São os meus votos para 2014 - se possível. Pelo menos, com saúde e tudo o que de bom desejarem. Pode ser pedir muito, mas a esperança nunca morre (dizem)!
Soledade Martinho Costa
«Adoração do Menino», Correggio
Embora indecisa nas palavras a enviar este ano aos meus leitores, não posso esquecer que se festeja o Nascimento de Jesus Cristo. As palavras utilizadas em anos anteriores, nesta quadra («Feliz Natal», «Boas Festas», «Prosperidades»), a meu ver, não se ajustam, actualmente, ao verdadeiro Natal de todos nós. Assim, limito-me a desejar que passem este Natal/2013 da melhor maneira, com saúde e esperança. Outros Natais hão-de vir e com eles os anteriores votos: Felicidades, Alegria, Boas Festas, Prosperidades. Nada é eterno: nem o bom nem o mau.
Soledade Martinho Costa
Onde a magia dos Natais de outrora
O presépio dos olhos da infância
São José, a Virgem, o Menino
Figuras modeladas
Quase gente
A mostrar-se ao espanto
Dos pastores que vinham
Em fila pelo musgo dos caminhos
Para ofertar cordeiros e presentes.
Onde a azáfama do rumor das mãos
Nos alguidares de barro onde a farinha
A abóbora, os ovos, o fermento
Tomavam forma e gosto tão distantes.
Aonde o sono arredio que não vinha
Nessa Noite Sagrada em que os pinheiros
Choram saudades de bosques e de estrelas
Sob a caruma de luzes e de enfeites.
Onde o mistério que seguia os passos
Dos adultos no ranger das tábuas
Em nossos passos furtivos de criança
Na ânsia de encontrar em qualquer canto
De barbas e de saco o Pai Natal.
Quantos Natais assim em que a Família
Se reunia inteira à grande mesa
Da sala de jantar tão velha e gasta
Mas que nessa noite por magia
Transformava em cristal os vidros baços.
Quantos presépios retidos na memória
Quantos aromas ainda a Consoada
Quantos sons a deixar nos meus ouvidos
Os risos, os beijos, os abraços.
Quantas imagens cingidas na penumbra
Desta lembrança que se fez saudade
Dos rostos, dos gestos, das palavras
Na lonjura das vozes e da Casa.
Noite Divina em que torno a ser criança
Ante o meu olhar adulto e me desperto
Na emoção que nos traz os anos:
O meu Natal é hoje mais concreto
Mas muito menos belo e mais deserto.
Soledade Martinho Costa
Têm lugar entre o dia 24 e 25 de Dezembro, propostas pela Igreja no seu Missal, no entanto, sem a obrigação de serem celebradas. As suas designações, pela respectiva ordem, são as seguintes: Missa da Vigília (instituída em Roma na segunda metade do século V, celebrada na tarde do dia 24, que representa a preparação para o dia de Natal, com o cântico: «Hoje sabereis que o Senhor vem salvar-nos. Amanhã vereis a Sua Glória»); Missa da Meia-Noite, ou Missa do Galo, a mais popular, chamada, antigamente, Missa do Cantar do Galo – gallicantum (instituída pelo papa Telésforo no século II, celebrada para anunciar o nascimento de Cristo, que a tradição diz ter sido à meia-noite, embora não se saiba a hora exacta desse momento); Missa da Aurora, ou Missa da Luz, mais conventual (celebrada ao romper do dia, em analogia ao Sol, a lembrar que Cristo representa o símbolo da luz), e a Missa do Dia (celebrada no dia de Natal, independentemente da hora, considerada a mais solene e importante em louvor do nascimento de Jesus).
A designação Missa do Galo, advirá, supostamente, das antigas vigílias efectuadas pelos cristãos, que se prolongavam até de madrugada, altura em que o canto dos galos se fazia ouvir. Na liturgia bracarense da Idade Média, uma das missas de Natal celebrada por essa época é citada, exactamente, como a Missa dos Galos – pollurum. Hoje, em Braga, à semelhança de outras localidades do País, celebram-se três missas, visto a Missa da Aurora (à excepção dos Açores e da Madeira) ter passado a ser efectuada apenas nos conventos.
Na ilha de São Miguel (Açores) celebra-se a Missa da Vigília, a Missa do Galo e a Missa da Aurora (oito horas e trinta minutos da manhã) – chamada, popularmente, em certas freguesias, Missa da Galinha, em analogia à Missa do Galo –, além da Missa de Natal no dia 25 (onze horas da manhã).
