Mestre castor
Quer construir a sua toca.
Pé ante pé
Aproximou-se da beira-rio.
Sentou-se um pouco, pôs-se a pensar.
Pensou, pensou e decidiu:
- Vou construir a minha toca junto do rio.
É bom lugar: tem água fresca
Folhas de choupo e ricos peixes para pescar!
E sem demoras
Como se fosse um arquitecto
Vá de traçar uma planta
Dos alicerces até ao tecto.
Depois, com jeito
Igual à arte dos carpinteiros
Ei-lo a serrar e a cortar troncos inteiros.
Serra que serra
Corta que corta
Coloca aqui
Retira além
Mestre castor
Lá vai, lá vai
Devagarinho
Sem usar pregos
Nem o martelo
Fazendo o ninho
Que até possui
Porta secreta
Como um castelo!
Obra acabada
Mestre castor
Pé ante pé
Aproximou-se da beira-rio.
Sentou-se um pouco, pôs-se a pensar.
Pensou, pensou, olhou a margem e decidiu:
- Vou construir uma barragem!
Mestre castor aqui lhe rendo minha homenagem:
Não vi ainda trabalhador com mais coragem!
Soledade Martinho Costa
Do livro «Um-Dó-Li-Tá»
Ed. Vela Branca
Singular celebração em honra de São Bartolomeu, tem lugar na Foz do Douro (Porto), onde o santo continua a ser festejado, não apenas com o banho ritual na praia, mas também com o tradicional cortejo de São Bartolomeu – mais conhecido pelo Cortejo do Trajo de Papel.
O desfile percorre algumas das ruas da freguesia, com centenas de figurantes, onde as indumentárias de cada um são os famosos trajos em papel de diversas cores, num misto de criatividade, beleza e colorido. Executados com sabedoria, paciência e imaginação, os fatos representam o desejo de não deixar morrer a antiga praxe, mantida até hoje com o mesmo entusiasmo, alegria e empenhamento pelas gentes da Foz. A iniciativa e a realização dos festejos (ao que parece únicos no nosso País), cabem à Junta de Freguesia, conjuntamente com as várias associações e colectividades culturais e de recreio da Foz do Douro.
Os trajos de papel, que podem ser actuais ou terem por modelo épocas passadas, conforme o gosto e imaginação dos seus autores ou de quem os veste, representam a nota dominante deste inusitado cortejo. O desfile processa-se todos os anos, para terminar no banho colectivo dos participantes e do povo que se lhe junta – este ano na praia da Senhora da Luz. Desta peculiar maneira, o banho santo poderá significar uma oferta ritual, simbolizada nos belos trajos de papel às águas do mar, tendo por objectivo receber os favores de São Bartolomeu, isto é, a profilaxia redentora do banho milagroso que irá livrar de maleitas durante o ano inteiro. Cada uma das associações e colectividades de recreio poderá escolher, anualmente, um tema alusivo, a apresentar depois pelo grupo que a representa no respectivo desfile.
Passeio Alegre.
O cortejo, que inclui carros alegóricos, sai pela manhã do primeiro domingo mais perto do dia de São Bartolomeu, celebrado a 24 de Agosto (caso este não calhe a um domingo). Este ano a saída está prevista para a Rua do Passeio Alegre – embora noutros anos tenha sido escolhido o Castelo ou Forte de São João Baptista –, sempre com um número incontável de pessoas concentradas no local, acompanhado pela Banda Marcial da Foz, para finalizar no banho santo, com os fatos de papel a serem oferecidos às ondas.
A origem da festa, considerada a mais original depois do São João no Porto, é anterior a 1869, sabendo-se que, por esses tempos, era costume acorrerem à Foz ranchos de romeiros para tomarem o banho santo redutor dos «endemoninhados» e profiláctico da epilepsia, da gaguez e do medo.
Em simultâneo efectua-se uma feira de artesanato (a incluir atribuição de prémios), com a duração de onze dias, a decorrer no Jardim do Passeio Alegre, para «incrementar o artesanato nacional», vendo-se algumas dezenas de artesãos vindos de todo o país, muitos deles a trabalhar ao vivo, embora o certame inclua algum artesanato internacional «sempre creditado pela sua qualidade».
Jardim do Passeio Alegre.
