«Ao ler as palavras de alguns autores que escrevem crónicas, […] não tenho dúvidas de que pretendem esconder-se (ou pensam que se escondem) atrás da muralha de vidro que construíram (ou pensam ter construído). Ocultam, dos outros, quem são e o que querem parecer que não são. Para gerir este dilema, metem ombros à escrita, onde a ternura, o afecto, os sentimentos, a saudade, o amor se misturam com as recordações, gratas ou menos gratas, que lhes fizeram companhia ao longo da vida. E repartem-na com os leitores, servindo-se das palavras. Com elas, cativam-nos, enternecem-nos, fazem-nos render às suas confissões, sem que tenhamos a certeza da sua autenticidade, da sua verdade, da sua honestidade enquanto escritores. Concordo que «o poeta é um fingidor», para citar Pessoa. A frase aplica-se a todos aqueles que escrevem. Ainda assim, continuo a acreditar que há um lado que alguns autores pretendem ocultar dos seus leitores, servindo-se de uma escrita inventada – não sendo, ainda assim, ficção. […] Porque muitos dos seus actos desmentem as suas palavras. Porque há um homem (ou uma mulher) por trás de todos aqueles que escrevem. Provavelmente, pretendem ocultar a sua verdadeira personalidade, servindo-se de uma escrita bem-formada e vendável, com receio da análise que de si possam fazer aqueles que os conhecem enquanto pessoas. Isto é, aqueles que conhecem o seu carácter. […] Com tudo isto, o que acontece? Acabam por ficar de frente para o espelho, onde se reflecte o tiquetaque do seu coração. Mas não se reconhecem. Inventam-se nas palavras que não sentem (ou sentem pouco), mas escrevem por decisão pessoal ou por necessidade. Acredito que sejam capazes de «representar» até nas lágrimas de certas crónicas. No caso de um autor, devo dizer que não acho feio, antes bonito, um homem chorar (mesmo na composição de uma crónica) se as lágrimas forem verdadeiras. […] chorar não é sinal de fraqueza, como é do conhecimento geral. Além disso, ninguém sabe melhor do que o próprio autor aquilo que escreveu e a razão por que o escreveu. Quero dizer, gostava de não ter dúvidas acerca daquilo que alguns autores escrevem – quando, principalmente, escrevem certo tipo de crónicas. Para ser mais sincera, gostava de não ter dúvidas a respeito de quem gosto de ler. Penso que não se pode nem deve mentir ao leitor. Embora o homem seja o homem, com todos os seus defeitos, e o mesmo homem seja um escritor de mérito.»
Soledade Martinho Costa
Do livro «Uma Estátua no Meu Coração»
À míngua da chuva
Que os não veste
Ao Sol se abandona
A flor e o fruto.
Só da cigarra vem
O som que despe
No calor que se abriga
Em seu reduto.
Assim eu te comparo
Artesã acolhida em teu recanto
Na frágil aparência que te cobre
A tecer a força das palavras
Que em nosso olhar se espelha
E se descobre.
Soledade Martinho Costa
Do livro a publicar «O Nome dos Poemas»
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