No Funchal (Madeira) a liturgia das missas de Natal tem início no dia 16 de Dezembro com uma novena (as Missas do Parto) a decorrer até ao dia 24, celebrada diariamente entre as cinco horas e trinta minutos e as seis horas da manhã. Neste cerimonial religioso (sempre grandemente participado), antes de cada missa são entoados uma ladainha e cânticos de louvor a Nossa Senhora, seguindo-se a missa, também ela acompanhada por cânticos religiosos de cariz popular – as «loas ao Menino», muito conhecidas e próprias da Madeira. Os cânticos, inspirados na Bíblia, diferem em termos de letra de localidade para localidade, embora as músicas se mantenham idênticas.
A liturgia natalícia na Madeira divide-se pela Missa da Vigília (na tarde do dia 24); Missa do Galo (meia-noite); Missa da Aurora, ou Missa dos Pastores (seis ou sete horas da manhã) e Missa de Natal (durante o dia sem hora certa).
Soledade Martinho Costa
In “Festas e Tradições Portuguesas”, Vol. VIII
Ed. Círculo de Leitores
Celebrado desde tempos remotos por todo o Ocidente, desde a Trácia até Cádis (toda a faixa europeia do Mediterrâneo), inclui nas suas festividades vários rituais que, segundo alguns autores, poderão representar reminiscências de antigas celebrações ligadas a Mitras, um dos génios do Masdeísmo, ou Espírito da Luz Divina, religião seguida pelos povos da antiga Pérsia – que admitia dois princípios, o do bem e o do mal, adoptada por Roma no século I a.C. –, e ao culto dos Politeístas Solares e à sua Festa das Luzes (o Khanu Ka), efectuada no solstício do Inverno. Os Romanos, sob a influência da devoção mitríaca chamavam ao Natal o Natalis Solis Invicti, ou O Dia do Sol, acendendo nesta data grandes fogueiras.
No Egipto, as primeiras comemorações do Natal (Festum Osirid Nati,ou Inventio Osiridis), tinham lugar, tal como as dos politeístas, no dia 6 de Janeiro, data que veio a corresponder à celebração do dia de Reis, quando no ano 54 se separou a Natividade (celebração do nascimento de Cristo) da Epifania, que englobava na sua origem a maior parte das celebrações a Cristo: o seu nascimento, a adoração dos Reis Magos, o seu baptismo, a sua vida e sofrimento na terra e os seus milagres, passando esta a ser consagrada exclusivamente aos reis.
A Igreja Católica decreta, entretanto, por suposição entre os anos 243 e 336, embora se aponte também o ano de 345, a celebração do nascimento de Jesus Cristo para o dia 25 de Dezembro, escolhido sem rigor histórico, devido à incerteza da exactidão da data, misturando-se assim os hábitos e praxes religiosas e profanas. Esta data acabou por ter correlação com o dia 25 de Março, dia da Anunciação do Senhor ou da sua Encarnação, a unir a natureza divina à humana, antecipados que foram no calendário, simbolicamente, os nove meses correspondentes. Celebrado no Oriente antes do ano 446, o dia da Anunciação do Senhor só veio a ser comemorado no Ocidente entre 687 e 701.
Liturgicamente, a festa do Natal é precedida pelo Advento, termo de origem profana, que simbolizava entre os povos pagãos a vinda cíclica do deus ou divindade, cuja imagem era exposta no respectivo templo nas datas que lhe eram consagradas para adoração dos fiéis. Na liturgia romana o Advento tem o seu começo no domingo seguinte ao dia 26 de Novembro, dando assim início ao ciclo religioso do ano eclesiástico. Para os primeiros cristãos o Advento significava a comemoração da aparição de Jesus Cristo na terra, enquanto a partir do século VI passou a representar o período litúrgico e preparatório das quatro semanas que antecedem o Natal, reveladoras da tão aguardada vinda do Messias – a Luz do Mundo.
Algumas das festividades natalícias poderão resultar, igualmente, das Saturnais, festas realizadas em Roma entre o dia 17 e o dia 23 de Dezembro, em louvor de Saturno, importante divindade agrária, quer pelo sentido de bondade e tolerância que as Saturnais implicavam, quer pelas celebrações alimentares conjuntas verificadas nessa data.
Soledade Martinho Costa
Do livro «Festas e Tradições Portuguesas», Vol. VIII
Ed. Círculo de Leitores
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