Os visitantes contam-se por milhares, não faltando a animação diurna e nocturna: teatro, música (orquestras, bandas filarmónicas e conjuntos musicais), folclore e desporto, a dar mais brilho e animação aos festejos. Realiza-se também uma missa solene celebrada na Igreja Matriz de São João Baptista.
Nicho da frontaria da Igreja Matriz de São João Baptista
A crença popular no banho santo, essa continua a persistir entre as gentes da Foz do Douro, quando afirmam que «o banho no dia de São Bartolomeu vale por 24», ou que «têm de ser 7 os mergulhos por cada banho no mar». Não excluindo a ideia de que o número de banhos «deve ser 9» – a lembrar que desde sempre este número corresponde às novenas realizadas nas igrejas, a preceder as festividades litúrgicas.
Assentes em características supersticiosas, de devoção ou crença do povo, ainda hoje se acredita que o banho de mar tomado no dia 24 de Agosto «serve de cura e prevenção contra todo o mal», sendo o malefício do «Moço» (Demo) «exorcizado pela acção da água tornada miraculosa neste dia pela virtude de São Bartolomeu», com os banhos no mar a curarem «o corpo e a mente se forem tomados consoante o preceito» - a testemunhá-lo, lá estão os banhistas no «dia do diabo à solta».
De acordo com a tradição local e com as histórias que o povo tece, São Bartolomeu foi morto e deitado ao mar, aparecendo o seu corpo nas águas da Foz no dia 24. Daí, a tradição do banho e a veneração as santo, eleito padroeiro dos banheiros.
ORAÇÃO A SÃO BARTOLOMEU CONTRA OS MEDOS:
São Bartolomeu me disse
Que dormisse
E que velasse
E que nenhum medo tomasse
Nem da onda
Nem da sombra
Nem também do pesadelo
Ele tem a mão furada
E a unha recortada
Quatro cantos tem a casa
Quatro cantos tem o leito
Quatro anjos me acompanhem
Sempre dentro do meu peito.
Soledade Martinho Costa
Do livro «Festas e Tradições Portuguesas», Vol. VI
Ed. Círculo de Leitores
Este post é dedicado à minha neta mais pequenina, a Xana (também conhecida pelo «Cheirinho»), que completa hoje o seu primeiro aniversário! Aqui te deixo, minha «terceira imperatriz», o desejo de que o teu futuro seja uma estrada plana, linda, onde possas caminhar em segurança, com saúde e alegria. Que o dia do teu primeiro aninho traga com ele toda a felicidade do mundo repetida ao longo de muitos e muitos anos, minha querida! Mas quem vai divertir-se mais neste aniversário é, de certeza, a tua mana Soli! Tu ainda és tão pequenina, meu amor…
Beijinhos mil da avó Sol
«Assunção da Virgem Maria», Murillo, Museu Hermitage, São Petersburgo, Rússia.
A morte da Virgem Maria terá ocorrido, supostamente, antes da dispersão dos apóstolos, situando a tradição antiga, quer escrita, quer arqueológica, o seu falecimento no monte Sião, na mesma casa em que Jesus celebrou os Mistérios da Eucaristia e onde se deu a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos.
A casa foi chamada a primeira Igreja de Santa Maria do Monte Sião. Hoje, numa parte da área que a basílica ocupou, ergue-se a Igreja da Dormição, consagrada em 1910, que se avista de todos os pontos de Jerusalém.
Igreja da Dormição, Jerusalém.
O sofrimento da Virgem desde a morte de seu Amado Filho, deixara-lhe marcas profundíssimas. Teria cinquenta anos quando Cristo subiu aos Céus e pouco mais de sessenta quando ocorreu a sua morte (a que se dá o nome de Dormição). Sobre esse acontecimento, escreveram São Bernardo e São Francisco de Sales: «…morte que mesmo os anjos desejariam se fossem capazes de morrer.».
Desde tempos remotíssimos que a fé universal da Igreja afirma que a Virgem ressuscitou como seu Filho e como ele não permaneceu na Terra, erguida aos Céus à semelhança da graça e privilégio que lhe foram concedidos «antes do parto, no parto e depois do parto», como Mãe de Deus. Ou seja, «que a Imaculada Sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrena, foi assumpta em corpo e alma à Glória Celeste». Esta solenidade (Assunção da Virgem Santa Maria) advém de uma liturgia local praticada em Jerusalém, introduzida no século VI na liturgia bizantina e depois em Roma, um século mais tarde.
