Há já uns bons anos li uma crónica do Miguel Esteves Cardoso, com o título «Os Nossos Professores Estão a Morrer». Não mais a esqueci. Dei-lhe razão. A maior parte deles, que muito nos ensinaram, com quem muito aprendemos, já não estavam nessa altura entre nós. Desde a data dessa crónica até hoje muitos e muitos mais «professores» deixaram de nos acompanhar. Tenho sentido isso quase a cada dia que passa. Uns por doença, outros devido à muita idade e aos problemas que se colocam pelo avançar dos anos. Mas são também os mais novos a fazer parte dessa extensa lista. Isso, talvez seja o que mais me dói. O que mais me inquieta. No meio de tanta tecnologia, de tanta investigação científica, de tanta e diversificada descoberta para atacar as doenças que nos atingem, parece que nada acontece. Que as mortes, principalmente, por motivos oncológicos, são cada vez em maior escala: figuras públicas, gente anónima e, sobretudo, familiares e amigos – aqueles cuja doença nos atinge mais profundamente. E nós impossibilitados de lhes valer. E nós de pés e mãos atados perante o seu sofrimento, o seu medo, a sua antevisão perante a morte.
Às vezes não sei onde ir buscar força para dar força a quem está em tal situação. A precisar de ânimo, de confiança, de fé, de esperança. Faltam-me as palavras. Chegam, mesmo, a não existirem palavras. Esgotadas ou não, ou até inexistentes. Soube, há momentos, de mais um caso. Que me toca de muito perto e que quiseram ocultar-me. Para não me preocupar, para me deixarem fora de mais um drama. Coisa que não quero, que não aceito, mesmo que a intenção seja a de me protegerem.
Mais um seio amputado a uma amiga. Uma mulher jovem: 54 anos. Uma mulher a quem rendo aqui a minha homenagem pela coragem demonstrada, pela obstinação na cura, pela força de ocultar do próprio pai a doença de que foi vítima. E diz: «Mais sofrem a minha mãe, o meu marido e a minha filha. Sofro mais por eles do que por mim!»
Mas não é apenas este caso a preocupar os meus dias, o meu coração, o meu pensamento. Tenho mais quatro amigos na mesma situação. Amigos de há muito. O mais velho (68 anos), com poucas possibilidades de vida, os outros três bem mais novos. Dois amigos e uma amiga. Ela apenas com 27 anos! Qualquer um dos casos é muito grave. E eu aqui, a pensar nos dias felizes na sua companhia, que já não voltam. E, se voltarem, não mais serão iguais ao que foram. Não mais serão como dantes. Dias despreocupados, tranquilos, sem nuvens a toldarem o nosso olhar. Sem nós na garganta, sem sobressaltos nem angústias a perseguirem-nos, a macular o céu dos nossos dias. Daqui em diante, esperam-nos, numa teima feita de dúvidas, a pergunta constante: se a tormenta terá passado completamente.
Depois, faço o somatório e a lista nunca mais acaba. Tantos amigos que já partiram, mas tantos! Todos com a mesma doença. Mais os amigos do que os familiares. Familiares, dois. Amigos, nos poucos últimos anos, nove. No meu prédio, cinco amigos de longa data: mais de trinta anos de convívio e amizade. Serei eu que digo agora: «Os nossos amigos estão a morrer!»
A notícia que recebi esta tarde, deixou-me sem ânimo, destroçada, direi. Mas irei buscar força à força da minha amiga, que parece tê-la para dar e vender. Caiu-lhe o cabelo completamente ao primeiro tratamento de quimioterapia. Há casos assim. Usa agora uma peruca, tão perfeita que, ao falar da sua doença, respondem: «Olha, tiveste sorte. Nem o cabelo te caiu!» Amanhã vai de férias. Mas eu sei que lá num cantinho bem escondido da bagagem vai a incerteza a lutar, numa luta desigual, com a sua força, a sua tenacidade e a sua coragem – a lutar por ela própria e, especialmente, pela sua única filha. Vais vencer minha querida!
Nota - Este texto foi escrito de uma assentada. Emocionada e com o coração ao pé da boca. Mas nem todos os casos são irreversíveis. Tenho uma amiga a quem retiraram um seio há mais de nove anos e que está óptima.
Soledade Martinho Costa
Desde tempos remontíssimos que a fé universal da Igreja afirma que a Virgem ressuscitou como seu Filho e como ele não permaneceu na Terra, erguida aos céus à semelhança da graça e privilégio que lhe foram concedidos «antes do parto, no parto e depois do parto», como Mãe de Deus. Ou seja, «que a Imaculada Sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrena, foi assumpta em corpo e alma à Glória Celestial».
Soledade Martinho Costa
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