O lusco-fusco instala-se. Batem novas badaladas na torre da igreja. Os homens e as mulheres regressam da faina do campo. Das chaminés, começa a sair o fumo que anuncia a ceia. Os pastores, chegam com os seus rebanhos e encaminham-se para o redil. Amanhã será um outro dia de trabalho. Agora, é preciso comer e repousar. E que bem sabe a sopa, a broa, o queijo e as azeitonas! Mas as tarefas lá estão, do lado de fora das paredes que os abrigam, à espera das mãos, dos braços, do esforço e do suor. Porque a terra necessita de amanho, as árvores de cuidados, as plantas e os animais do zelo que os fará medrar. E enquanto os filhos já dormem, os homens e as mulheres falam dos afazeres que os aguardam durante os meses do Outono. Do lavrar da terra para nela semearem o trigo e a cevada. Do mel e da cera que terão de recolher das colmeias. Da vinha, a precisar de ser escavada e estrumada. Do cortar das canas e dos ramos secos e apodrecidos das árvores. Do feno, na altura de ser guardado, para servir de sustento ao gado no Inverno. Da apanha da castanha. Dos vinhos, na fase de serem vigiados nas adegas. Da horta, onde irão semear as couves, as ervilhas e as favas. Dos cravos, dos goivos e da alfazema, que vão semear e plantar nos canteiros, para alegrar e perfumar a entrada das casas.»
Soledade Martinho Costa
Do livro «Histórias que o Outono me Contou»
Ed. Publicações Europa-América
Com a chancela da Porto Editora, trata-se de um livro/jogo, cujos textos, em verso, foram publicados, pela primeira vez, repartidos por uma colecção de 6 livros. Perdi a conta às reedições. A chancela pertenceu sempre às Publicações Europa-América. Alguns dos textos foram agora retirados e acrescentadas novas adivinhas, formando, a colecção, um único livro. No total, contamos com 70 textos, num livro cartonado e profusamente ilustrado. Concebido, graficamente, de maneira criativa e original, irá agradar, certamente, aos pequenos leitores - como tem agradado ao longo destes anos.
Feito no estrangeiro (em Portugal não seria possível), com uma tiragem de 5.000 exemplares, só não sei, ainda, o nome do ilustrador. Provavelmente, nem virei a saber. Estas edições costumam ser efectuadas por empresas especializadas neste género de obras, não sendo revelado o nome do ilustrador. Veremos se, entretanto, consigo saber - porque bem o merece.
Soledade Martinho Costa
«Em 1979, como independente, fui mandatária concelhia de Maria de Lourdes Pintasilgo, pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Coube-me recebê-la, quando visitou aquela cidade ribatejana. Acompanhei-a, nesse dia, a várias localidades do concelho, e, à noite, estive presente e participei numa sessão de propaganda e esclarecimento. Admirava Maria de Lourdes Pintasilgo, pela sua inteligência, simpatia e simplicidade. Daí ter aceite o convite. Vi-a, depois, como a primeira mulher a ocupar o cargo de primeiro-ministro de Portugal, embora por pouco tempo, em governo de gestão. Mas não gostei da política vista por dentro. Em 1986, apoiei a campanha de Mário Soares, a convite de alguns elementos do seu partido. Fiz parte da comissão que o recebeu quando visitou Alverca do Ribatejo. Mas não gostei da política vista por dentro. Em 1997 fui apoiante de Zita Seabra, a seu pedido pessoal, quando da sua candidatura à presidência da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Mas não gostei da política vista por dentro. Há dias, diz-me a minha neta, Maria Teresa, a caminho dos quinze anos: – Quando entrar para a faculdade, vou estudar para o estrangeiro, talvez para Londres, eu e o mano. E acrescentou: – Depois do curso, podemos ficar em Londres, ou ir para outro país. Em Portugal é que não dá vó, não dá. Aqui não se tem futuro, não podemos realizar os nossos projectos. Lembrei-me, então, dos métodos dos bastidores da política que presenciei, anos atrás. A preocupação e a tristeza fizeram descer sobre mim a capa da antecipação. Os avós da Teresa e do Rafael, assim como os seus pais, não tiveram necessidade de sair de Portugal em busca da estabilidade económica e da realização dos seus projectos. Herdeiros de um 25 de Abril, a Teresa e o Rafael terão de desligar-se da família para atingirem os mesmos objectivos. O meu país rouba-me os meus netos. Nega-lhes o futuro junto de mim. Mas os senhores que mandam no meu país continuam rodeados de todos os seus netos. As suas famílias estão unidas, não há desintegração. Quando muito, os seus netos estudam no estrangeiro. Mas voltam. Porque não têm necessidade de procurar o seu futuro longe dos pais e dos avós. Porque sabem que à sua espera têm um lugar garantido, que não os faz preocuparem-se nem com o seu futuro nem com os seus projectos. Eu estava certa: não gosto da política vista por dentro. Hoje, acrescento: muito menos por fora, vista deste espaço a que se dá o nome de País. Ou seja, avaliada do lado de cá da política.»
Soledade Martinho Costa
Do livro «Uma Estátua no Meu Coração»
Casas de Lisboa
Viradas ao Tejo
Vestidas de Sol
Com cortinas de renda.
Casas de Lisboa
Viradas ao Tejo
Que lhes conta segredos
De reis e de infantes
De audácias distantes
De naus e degredos.
Casas de Lisboa
Varandas amigas
De pardais e pombos
Com gente que fala
No jeito que temos
A Língua que somos.
Com gente que embala
Os sonhos esquecidos
Os sonhos perdidos
Na dança das ondas.
São pedras
Postigos
E portas fechadas
Janelas
Telhados
E degraus de escadas.
São muros
Mirantes
Jardins e calçadas
E tantos amantes
De vidas passadas.
Largos e igrejas
A lembrar fogueiras
Lendas verdadeiras
De um País amado
De um País saudade
De faces trigueiras.
E o que o Tejo diz
E o mais que lhes diga
Escuta-se no vento
Como em voz amiga.
Palavras que trazem
Alma marinheira
E a cor da cidade
No Cais da Ribeira.
Soledade Martinho Costa
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