Basílica de Santa Maria Maior, Roma
A Basílica de Santa Maria Maior, também designada por Basílica Liberiana ou Basílica de Nossa Senhora das Neves, uma das maiores basílicas patriarcais dedicadas à Virgem Maria, situada na colina Esquilino (uma das sete colinas de Roma), divide, até hoje, a opinião dos historiadores. Enquanto uns admitem ter sido construída durante a vigência do papa Sisto III, entre 432 e 440, dedicada ao culto de Maria Mãe de Deus, cujo dogma da Divina Maternidade fora declarado no Concílio de Éfeso (431), outros sustentam que a sua fundação remonta ao pontificado do papa Libério (352-366). Sisto III, durante a sua vigência, tê-la-à dedicado, então, à Virgem Maria depois do Concílio. A Basílica de Santa Maria Maior é considerada o mais antigo e importante templo mariano do Ocidente.
A definição dogmática da Assunção Corpórea de Maria ao Céu foi proclamada em 1950.
Soledade Martinho Costa
Da autoria da minha Amiga Maria Júlia, recebi o poema «Cavalinho Azul».
Com muito gosto o publico aqui, no Sarrabal.
Soledade Martinho Costa
Finalmente, ganhaste corpo e forma
E te deixaste materializar
Só nos meus 50 anos
Te posso visualizar
Mas surges como excelso presente.
Sempre te pressenti
Desde os castelos de cristal
Das ilhas de coral da minha infância
Fogoso e fugidio eras marinho
Esbelto cavalinho.
Pressenti-te depois
Eras o nobre chefe
Do pelotão de cavalaria
Dos meus soldadinhos de chumbo
De aprumada e digna infantaria.
Pressenti-te
De azul flamejante
Galgando medonhas fortalezas
Conduzindo garbosos príncipes
Ao doce beijo das suas princesas.
Ó cavalinho azul de sonho, quanto te prezo
Quase te toquei na cavalaria austríaca
Junto da imperatriz Sissi
Mas fugiste-me e já não te vi
Nunca mais, desde aí…
Só de onde a onde
Vagamente
Te pressenti
Divisando somente a tua silhueta
De azul já esbatido
Desmaiou o teu azul
Por algum – tanto! – tempo
Que tempo doentio, tempo lixo
Mas vislumbro-te depois, agora
Como magnífico pássaro.
Pássaro de grandes asas azuis
Brilhantes, a reflectir o sol chamejante
Dos meus heróis
Viriato, Isabel, Nuno Álvares, Joana d’Arc, João de Deus
E tantos outros reflexos teus.
Passei a viver deslumbrada, extasiada
Não querendo saber de mais nada
A não ser ser transportada
Nas tuas asas azuis
De pássaro de voo plano
Pássaro olhando o Mundo e o Humano
E transformar-te, meu perfeito cavalinho
De corpo esbelto e elegante, esvoaçante
Em cavalinho materializado, meu amigo, meu aliado
Meu cavalinho sonhado.
És tão azul e tão sublime
Que temo tocar-te e esbater ainda mais a tua cor
Limito-me a ver-te com a reserva de certa distância
Basta-me a certeza
Da tua existência e constância.
E tu, corporizado cavalinho
Deixa que te toquem as crianças
Porque essas não te tiram a cor de azul infinito
Leva-as de passeio
A viajar, a sonhar.
Não te importes que os adultos
Descrentes
Te não vejam
Às vezes sentem-te, mas teimam em não te ver
Obstinados, doentes.
Ó meu cavalinho de Tróia
Ó meu cavalinho helénico
De estratégia vitoriosa
Aceita, abre as portas de par em par
Aos que têm a capacidade de crer
De te ver ou tocar
De sonhar.
Maria Júlia Pinheiro
Parabéns minha querida neta pelos teus 10 aninhos! Que tenhas um dia muito, muito feliz, aí no Algarve, meu amor. Espero que continues a escrever o primeiro volume da tal série de que me falaste. Para isso, é preciso trabalhar, minha «primeira imperatriz». Aproveita bem o teu tempo, agora que estás de férias. Já sei que tu e o mano têm aulas de surff e que «estão a adorar»! A avó depois quer assistir a uma exibição vossa, combinado?
Envio-te esta foto como prendinha virtual de aniversário. São ou não são uma gracinha estes dois bichanos frente ao televisor?
Mil beijinhos e muitas saudades da avó Sol!
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