margaridas e girassóis. Tudo isto formava uma beleza incomparável e um perfume maravilhoso, uma mistura de celestial com um cheiro forte. No bosque havia uma ribeirinha com água transparente e cristalina. Os peixes que lá nadavam eram coloridos e animados, havia rochas reluzentes que brilhavam com o Sol.
Na noite em que a mãe da menina de olhos azuis, que era assim que se chamava porque não tinha nome, a deixou no bosque estava a chover e ela ainda tinha oito anos. Ficou abrigada no único carvalho que havia no bosque.
De manhã estava uma brisa matinal que despertava as flores com um toque musical. Mas mesmo assim, estava uma atmosfera triste porque a menina de olhos azuis estava a chorar. Os poucos veados, os coelhos e os rouxinóis tentavam animá-la com festinhas na face com sardas. A menina de olhos azuis animou-se e construiu uma casinha com madeira. Comia bagas, bebia água da ribeirinha e tinha a companhia dos animaizinhos. Vivia feliz e assim viveu durante dez anos.
Num dia de Sol, a menina de olhos azuis viu uma velha. Esfregou os olhos para ver melhor, mas a velha tinha desaparecido. A menina de olhos azuis foi ver o sítio e foi engolida pelo chão. Depois perdeu os sentidos.
Quando a menina de olhos azuis acordou estava num templo: uma sala espaçosa com grandes pinturas nas paredes de guerreiros e deuses. Os desenhos tinham cores fortes e havia um toque dourado que dava magia à sala. De repente a porta abriu-se e dois homens corpulentos com máscaras e pinturas na cara, atiraram a velha para a sala e depois fecharam a porta com estrondo. A menina de olhos azuis perguntou à velha:
- Quem é você?
- Isso agora não interessa, temos que sair daqui. Há um buraco ali ao canto. Vamos!
A menina de olhos azuis e a velha foram de cócoras e passaram pelo buraco. Mas a menina de olhos azuis tinha uma sensação esquisita, ela sabia que já conhecia aquela cara. Quando já iam a fugir, os dois homens apareceram e disseram:
- Vocês estão…
Mas quando olharam aqueles olhos azuis da cor do mar, eles começaram a prestar vassalagem à menina de olhos azuis e a velha disse:
- Ah! Já me esquecia que tu tinhas olhos azuis.
- O quê? Alguém me explica o que se está a passar?
- Não me reconheces?
- Mãe! – Gritou.
- Filha! – Gritou também.
Abraçaram-se carinhosamente e depois a mãe disse:
- Vamos para o templo e comemos algumas especiarias enquanto eu te conto o que aconteceu.
Entraram no templo e comeram ervas com chá e a mãe da menina de olhos azuis disse:
- Eu meti-te neste bosque porque não conseguia tratar-te bem. Quando eu fui embora eu fui sugada pelo chão e fui dar a este templo. Estes dois homens disseram que me iam condenar à morte se eu não lhes procurasse comida. Por isso é que me viste no bosque. Com os dez anos que foram passando eu aprendi a língua deles e as lendas. Havia uma lenda que um dia uma menina de olhos azuis os iam salvar da fome e tem graça que eles davam um nome igual ao que eu te queria dar! Evolet. Percebes agora, minha querida filha?
- Sim. Evolet…Que bonito nome!
A partir daí Evolet e a sua mãe viveram felizes no velho bosque e Evolet trazia sempre comida para os dois amigos do templo.
Isto é uma lenda: a lenda da menina dos olhos azuis.
Rafael, o escritor (9 anos) – texto não corrigido.